Normalmente eu não choro quando termino um livro. Chorei apenas em dois e este é um deles. Não podia largar a leitura, que fiz em um dia e meio e no final, às três da manhã, eu estava agarrada à ele, chorando litros sobre o edredom. Você vai entender o motivo conforme for lendo.
O livro
Alexis perdeu o irmão e o rumo. Sua vida ia razoavelmente bem. Os pais tinham se divorciado, mas a família vinha vivendo dia após dia. Lexie ama a matemática, é nerd, membro do clube de matemática e está preocupada com as respostas das universidades. Ela quer ir para o MIT e está muito nervosa. Namorava Steven, outro nerd da sua turma, e terminou com ele dando uma desculpa sem noção, mas ele respeita. Afinal, o irmão de Lexie, Ty, se matou com um tiro, na garagem de casa não fazia muito tempo.Primeiro, gostaria de deixar registrado que a ideia toda de escrever isso não foi minha. Foi de Dave. Meu terapeuta. Ele acha que estou tendo dificuldades para expressar meus sentimentos, e por isso sugeriu que eu escrevesse um diário: para colocar tudo para fora, como antigamente, quando os médicos sangravam seus pacientes para drenar os venenos misteriosos.
Página 13
Sua mãe chora o tempo todo. Bebe muito e toma calmantes para dormir, enquanto trabalha como enfermeira de dia. E Lexie fica muito irritada com ela, pois sua mãe acha que sua vida acabou. As duas carregam uma culpa: como não puderam perceber o que estava acontecendo bem embaixo do seu nariz? Como Ty pode fazer aquilo?
Lexie passa por montanhas-russas de sentimentos. Ela xinga o irmão, sonha com ele com frequência, até sente seu perfume e chega a vê-lo algumas vezes. Alexis pensa que está enlouquecendo e decide não contar para o terapeuta. Então, um dia, no quarto do irmão, ela percebe que há uma gaveta aberta. E dentro dela há uma carta para Ashley, a ex-namorada de Ty. E ela se irrita, pois ele deixou um recado para a mãe, uma carta para a namorada e nenhuma palavra para ela?
Houve vezes durante a leitura que eu queria abraçar Lexie e dizer que ficaria tudo bem, em outros momentos eu queria sacudi-la para que parasse de fazer burrada. Ela machuca o ex-namorado com frequência, mesmo ele estando ao seu lado, nunca forçando a barra, ou julgando seus sentimentos. Afasta-se dos amigos, se irrita com as pessoas, que parecem todas muito solidárias, talvez até demais, que evitam tocar no nome de seu irmão para não desencadear fortes emoções. Seu terapeuta quer que ela sinta e viva o luto para poder virar a página, mas Lexie não deixa. Carregada de uma culpa que vamos, ao longo das páginas, descobrindo, ela apenas não quer que mais ninguém morra.
O livro que a DarkSide me enviou veio acompanhado de uma caneta BIC e um bloquinho do post-it amarelo, pois foi onde Ty deixou seu ínfimo bilhete, dizendo: Desculpa, mãe, mas eu estava muito vazio. Bem diagramado, com uma arte simples, mas simbólica, ele tem marcas de caneta por dentro e no miolo e, gostei muito dessa parte, as letras são em azul, como se simulasse o tom azul da caneta BIC. Em um determinado momento, a autora coloca Lexie falando das alarmantes estatísticas de suicídio entre adolescentes e de todas as probabilidades envolvidas para a morte de seu irmão mais novo.
(...) por que alguém como meu irmão, de quem todo mundo gostava, que era bonito, engraçado e popular, achava que sua vida era tão terrível a ponto de decidir acabar com ela?
Página 192
Ficção e realidade
Mônica e eu morávamos perto uma da outra, coisa de alguns quarteirões. Íamos juntas na perua escolar de manhã, estudávamos na mesma sala, nascemos no mesmo ano. Ela adorava Red Hot Chilli Peppers e quando Chico Science morreu usou uma faixa preta na manga do uniforme por uma semana. Era divertida, alegre, não era muito dada a emoções, mas quando metia uma coisa na cabeça, ela ia e fazia.A gente se afastou quando ela repetiu de ano e eu fui para o ensino médio. Tive alguns contatos anos mais tarde. Soube que ela tinha sido do movimento punk uma época, mas que tinha entrado na faculdade, deixado o moicano de lado e estava em um mestrado concorrido na USP. Nos falamos pelo MSN da última vez em que tivemos contato, em 2010. Ela disse, com certa ironia, que estava triste porque não tinha um namoro que dava certo e ainda acrescentou várias risadas no final. Disse que a gente precisava ir para a balada como tínhamos feito uma vez e ela disse que seria ótimo, que precisava sair.
Uns quatro ou cinco meses se passaram e uma colega que tínhamos em comum me chamou na rede social (realmente não me lembro qual): sabia que a Mônica morreu? E eu O QUE???? COMASSIM MORREU?? Tentei contato com a família para tentar saber o que tinha acontecido, mas nunca me retornaram. Foi minha mãe, que conhecia uma vizinha da família dela, quem contou: Mônica pulou do 10º andar do prédio em que morava. Seu corpo caiu no prédio vizinho e foi o porteiro quem o encontrou de manhã.
Por muitos anos eu me perguntei se tinha algo que eu poderia ter dito naquela conversa, se eu tivesse mantido contato, se teria sido diferente... Vi pelos comentários deixados na página dela no Orkut e no Facebook que ela ficou muito transtornada com a morte da avó poucas semanas antes de se matar. Como último pedido, ela pediu para ser enterrada ao lado dela.
Ainda eu hoje eu me pergunto: por que, Mônica? O que eu poderia ter feito pra te ajudar? Minha presença teria feito diferença? Sei que quando você metia uma coisa na cabeça, não sossegava até conseguir. Não consigo imaginar a dor que você sentia a ponto de abraçar o vazio e sei que nunca terei uma resposta do porquê. E sinto muito que você tenha partido.
Cynthia Hand é uma escritora norte-americana de livros de ficção e juvenis. Ela também é a autora de Minha Lady Jane.
Isso vai parecer meio lugar-comum, acho, mas nunca se sabe quando vai ser a última vez. Que você abraça alguém. Que você beija. Que você se despede.
Página 259
PONTOS POSITIVOS
Escrito por mulher
Tema pertinente
Protagonista feminina
PONTOS NEGATIVOS
Erros de digitação
Perde ritmo em algumas partes
Escrito por mulher
Tema pertinente
Protagonista feminina
PONTOS NEGATIVOS
Erros de digitação
Perde ritmo em algumas partes
Avaliação do MS?
O livro mexeu muito comigo. Depois que terminei de ler nem não consegui dormir direito, como se o buffer do meu cérebro não tivesse esvaziado e eu não conseguia processar as informações da leitura. A escrita de Cynthia é sensível, porém firme. Não enjoa, você quer virar a página o mais rápido possível porque precisa saber o que há na carta para Ashley, porque Alexis se sente culpada e se tudo vai ficar bem. Quem perdeu alguém dessa forma nunca esquece, a gente apenas aprende a viver com isso. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também.Até mais!
Aí, você me deixou curiosa pra ler. Mais um livro pra minha lista de leitura. Acho que vou chorar muito, pelo visto.
ResponderExcluirCaramba!
ResponderExcluirA história parece ser bem marcante. Você mandou muito bem na resenha.
♥
Poxa, tive uma experiência similar também. É uma sensação muito ruim, de impotência. Mas no meu caso, que foi com um amigo, ele foi se afastando aos poucos, a gente nem se deu conta e, de repente, aconteceu.
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