Um dos maiores nomes da ficção científica nos anos 1940 e 1950 foi o de Leigh Brackett. Escritora, editora, roteirista, amava a ficção científica, os filmes noir e livros de aventuras. Você pode nunca ter ouvido falar da autora, mas certamente ouviu falar de um de seus roteiros mais famosos para o cinema, o de Star Wars V: O Império Contra-Ataca.
Nascida e criada em Los Angeles, Leigh cresceu lendo histórias de aventura em planetas distantes e seus másculos heróis virtuosos, escritos por nomes como Edgar Rice Burroughs. Seu avô foi seu principal apoiador para seguir na carreira da escrita, inclusive comprando as revistas pulp no mercado para levar para a neta.
Muito amiga de Ray Bradbury, que foi seu padrinho de casamento, Leigh ingressou em um curso de escrita criativa de Laurence D'Orsay, um escritor e professor, onde produziu seus primeiros contos. Com apenas 20 e poucos anos, já publicava em algumas das principais revistas de ficção especulativa da época. Fortemente inspirada por aventuras como as de Tarzan, seu primeiro conto foi Martian Quest, publicado em 1940, na Astounding Science Fiction.
Ser chamada de "rainha do space opera" na época em que Leigh escrevia não era exatamente um elogio. Leigh foi uma das mulheres pioneiras da "fantasia espacial" ou "fantasia científica", gênero onde muitos encaixam as obras de Star Wars, mas o gênero era mal visto até por aqueles que escreviam comumente nele. Conforme a FC tentava amadurecer e se consolidar durante a década de 1950, muitos achavam que as obras de space opera e suas aventuras em planetas longínquos davam um ar amador para a FC.
Era também uma época de intenso interesse pela exploração espacial. Quando o satélite soviético Sputnik foi lançado, muitas mulheres começaram a se interessar por ciência e pela ficção científica. Ao mesmo tempo, ser mulher em um gênero dominado por homens não era fácil e Leigh recebia ódio gratuito de editores, leitores e até colegas.
Meu principal interesse é de nunca tentar moldar a ficção científica em uma coisa específica. Acho que deveria ser livre para todo tipo de história. Creio que deva ter histórias ecológicas, políticas, filosóficas.
Apesar de defender a space opera e de querer uma FC livre e inclusiva, o primeiro livro de Leigh foi uma história policial detetivesca, chamado No Good from a Corpse. O diretor de cinema, Howard Hawks, ficou tão impressionado com o livro que convidou Leigh (que ele não sabia que era uma mulher na época) para adaptar o enredo para as telonas. Leigh aceitou e o filme hoje é um clássico do cinema noir, À Beira do Abismo (1946), interpretado por Humphrey Bogart e Lauren Bacall.
Leight colaboraria em vários outros roteiros. Entre 1945 e 1977, Leigh trabalhou em dez filmes, até que foi convidada a colaborar com a sequência de Star Wars, onde trabalhou com George Lucas em várias reuniões. O roteiro básico foi escrito por Leigh e depois alterado por Lucas e outros roteiristas, mas todos os eventos aventurescos da história estão presentes, o que torna Star Wars um marco dentro das fantasias espaciais.
É interessante notar que Leigh e seus contos e novelas bem escritos acabaram formando o movimento que levaria a ficção científica a se profissionalizar a tomar ares mais sérios. São as space operas que nos levaram aos confins do espaço quando a exploração espacial ainda estava engatinhando. Houve uma expansão do pensamento científico e ficcional com histórias que nos levavam pela galáxia, encontrando planetas misteriosos e distantes. A FC pode sim ser escapista, mas a imaginação, a criatividade e a inventividade precisam ser exercitadas para se tornarem realidade.
Leigh nos deixou subitamente em 1978, poucas semanas depois de entregar o roteiro original de Star Wars. Ainda que seja um nome importante do gênero, suas obras caíram no ostracismo depois de sua morte. Seu legado, entretanto, ainda permanece nas aventuras dos Skywalkers e nas longas batalhas espaciais do gênero que ela ajudou a estabelecer e tanto defendia.
Que a Força esteja com você!
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Pô, teu blog é muito bom. Eu estou lendo coisas que não tinha conhecimento algum.
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