Análise do inimigo: O Coringa

Nenhum outro inimigo neste mundo conseguiu atingir o grau de fama e insanidade que o Coringa alcançou. Saído diretamente dos quadrinhos, interpretado magistralmente nas telonas, este é um inimigo que não se subestima, não se vira as costas, não se afrouxa o cerco, tampouco devemos confiar em suas palavras. Com o Coringa, o caos e o perigo estão sempre por perto. Jack Nicholson e Heath Ledger deram ao Coringa uma face nos cinemas de formas distintas, mas potencialmente psicóticas e perversas.






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A autoria do Coringa é legada a Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane, mas é uma criação disputada. Kane disse em 1994 que ele e Finger conceberam o personagem e que a única coisa que Robinson fez foi trazer uma carta de baralho. Seja como for, o Coringa apareceu no primeiro número de Batman, em 1940, tornando-se o principal antagonista do herói, talvez aquele que mais deu trabalho a Bruce Wayne


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O Coringa não é alienígena, nem tem mutações em seu DNA. Ele não tem poderes sobrenaturais. Ele é humano, mundano, como seu principal antagonista, o Batman. Talvez seja esta a principal característica que o torna um dos maiores vilões da história, tendo sido reacendido e voltado para o topo com a sua última aparição incrível, feita por Heath Ledger. Com uma bizarra maquiagem e roupa roxa, cheio de traquinagens e piadinhas prontas, o Coringa faz alusão à esta carta do baralho, o bobo da corte, o piadista, o bem humorado, pronto para fazer as pessoas rirem.

O modo como ele se apresenta acredito ser o principal diferencial, pois o Coringa associa uma figura benigna e tola, como o bobo da corte, o palhaço, aquele que deveria fazer as pessoas felizes e a transforma em uma figura do mal, doente, capaz de tudo para atingir seus objetivos, capaz de jogar com as pessoas de uma maneira que poucos conseguem acompanhar e adotando isso como uma grande brincadeira, ou uma brincadeira séria. São várias as cenas em que mesmo apanhando, ele solta alguma frase irônica ou bem humorada, ou simplesmente dispara sua risada cômica. Essa imagem é um dos principais fatores de sucesso do personagem,

The Joker


A primeira aparição em Batman #1 - que foi depois recontada em 2005 na graphic novel Batman: The Man Who Laughs - mostra um vilão homicida, irônico, que deixa um sorriso macabro nas suas vítimas (como vimos no filme do Tim Burton, com Jack Nicholson no papel, quando ele envenena os produtos de beleza). Ele também diz que matará três proeminentes figuras de Gotham e deixa a polícia e o submundo da cidade em polvorosa com suas alegações. Lembrou do filme de Ledger? Na Silver Age dos quadrinhos do Batman, o vilão ganhou um ar mais de palhaço mesmo, sem os assassinatos e crimes bestiais que cometia antes. O uso do personagem diminuiu um pouco em meados dos anos 60, quando Julius Schwartz assumiu a editoria dos quadrinhos do Batman, em 1964. Foi só em 1973 que o Coringa voltou com força ao velho estilo cômico psicótico.

Por várias vezes, o Coringa foi dado como morto após quedas e acidentes, mas ele ressurgia depois de um tempo para infernizar a vida dos cidadãos e de Batman. Seus crimes sempre são brutais, violentos, grandiosos e nem sempre nosso herói Batman consegue acompanhar o raciocínio genial do seu principal antagonista. Se na série de TV ele era uma caricatura pouco convincente de vilão, foi apenas no último filme que conta com sua aparição que toda a maldade e a psicopatia dele são finalmente levadas ao máximo.

O Coringa é uma incógnita. Ninguém sabe de onde ele veio, não possui ficha criminal nem antecedentes, parentes, família. As bizarras cicatrizes que ele oculta com a maquiagem do palhaço são explicadas de várias maneiras diferentes. Em Batman: The Killing Joke (1988), uma possível origem lhe foi creditada: ele seria um comediante falido e sem sucesso, levado a cometer crimes para sustentar a esposa grávida. A interferência do Batman, causando-lhe as horríveis cicatrizes na face e a morte prematura da esposa teriam feito surgir o Coringa. Mas ele explica:

Às vezes eu me lembro de um jeito, ora outro... se eu vou ter um passado, prefiro que seja de múltipla escolha!

Coringa



Mas na verdade, nenhuma origem foi creditada. O mistério de não saber como que tal figura maquiavélica tenha surgido só o mantém no topo como um dos maiores vilões da história. Batman já considerou matá-lo uma vez quando o Robin em questão, Jason Todd é morto pelo Coringa. Seus modos de cometer crimes possuem uma pitada sádica já bem conhecida para o Coringa. Flores com ácido, cartas de baralho envenenadas ou afiadas como lâminas, charutos explosivos com nitroglicerina, tortas recheadas com cianureto, armas com tiro falso e faixazinhas escrito BANG! e, claro, o veneno que mata as pessoas de tanto rir. Sempre são piadas mortais, pegadinhas letais e o Coringa consegue ser imune a tudo isso.

Ele é muito inteligente, mais acima que a média, versado em química, engenharia e suas potencialidades, bem como explosivos - um queridinho entre seu arsenal. Ele não é bom lutador, o corpo a corpo sempre é de forma meio amadora, apesar de nos quadrinhos haver uma certa controvérsia, pois ele já foi mostrado como sendo ótimo no corpo a corpo.

Mas grande parte de seu sucesso se deve aos equipamentos escondidos em sua roupa e seus equipamentos malucos, o que costumam lhe garantir se não a vitória, pelo menos uma grande vantagem. Isso foi bem retratado nos quadrinhos e até no filme do Tim Burton, mas Heath Ledger abusa da força física, combustível, bombas, armas e poucos gadgets ou outras maluquices que aparecem nas HQs. Apesar disso, este último Coringa fez um sucesso maior do que o próprio herói.

Sua insanidade também é muito debatida. Um trauma familiar teria gerado tão grau de maldade, associada à sua inquestionável inteligência? Em Arkham Asylum: A Serious House on Serious Earth, de Grant Morrison, é sugerido que ele teria uma super-sanidade, um tipo de percepção extra-sensorial, da qual não teria conhecimento, que o torna dual: ele pode ser o piadista inofensivo ou o cruel assassino de acordo com o momento ou se aquilo irá beneficiá-lo ou não. Na saga Knightfall, o Espantalho usa um gás para que ficasse evidente qual era o maior medo do Coringa. O gás não teve nenhum efeito.


Podemos ver dois momentos importantes na história do Coringa:

  • 1940 até meados dos anos 60, incluindo a série de televisão, o Coringa é retratado como um ladrão inofensivo e piadista que irrita o Batman;
  • a visão de hoje é a que conhecemos, o sádico piadista assassino, gênio do crime, cuja função é tornar a vida do Batman um inferno.

Muitos expressaram interesse em interpretar o Coringa quando Nolan começou a escolher os atores. Mas Ledger, ao ver o filme Batman Begins percebeu como que o personagem deveria ser: um palhaço, assassino em massa, psicótico, esquizofrênico e com empatia zero. Na preparação para o papel, o ator ficou um mês isolado em um quarto de hotel, preparando a voz, a postura, a personalidade e mantendo um diário onde ele escrevia os sentimentos e percepções do personagem. Ledger submergiu no papel de Coringa, ignorando tudo o que fora feito do personagem anteriormente e muitos dizem que isso o consumiu tanto que o levou à morte.

O Coringa de Ledger finalmente deu ao personagem o que não tinha sido lhe dado até então. Toda a insanidade saindo pelos poros enquanto ele tenta mudar a vida das pessoas através do caos e do crime. Seu poder de argumentação é tão alto e profundo, que ele muda a cabeça da maior figura de retidão e moralidade que Gotham já teve, Harvey Dent. Quanto todos acham que ele já foi pego e que não possuía mais nada com a qual jogar, sua genialidade maquiavélica e bestial aparece. Se ele quer atingir um objetivo, sua motivação é infinitamente superior à de todo mundo. Ele não se arriscaria a perder Gotham sem levar seu coração dourado e incorruptível ao fundo do poço.

Pontuação
Um vilão não precisa apenas ser mau. Se ele o for, poderá cair nas armadilhas do herói ou nem conseguirá pensar com clareza, motivado apenas pela sua própria agenda e malignidade. Um vilão precisa, acima de tudo, ser inteligente, motivado, persistente. Precisa ter um arsenal à sua disposição e tem sempre que ter um plano B. O Coringa completa todas essas exigências, mas acima disso, o que o torna muito perigoso, é sua insanidade, sua loucura genial, sua esquizofrenia bestial e sua total imprevisibilidade.

Não se vira as costas ao Coringa. Não se subestima o Coringa. Não se brinca com o Coringa. Ele brinca com todo mundo, mas suas brincadeiras são sempre mortais e cheias de propósito. Governado pela insanidade e pela vontade de destruir, o Coringa é um vilão de risco máximo.



Até mais!


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