Eu relutei muito em ler este livro, pois o filme me deixou com uma impressão muito ruim, algo que eu costumo sentir quando vejo certos filmes distópicos. Mas enfim, tomei coragem, peguei o livro e o terminei em apenas um dia e meio, pois ele é curto, a narrativa é muito fluída e o poder de sua mensagem é muito forte.
O livro
A Estrada, de Cormac McCarthy, narra a história de um pai e seu filho em um planeta arruinado, com uma catástrofe não revelada e onde a vida aos poucos está acabando. Não existe mais plantações, pomares, animais de corte, nada. Existem somente sobreviventes esquálidos vagando pelas estradas, vivendo dos espólios da antiga sociedade humana, buscando comida e água dia após dia. Toda a paisagem é coberta por cinzas, não há mais peixes nos lagos, rios e mares, as árvores mortas caem o tempo todo e tudo o que resta para comer são os próprios seres humanos.
O canibalismo se tornou a única maneira de sobreviver para alguns grupos. Pessoas são mantidas em porões onde partes de seus corpos são gradualmente retiradas, cozidas ou defumadas. Mulheres e crianças se tornam as vítimas preferidas e em pouco tempo, elas praticamente desaparecem. Existem muitas cenas perturbadoras de pessoas estripadas, inclusive bebês postos para assar em fogueiras. O homem tenta privar seu filho do horror destas cenas, mas o menino sabe o perigo que correm. Nele ainda há uma bondade que seu pai acredita não mais existir no mundo e assim tenta protegê-lo a qualquer preço.
A intenção dos dois é seguir para o sul, onde é mais quente, pois eles não aguentariam mais um inverno. O céu vive quase que integralmente encoberto e o sol nunca chega à superfície, o que torna o ambiente ainda mais hostil do que o de costume. O homem vasculha casas, prédios, depósitos e armazéns em busca de comida e água fresca, enquanto ambos empurram um carrinho com seus poucos pertences pelas estradas empoeiradas.
Ao longo do livro, flashs do passado do homem aparecem - tanto pai quanto filho não são nomeados durante a narrativa - e de como ele acabou sozinho com o menino, que nasceu já neste mundo destruído. A mãe não aguentava mais viver daquela maneira, disse que sua vida acabou quando o menino nasceu e que o marido nada podia fazer para protegê-los, pois as gangues que promoviam estupros e canibalismo já começaram a agir. Então um dia ela sai na noite e desaparece, deixando-o só.
Eles se permitem pequenas alegrias, como nadar numa cachoeira, tomar um banho quente e dormir em camas em um abrigo subterrâneo intocado, cujos donos nunca chegaram a usar. O pai diz constantemente que eles são pessoas do bem, mas que existem pessoas do mal que não carregam o fogo, que querem apenas o mal para todos os outros. O pai, no entanto, mostra-se cada vez mais fraco e teme pela segurança da criança, conforme tentam chegar ao litoral para poderem ir para o sul.
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Uma grande atuação de Viggo Mortensen. |
Quando todos tivermos morrido pelo menos não haverá ninguém aqui além da morte e seus dias estarão contados também. Ela vai estar aqui na estrada sem nada para fazer e sem ninguém a quem fazer. Ela vai dizer: Para onde foi todo mundo? E é assim que vai ser.
A narrativa, por mais pesado que seja o tema, flui muito bem, você não tropeça na leitura em nenhum momento. Não espere também longas falas dos personagens, elas são bastante curtas e concisas, como se não houvesse muito mesmo o que falar na situação em que os dois vivem. Não há nomes, ou lugares, apenas o ambiente destruído, um pai e seu filho lutando para sobreviver.
Ficção e realidade
Cormac nos leva por caminhos tortuosos da sordidez e da bondade humana no livro. Nada tão diferente do que vemos nos noticiários todos os dias. Apesar de o evento catastrófico não ter sido nomeado, é bem possível que tenha sido um meteoro ou uma erupção vulcânica devastadora o suficiente para acabar com a atmosfera do planeta e com a vida na superfície. A sociedade em pouco tempo cairia com uma situação dessas. As mortes causadas por fome aumentariam drasticamente com o fim dos vegetais, depois com o fim dos animais, deixando apenas a opção das comidas enlatadas e em conserva. E quando isso acabar?No livro Só a Terra Permanece, esta é uma preocupação do protagonista. Qual o legado que seus filhos e netos terão? O conhecimento para a sobrevivência acaba sendo mais importante do que aulas de História e Geografia, pois assim que a comida em conserva acabar e todos os confortos da sociedade moderna chegarem ao fim após décadas de descuido, estaríamos mais uma vez à mercê do ambiente e dos seus riscos, tendo que caçar e plantar nossa comida e lutar por nossa segurança.
Outra coisa que nos faz pensar ao ler este livro e que é algo que The Walking Dead continuamente trabalha: até que ponto podemos perder nossa humanidade em uma situação de catástrofe? Devemos nos comportar como animais selvagens ou devemos exercer algum comportamento característico de sociedade numa situação dessas? O menino, mesmo que de uma maneira muito contida, ainda mantém alguma humanidade, alguma bondade, que o pai acredita ser algo onde não teve tanta influência, pois ele precisa demonstrar a violência e a impetuosidade que o mundo exige.

Cormac McCarthy é um escritor norte-americano. Serviu na Força Aérea dos Estados Unidos por 4 anos e estudou Artes na Universidade do Tennessee. É vencedor do National Book Award, do National Book Critics Circle Award e do Prêmio Pulitzer de Ficção de 2007.
PONTOS POSITIVOS
Bem escrito
Leitura prazerosa e fluída
Ótima análise da sobrevivência
PONTOS NEGATIVOS
Pode ser devagar em alguns pontos
Cenas fortes de violência
Bem escrito
Leitura prazerosa e fluída
Ótima análise da sobrevivência
PONTOS NEGATIVOS
Pode ser devagar em alguns pontos
Cenas fortes de violência
Avaliação do MS?

Até mais!
Já que você chegou aqui...

Amei sua resenha! Vou procurar o livro num sebo aqui perto de casa. Acabei de ver o filme e vim fazer umas pesquisas quando li nos créditos que o filme era baseado no livro de Comarc McCarthy. Ainda bem que caí aqui. Obrigada por trazer este presente incrível para mim mesmo sem saber... #gratidão
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