10 livros que acabaram comigo

A vida de leitora sempre tem dessas. Aquele livro que acabou mentalmente com você, mas ainda assim você indica e ama. Livros mudam a química cerebral e nos tornam mais empáticos, mas podem também nos desgraçar a cabeça completamente. Foi pensando nisso que resolvi listar os 10 livros que mais me detonaram, aqueles que me deixaram pensativa por dias e que ainda lembro das sensações que causaram. E que indico a leitura mesmo assim.

10 livros que acabaram comigo

Lembrando que essa lista é pessoal, ok? Mas te convido a deixar nos comentários os livros que também causaram o mesmo efeito em você. Eu sei que você tem aquele livro que te deixou completamente ababublé das ideias. Então não se acanhe e deixe uma listinha. Ou pegue a ideia e responda no seu blog também!

Esses livros sempre me intrigam, principalmente porque acabo gostando muito deles, mesmo depois de me deixarem zureta. Gosto de livros fodidos porque eles mexem com a gente. O autor poderia ter feito de outra forma, mas teve a coragem – e a audácia – de ir um pouco além. E nem todo livro é uma desgraceira; a obra na verdade pode ser maravilhosa a ponto de mexer com a gente do mesmo jeito.

A Estrada, de Cormac McCarthy
Li o livro depois de assistir ao filme de mesmo nome com Viggo Mortensen. Ainda que o livro nunca determine o que causou um colapso da flora e da fauna na Terra, acompanhamos um pai e um filho pela estrada, tentando sobreviver. E neste mundo mulheres e crianças são caçadas para servirem de alimento para gangues de canibais.

O livro mexe com a gente porque a tarefa desse pai é tentar manter a ternura e a esperança em seu filho neste mundo fodido de ruim. Até mesmo o tom dos personagens denuncia a apatia diante desse mundo destruído, mas ao mesmo tempo o pai tenta manter essa chama viva, o que não é nada fácil. É uma história sobre amadurecimento, esperança e sobre as profundas relações entre um pai e seu filho em meio à destruição.

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Solaris, de Stanislaw Lem
Considero Solaris um dos melhores livros de ficção científica já escritos e é um dos meus favoritos. É um livro perturbador e que também é um ponto fora da curva dentro da FC. Solaris é um planeta com um mar vivo e por décadas cientistas da Terra estudam o planeta na esperança de entender o oceano e quem sabe se comunicar com ele. Existe até uma ciência, a solarística.

Acontece que o oceano envia cópias de pessoas do passado desses cientistas, o que os perturba profundamente (e com razão, né?). O livro nos faz pensar sobre contato com outras formas de vida inteligentes, sobre a incapacidade de compreensão, mas o principal, e o que mais me assusta no livro, é pensar que pessoa do meu passado o oceano enviaria. Como ele faz isso? O que ele capta na nossa memória que motiva a criação de uma cópia de alguém? Será que ele sabe o efeito que isso vai causar na gente? Será que se importa?

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A Guerra Não Tem Rosto De Mulher, de Svetlana Aleksiévitch
Quando as pessoas falam em guerra, geralmente falam das decisivas batalhas que mudaram os rumos dos conflitos, da atuação de generais e políticos, mas muitas vezes a atuação dos soldados, aqueles que estão lá, na linha de frente, não entra nos livros de história. E se esses soldados forem mulheres, aí é que a história acaba apagada de vez.

Quando me deparei com este livro, ele mudou a forma como eu via a Segunda Guerra. Estudei muito suas batalhas, a atuação dos políticos, mas ler os relatos de mulheres veteranas, mulheres voluntárias deve-se ressaltar, a coisa mudou de figura. Elas são muito honestas, muito diretas a respeito do que viveram, do que viram. Além das dificuldades diárias de serem obrigadas a usar roupas de homens. A honestidade é o que mais surpreende nessa leitura e é algo que ficou comigo desde então.

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A Longa Viagem A Um Pequeno Planeta Hostil, de Becky Chambers
Li esse livro em inglês e me apaixonei por ele. Li depois em português, me apaixonei de novo. Aqui não temos um mundo distópico, nem desastres naturais, ou regimes totalitários. Não temos batalhas grandiosas, heróis másculos, nada disso. Temos uma nave, a Andarilha, com uma tripulação que está a caminho para uma missão perto do núcleo da galáxia. O livro é sobre a jornada até esse planeta (o planeta hostil do título).

A premissa parece simples e até é, mas foi escrita com tamanha agilidade, precisão, maestria, que a história fica com você bem depois de virar a última página. O conjunto de personagens é brilhante, pois eles são bem diferentes entre si, afinal temos humanos e alienígenas convivendo, mas ao mesmo tempo são muito parecidos em uma série de emoções, de sentimentos, de desejos. E isso os torna muito próximos, como uma família que tem suas desavenças, mas que ainda assim não consegue se separar. Um dos melhores livros que já li.

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O Último Adeus, de Cynthia Hand
Este livro não tem um tema fácil; ele lida com suicídio. A protagonista, Lexie, perdeu o irmão Ty, que se matou na garagem de casa. Agora ela e a mãe precisam lidar com o luto e com a incompreensão. Como elas não puderam perceber? Por que ele estava se sentindo tão desesperado a ponto de fazer o que fez? Por que elas não conseguiram evitar? É uma obra muito emotiva, pois acompanhamos Lexie e toda a montanha russa de sentimentos em que ela está na esperança de compreender as ações do irmão.

Lembro claramente do momento em que terminei esse livro. Era madrugada alta, umas 3 horas da manhã, e eu chorava agarrada ao livro depois de virar a última página. Também perdi alguém de quem gostava muito para o suicídio e tal como a protagonista eu também não entendo o que a levou a fazer isso. Tínhamos nos falado fazia pouco tempo, tudo parecia bem. Mas óbvio que não estava. E vou ter que conviver com essa incerteza para sempre.

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Terráqueos, de Sayaka Murata
Terráqueos foi uma das leituras mais surreais que já fiz e ainda penso nele constantemente. Natsuki se convenceu de que é de outro planeta. Ela vê a sociedade como uma fábrica de gente e qualquer pessoa que não se enquadre neste formato é logo excluído ou perseguido, visto como um excêntrico que deve ser mantido longe dos outros. O mais improvável acontece quando seu marido também se convence de que é um alienígena.

A questão neste livro é que há um viés de abuso que a protagonista aprendeu a ocultar com essa fantasia de que é uma alienígena. Há a questão da intrusão, a constante vigilância dos outros para que você se enquadre nos comportamentos que elas esperam que você tenha. E justamente quando ela precisa da família, quando precisou de ajuda, ninguém estava lá por ela. Não é de se admirar que ela deseje, de fato, não ser mais humana. Este é daqueles livros que ficam muito tempo na cabeça.

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Só a Terra Permanece, de George R. Stewart
Clássico da ficção científica, esse livro está há anos fora de catálogo e nem tenho mais esperanças de que um dia retorne às livrarias. Nos sebos a situação é ainda pior, pois não se encontra um exemplar por menos de 200 reais. O mundo como conhecemos deixou de existir. Uma epidemia aniquilou a raça humana e poucos sobreviventes agora lutam por recursos e por suas vidas. O protagonista é Ish, um geógrafo que foi para um trabalho de campo e quando voltou para a cidade já encontrou tudo vazio.

Este é um daqueles livros épicos, mas que terminam com um ar de esperança mesmo em meio ao fim da civilização. Ish sente que conforme envelhece e vê chegar as novas gerações, ele precisa deixar um legado para elas. E qual seria? Ensinar geometria e literatura ou ensinar como caçar, como conseguir água potável, como se abrigar no inverno? Ele mexe um pouco com nossa sensação de conforto e bem-estar e em quanto tudo isso é efêmero.

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Vita Nostra, de Marina e Sergey Dyachenko
É difícil explicar o que esse livro é. Eu o li já faz vários meses e ainda não sei exatamente se entendi o que ele quer dizer. A história é bem simples: uma garota vai para um instituto no interior estudar. Parece que é só isso e até dá para ler como sendo um coming of age, aquelas jornadas de amadurecimento, de crescimento de um personagem, que sai de casa e precisa enfrentar o mundo sozinho. Dá para ler Vita Nostra assim tranquilamente.

Mas existem outros aspectos do livro que ficam na cabeça e você se pega pensando no que está acontecendo. Porque Sasha vai estudar neste lugar estranho do interior e coisas bizarras passam a acontecer com sua mente e com seu corpo. E o que mais me dá raiva (aquela raiva boa) é que o livro não se importa em te dar mais explicações, então cada pessoa que ler vai interpretar de uma maneira e é provável que todas estejam certas.

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Holocausto e Memória, de Marcos Guterman
Baseado na vivência dos avós, Guterman discorre sobre o Holocausto na Segunda Guerra Mundial e sobre a impossibilidade de compreender sua totalidade. O Holocausto quebrou com todas as convenções morais, sociais e políticas. Ele foi criado como uma ferramenta de extermínio de uma população específica por um Estado. Falar desse evento em metáforas, em parábolas, suavizando o tema para que as pessoas não se choquem é errado. Não se pode suavizar crimes contra a humanidade. O tema tem que ser trabalhado em sua totalidade.

Os relatos que o autor escolheu para ilustrar essa impossibilidade de compreender o Holocausto foram alguns dos mais impactantes que já li a respeito. Penso neles constantemente. Penso na minha avó, sobrevivente de um campo de concentração e em como a família não entendeu seu comportamento bizarro de estocar comida ou de só andar com blusas de mangas compridas. Penso no que eu diria a ela se fosse possível.

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Holocausto Brasileiro, de Daniela Arbex
Essa foi uma das leituras mais difíceis que já fiz. Houve momentos em que eu tinha que parar, respirar fundo, continuar depois de uns dias. Arbex resgata a história do Manicômio do Colônia, local para onde a sociedade mandava os indesejados. Cerca de 70% das pessoas ali internadas não tinham qualquer problema psiquiátrico. Não havia camas para todos, nem comida, roupas, água quente. Qualquer motivo era uma razão para enviar alguém para lá.

Há uma passagem do livro que é uma grande verdade e que vale para os mais variados crimes contra a humanidade que já vimos ou estudamos. Ele diz que nenhuma violação aos direitos humanos se sustenta muito tempo sem a omissão da sociedade. E foi o que aconteceu em Barbacena.

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Ainda que esses livros tenham mexido muito comigo, recomendo fortemente a leitura. Quem sabe não mexe com você também?

Até mais! 📖

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Comentários

  1. Só a Terra permanece, A longa viajem... e A estrada estão na lista de meus livros favoritos. Um livro que me deixou mal, parei de ler e depois retomei, foi Redoma de Vidro, Sylbia Plath. Já uma leitura que impactou na minha formação como leitor foi o exército de um homem só, tenho boas lembranças e vontade de reler depois de tantos anos.

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  2. Amei o post 💕
    Já inserindo vários dos livros na minha lista de leitura. Talvez, eu finalmente comece a ler Solaris. 😉
    Acho que um livro que volta e meia povoa meus pensamentos é um chamado "O Clube de Boxe de Berlim". Ele me impactou bastante na época que li, e se tornou um favorito. A premissa é a de um moço de família judia que tem que suportar a ascenção do nazismo e ao mesmo tempo adquiri o interesse por lutar boxe. Recomendo bastante.

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  3. Tenho muita vontade em ler "Solaris", acho que vou gostar. Sua lista apresenta alguns títulos dos quais me interessei na leitura (Como "Terráqueos" e "Só a terra permanece" - quem sabe este não seja reeditado? Pode acontecer...) . Gostei da ideia, acho que vou fazer a minha listinha dos 10 no blog. :-)

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