O que é distopia?

O sub-gênero mais explorado da ficção científica é também aquele que gera controvérsia. Existem críticas sobre ele pertencer ou não à ficção científica, se ele deveria ser meramente uma ficção especulativa ou não. De qualquer forma, as distopias andam dominando não apenas o cinema como também a literatura, em especial as YA (young adult), trazendo grandes reflexões sobre sociedade e raça humana.


Thomas More popularizou a palavra "utopia" em seu famoso trabalho de filosofia política Utopia, de 1516. Ele juntou três palavras gregas para isso: eu (ευ), "bom", ou (οὐ) "não" e topos (τόπος) "lugar", um bom lugar, não-lugar (que os geógrafos conhecem tão bem) ou "lugar bom que não existe". Distopia mantem o sufixo topos (τόπος) com a palavra dis (δυσ) na frente, que quer dizer "ruim", "mau" ou "difícil". Algo como "lugar ruim que não existe". Distopia, tal como está escrita, foi usada pela primeira vez também em um trabalho de filosofia política por John Stuart Mill, em seu discurso de 1868, diante da Câmara dos Comuns inglesa. Mas em 1818, Jeremy Bentham cunhou o termo "cacotopia", do grego κακόs, que quer dizer "mau", que Mill também usou em seu discurso na Câmara dos Comuns.

A principal função da distopia é nos deixar desconfortáveis. Os mundos distópicos estão aprofundados na crítica à sociedade atual e aos seus problemas. Podemos ver mundos no futuro, vivendo em Distritos, Facções, em ruínas de cidades, lutando para sobreviver, fugindo de canibais, lutando contra vírus mortais ou contra máquinas com consciência. Mas todos eles apenas pegaram nossos problemas atuais e os extrapolaram ao máximo. Este exagero serve para nos fazer enxergar o óbvio que, justamente, por ser tão óbvio às vezes passa despercebido para nós no agitado dia a dia.

Em maior ou menor grau, toda distopia tem certas características:

  • Violência banalizada e/ou generalizada
  • Visão e discurso pessimista sobre o mundo
  • Poder opressor vindo de uma elite e/ou governo
  • Exploram a estupidez e/ou ignorância coletiva

Mad Max. 

A distopia é o contrário da utopia e ambas são impossíveis de acontecer como estão na ficção. Enquanto o mundo utópico não apresenta problemas, o distópico exagera todos eles. Enquanto a utopia apresenta um mundo desejável, ninguém quer um mundo como Matrix. Um mundo melhor e perfeito sempre foi buscado pelo ser humano: o Éden bíblico, A República, de Platão, a Cidade de Deus, de Santo Agostinho. Mas a distopia aparece como uma problematização que a busca pela utopia e pelo mundo perfeito causavam e como nossa sociedade se destoa deste ideal.

Muitas pessoas argumentam que já vivemos em uma distopia. Vivemos no "deserto do real", esperando o momento para acordar de um mundo ruim para desfrutarmos um mundo bom, como se fosse possível nos desplugar da realidade. Todo mundo quer um mundo melhor, mas a própria Matrix admitiu que quando tentou imaginar um mundo perfeito para a simulação, eles perderam safras inteiras de humanos, como se nosso cérebro necessitasse de um pouco de cada: de caos, de ordem, de desordem, de organização.

Mesmo que pareça um fenômeno recente, temos distopias pululando pela história desde o fim da Primeira Guerra Mundial, quando o mundo encarou de frente os horrores de uma guerra de proporções globais, que acabou com uma era de luzes e esperanças de um mundo perfeito. Admirável Mundo Novo e 1984 vieram nesta esteira e a coisa se intensificou com a Segunda Guerra e com a Guerra Fria. A visão destes mundos extremos e totalitários reflete um desejo do público juvenil e adulto jovem de ler sobre mundos que eles próprios desconhecem, um mundo de ditaduras e da ausência das liberdades individuais. A distopia fornece um choque de realidade para quem está cansado de histórias açucaradas.


Muitas vezes temos sub-gêneros entrelaçados. Várias obras distópicas podem também se encaixar no cyberpunk. E isso é ótimo, poder trabalhar com as características de vários mundos apenas enriquece as obras e as críticas com as quais elas se dispõem a trabalhar. Vemos ambientes controlados, mas também ambientes sujos e destruídos. Locais abandonados e pessoas vivendo à margem da sociedade.


Obras de referência:
Livros: Não Verás País Nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão é um clássico brasileiro. Temos também A Ilha dos Dissidentes, de Bárbara Morais, outra obra nacional de tom distópico. As trilogias Divergente, de Veronica Roth e Jogos Vorazes, de Susan Collins, também falam de mundos distópicos e totalitários, assim como 1984, de George Orwell. Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. A Estrada, de Cormac McCarthy talvez seja a mais extrema que já li. Battle Royale, de Koushun Takami também é uma distopia.

Cinema: Praticamente todos os livros acima citados já foram adaptados para o cinema. Mas temos Matrix, 12 Macacos, Filhos da Esperança, Equilibrium e toda a série Mad Max como bons exemplos das telonas. X-Men, Dias de um Futuro Esquecido, também é uma distopia baseada no quadrinho de mesmo nome.

Televisão: Continuum, Revolution e Dark Angel (cancelada); Falling Skies e The Walking Dead são bons exemplos de mundos distópicos.

Quadrinhos, graphic novels e mangás: V de Vingança e Watchmen, de Allan Moore, Judge Dredd, The Walking Dead, Y: The Last Man, são alguns bons exemplos de obras distópicas.

Games: Bioshock e Bioshock 2, Chrono Trigger, Deus Ex, EVE Online, Mass Effect, Homefront e Half-Life 2 são alguns bons exemplos de jogos distópicos para várias plataformas.


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Comentários

  1. Ótimo conteudo para minhas aulas de Filosofia! Muito obrigado por compartilhar!

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  2. Texto muito explicativo e substancial. Ótimo trabalho!

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  3. só agora entendi a distopia nos livros, ótima explicação.

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