Eu não sei bem como resenhar esse livro. Não sei nem se eu o entendi corretamente. É uma leitura... estranha. Existem elementos filosóficos, mágicos, científicos, mas não há muitas respostas para todas as inquietações que ele levanta. Já adianto que não é um livro indicado para todas as leitoras, em especial aquelas que buscam obras com um contexto menos nebuloso. Mas dá para ler Vita Nostra por outra perspectiva: como uma história de amadurecimento.
O livro
Alexandra Samokhina, ou apenas Sasha para os amigos e para a família, é uma jovem cheia de vida, de sonhos, que está na praia nas férias de verão, com a mãe. Sua alegria é nadar, sentir o sol sobre a pele, curtir aqueles dias quentes tão raros. Mas ela logo nota que é perseguida por um observador insistente, um que habita seus sonhos. Ela chega a pedir a ajuda da mãe, mas ao conversar com o sujeito, ela não vê perigo algum. Parece que ele é capaz de mudar até a atmosfera ao redor das pessoas para convencê-las de que não há nada demais.Cheia de coragem, ela resolve enfrentar o cara. E ele começa a lhe pedir coisas estranhas. Por exemplo, que ela deve nadar nua, às 4 da manhã, chegando até a boia em alto mar e voltar. Ela tem que fazer isso até que ele mande parar. Não seguir suas instruções levam a consequências perigosas. Farit, ela descober depois este nome, diz que nunca lhe pedirá o impossível, mas toda vez que ela volta para o pequeno apartamento alugado para a temporada depois da natação, Sasha vomita moedas de ouro. E os pedidos estranhos de Farit não param por aí. Ela continua executando tarefas estranhas até quando volta para casa, o que começa a comprometer seu último ano do ensino médio e sua admissão na faculdade.
Porque era evidente que o mundo não funcionava como ela imaginava antes. A conexão visível entre fatos diferentes, leis objetivas, padrões consistentes, acidentes e dias normais - tudo isso servia apenas como proteção para outra existência, invisível e incompreensível.
Página 44
A coisa fica estranha mesmo quando Farit a manda desistir da faculdade de filologia para ingressar em um tal de Instituto de Tecnologias Especiais, em uma cidadezinha bem provinciana, chamada Torpa. Como explicar para a mãe essa mudança tão radical? Não que ela preste muita atenção em Sasha ultimamente, pois desde que conheceu Valery na praia que seus olhos brilham por ele. A jornada de Sasha começa, de verdade, aqui, quando ela vai para Torpa e seu mundo vira de cabeça para baixo. E a de Sasha também.
Comentei mais acima que o livro é difícil de definir. Se você ler Vita Nostra como um livro coming of age, ou seja, uma história de amadurecimento, de ingressar na vida adulta, de deixar uma parte de sua vida para trás para crescer, ele funciona super bem. A jornada que todo mundo enfrenta em algum momento pode ser desafiadora, brutal até. A mãe cobra de Sasha respostas que uma jovem de 18 anos não consegue e nem deveria ter que fornecer, afinal a vida adulta dela está começando. Se tem gente adulta mudando radicalmente de área, descobrindo novas paixões, o que dirá uma adolescente que acabou de terminar o colégio?
Não apenas Sasha, mas seus colegas também estão passando por isso, como Kostya, uns mais outros menos intensamente, mas é possível notar como eles vão se ajustando às rotinas rígidas do instituto e dos professores. Acredito que com todo mundo é assim ao chegar em uma nova série ou nível de aprendizado, certo? Então é possível se identificar com todos os passos de Sasha, a forma como ela estuda e percebe que o que era incompreensível lá no começo do curso, acaba se tornando fácil depois de um tempo, quando ela fica mais experiente.
Mas se você quiser saber mais detalhes, o livro não fornece. Ficamos muito íntimos da cidadezinha de Torpa e das dependências do instituto, sabemos onde fica o correio, o restaurante favorito dos professores, o rio, a estação de trem, a dificuldade de pegar ônibus e tudo mais. Mas eu fiquei até o fim do livro tentando imaginar sobre o que eles estavam ensinando àqueles jovens. Chegou o fim do livro e eu tive que ir atrás de outras resenhas para tentar entender o que li e se entendi tudo corretamente. No fim, o que posso dizer, é que cada leitora tem sua própria ideia. Li várias opiniões sobre o que acontece e todas são diferentes. Você também vai ter a sua.
Gosto muito de livros que me surpreendam, livros em que eu tente adivinhar o final e não consiga, mas Vita Nostra não entrega tudo para você. Eu até tenho uma ideia do que pode ter acontecido no final, mas não sei se é isso. Essa subjetividade pode detonar um livro se o restante do enredo não for bom. Aniquilação, de Jeff Vandermeer, por exemplo, é um desses livros que deixam tudo no ar, não explica nada e tu que te vire para adivinhar o resto.
Mas Vita Nostra tem um enredo sólido e uma personagem que te faz continuar. Sasha passa por poucas e boas em suas aulas tão estranhas, com professores esquisitos e exigentes que pedem coisas sem sentido. É praticamente a descrição de uma aula em qualquer faculdade e é por isso que o livro tem um apelo tão estranho, pois ao mesmo tempo em que não explica (quase) nada, ele tem personagens muito bons, carismáticos, odiosos, complicados e você continua até o fim.
O livro vem em capa dura e papel pólen, além do já tradicional marca página personalizado. Está muito bem traduzido por Heci Regina Candiani e o livro não tem problemas de revisão ou tradução. Ele é dividido em três partes e não tem capítulos, mas é subdividido em partes menores de tamanhos variados, então a leitura não fica cansativa.
O mais provável é que essa ciência não possa ser descrita por uma só palavra. Ou mesmo duas. Talvez, as palavras que descrevem essa ciência, esse processo, nem existam.
Página 123
Obra e realidade
Uma pista de que este livro é um coming of age está nos agradecimentos dos autores. Eles dizem que enquanto escreviam Vita Nostra (que foi lançado originalmente em 2007), a filha deles, Anastasia, era uma adolescente que estava crescendo e se tornando adultas e que os desafios que ela e seus pais passaram inspiraram muitas passagens de Sasha e sua mãe. O livro é dedicado a Anastasia, inclusive. Então, ainda que você não entenda exatamente o que aconteceu no final, só a jornada de Sasha, de andar ao seu lado, de passar por todas aquelas provações já valeu à pena.Marina e Sergey Dyachenko são escritores ucranianos, hoje radicados nos Estados Unidos. Escrevem livros, contos, peças de teatro e roteiros, principalmente de fantasia. São ganhadores de vários prêmios literários europeus.
PONTOS POSITIVOS
Sasha
Instituto de Tecnologias Especiais
Kostya
PONTOS NEGATIVOS
Começa devagar
Não explica muita coisa
Sasha
Instituto de Tecnologias Especiais
Kostya
PONTOS NEGATIVOS
Começa devagar
Não explica muita coisa
Avaliação do MS?
Sei que a resenha não explica muita coisa. E nem tem como, porque meu entendimento do livro é tão subjetivo que eu não sei se está certo. Vai ver era essa a intenção dos autores, de que cada uma de nós tivesse uma impressão sobre Vita Nostra. Sei também que esse tipo ficção gnóstica faz parte da tradição russa da ficção científica e talvez isso responda algumas coisas, ainda que eu não possa falar mais. Quatro aliens para ele e uma forte indicação para você ler também!Até mais!
pois é, terminei esse livro em suas sessões, e eu parecia a protagonista devorando as coisas, mesmo perturbado e sem entender muito.
ResponderExcluirCheguei ao final sem entender muito ainda, mas muito satisfeito com a jornada.
Meu livro favorito atualmente.
Por mais livros surreais!
Ah e vale dizer que o livro acabou de ter uma sequência direta, em russo e jája em inglês. Há outros livros da série metamorfoses mas não são diratemente conectados. Porém finalmente há uma sequência!!! Espero que a Morro Branco traduza ela hahaha tomara!
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