Tau Zero é um daqueles livros que viram referência. Um enredo instigante, preciso, com inúmeras referências científicas que tornam este ganhador do Prêmio Hugo uma das maiores obras de ficção científica. Ele pode desagradar algumas pessoas por ser uma FC hard, já que explora pouco a questão das relações humanas, mas Tau Zero consegue refletir com bastante clareza o comportamento de 50 seres humanos confinados em uma nave.
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O livro
Tau Zero foi publicado pela primeira vez em 1970, ganhando o Prêmio Hugo no ano seguinte. Ele conta a história da nave Lenora Cristine, com missão para estudar e colonizar o sistema Beta Virginis, em Virgem, distante 32 anos-luz da Terra. Sua tripulação consiste em 25 mulheres e 25 homens, cientistas em grande parte e oficiais da nave, que levam seu conhecimento científico e a raça humana para um novo sistema estelar. A maioria não deixou muita gente com quem se importar na Terra, já que a viagem será demorada e é bem possível que ninguém retorne.O título faz menção ao valor do fator de contração do tempo Tau, expresso pela seguinte equação:
onde c é a velocidade da luz e v é a velocidade. Anderson, que além de escritor era também físico, explica que quanto mais perto v estiver de c, mais perto tau estará de zero. Anderson trata da Teoria da Relatividade no livro, de maneira bastante satisfatória para qualquer mortal compreender e entender o que está acontecendo com a nave. Desta forma, a Lenora Cristine levaria 5 anos para chegar em Beta Virginis, enquanto 33 anos teriam se passado na Terra.
Os problemas começam quando os instrumentos captam uma nebulosa à frente e a nave não tem como desacelerar para contornar. Mesmo tendo enviado missões na frente para avaliar o caminho e avaliar Beta Virginis, isso tinha sido há muitos anos e portanto não teriam como prever a nuvem que se agigantava para eles. A nave passa por ela, mas tem seu sistema de desaceleração danificado.
Ou seja, ela continua acelerando, conforme tau se aproxima cada vez mais de zero e o tempo fora da nave começa a passar cada vez mais rápido. A tripulação então começa a ter surtos e crises, pois percebem que milhões de anos já se passaram do lado de fora e eles podem ser os últimos remanescentes da raça humana. Aliás é difícil não pensar no efeito que isso causaria na tripulação, sabendo que tudo o que você conheceu não existe mais. É natural que eles acabem com sintomas semelhantes ao de estresse pós-traumático.
O texto consiste em prosa narrativa intercalada com parágrafos nos quais Anderson explica as bases científicas da relatividade, dilatação do tempo, mecânica da nave e detalhes do cosmos lá fora. O livro se arrasta em alguns pontos, foi até difícil avançar em determinados momentos, mas em geral até mesmo as explicações científicas são bacanas. Os personagens não foram trabalhados com profundidade por se tratar de uma obra de FC hard, mas eu gostaria de ter visto mais detalhes dos personagens, onde alguns são apenas borrões. Temos uma boa ideia do que as explicações científicas querem dizer, mas só fui saber com certeza o que era uma propulsão Bussard procurando no Google. Isso pode afastar alguns leitores do livro.
Ficção e realidade
Como seria carregar o peso de uma civilização nas costas? Isso aflige os tripulantes da Lenora Cristine e não pude deixar de pensar como seria carregar esse fardo. Pensar que tudo o que você conheceu ficou para trás no espaço e no tempo e que o planeta de onde você veio já não existe ou foi desfigurado pelas ações tectônicas que você não mais o reconheceria. Viver confinado já é algo difícil para o ser humano, mas e viver confinado por milhares de anos, sem ter a menor noção disso, sabendo que seu mundo agora é uma pequena nave que ruma para o desconhecido?Um dos requisitos para enviar um astronauta para o espaço é a estabilidade emocional do mesmo para aguentar sabe-se lá quantos dias de confinamento, em um ambiente estressante e perigoso, sujeito a falhas e a problemas diversos. Mesmo que no futuro tenhamos tecnologia para viajar até as estrelas, os perigos de uma viagem sempre existirão. Todos nós teríamos a fibra emocional de aguentar um confinamento desses? Ou o jeito é ficar na ficção científica mesmo?
Poul William Anderson foi um escritor norte-americano da Era Dourada da ficção científica.
Pontos positivos
Ficção científica hardExplicações científicas compreensíveis
Questão do confinamento humano nas viagens espaciais
Pontos negativos
Perde um pouco do ritmo perto do finalNão tem em português
Final poderia ter sido melhor trabalhado
Avaliação do MS?
Como tive experiências desagradáveis com FC hard, fiquei com um pé atrás ao ler Tau Zero. Mas o estranhamento logo passa, pois o autor soube explicar um princípio científico de maneira natural, sem complicações, sem deixar chato e prendendo o leitor, já que o valor de tau é o principal gancho da obra. Mesmo que existam termos que muitos de nós não conheçam ou não compreendam bem, não ficamos perdidos no livro e todas as explicações fazem sentindo.Quatro aliens para ele e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
Sem dúvida um dos melhores romances de ficção científica já escrito. Em se tratando de ficção científica espacial um dos três melhores. Não sei porque até hoje não o adaptaram para o cinema!
ResponderExcluirA questao da passagem dos anos não foi tão bem digerida, pois o tempo, apesar de ser relativo, não transcorreria em proporções tão dinâmicas, como milhares de anos em poucos minutos...É claro que o tempo passaria mais lentamente para os tripulantes, mas não nessa relação célere....
ResponderExcluirDe qualquer forma, foi uma excelente leitura....
Pensei isso também, me pareceu excessiva a rapidez da passagem do tempo. Até tentei fazer umas contas ;-)
ExcluirSerá que por conta da visão da relatividade de quase 50 anos atrás ou uma possibilidade real dos cálculos?