A Zona Goldilocks

Quem não se lembra da amável história de Cachinhos Dourados e os Três Ursos? A mamãe ursa preparou o mingau da família e como estava ainda muito quente, os três foram passear na floresta. A menina curiosa entrou na casinha dos ursos e viu o mingau na mesa, decidindo prová-los. Mas não conseguia tomar o mingau muito quente e o muito frio era muito ruim. Mas o mingau do filhote não era nem quente, nem frio, estava no ponto.




Pois existe algo semelhante no Universo, a chamada Zona Goldilocks, ou Zona Cachinhos Dourados, onde para um planeta desenvolver vida, assim como o mingau, ele não pode ser muito quente, nem muito frio, tem que ser no ponto.

Algumas séries de ficção científica tem uma coisa que me desagrada muito. Excesso de alienígenas. Tudo bem, é só entretenimento, mas as pessoas deviam saber disso, que a possibilidade de entrar em contato com tanta gente, num estágio de civilização tão semelhante ao nosso não é grande. Não duvido que exista vida fora da Terra, inclusive inteligente. Cientistas já provaram que água e compostos orgânicos são comuns pelo espaço. Mas acho improvável que um contato seja realizado, pelo menos dentro da minha expectativa de vida.

Alguns autores de FC talvez desconhecessem a Zona Goldilocks. Esta região leva em conta o tamanho e o brilho da estrela, sua idade e a chance de ter planetas semelhantes à Terra à sua volta que tenham capacidade de manter a água nos três estados físicos para garantir o surgimento da vida, sua evolução e o surgimento de uma civilização avançada. Sem água, não há vida. Se o planeta for muito frio ou muito quente, a água não estará nos três estados - sólido, líquido e gasoso.

Se olharmos no nosso próprio sistema, vamos ver que a Terra está no lugar certo. Por que os outros não vingaram, como Marte e Vênus que estão tão próximos? Marte foi criado com o tamanho errado e Vênus no lugar errado, pois tamanho ele tem. A Zona Goldlocks muda também com o tipo da estrela e ela é variável com a posição do sistema solar e sua metalicidade.

A imagem mostra a Zona Goldlocks (faixa verde) em três tipos de estrelas. A primeira, a azul, é muito quente e a zona está mais afastada, para proteger as formas de vida. A segunda é o nosso Sol uma estrela bem estável e mostra o lugar da faixa onde se encontra a Terra. A terceira é uma estrela mais fria, o que deve estreitar a zona e deixá-la mais próxima para aproveitar toda a energia disponível.

Além desta zona habitável num sistema solar, essencial para não congelar nem ferver o planeta, existe outra grande zona habitável, mas desta vez, na galáxia. O motivo é simples: não podemos ser vítimas de explosões de supernovas ou de um buraco-negro, ou de perturbações na órbita solar. Por isso, teríamos que viver numa região da galáxia relativamente segura contra estes eventos. Pense nisso como um seguro galáctico. O Sol, por motivos misteriosos e fortuitos, apresenta uma órbita quase circular ao redor do centro da Via Láctea, praticamente no mesmo plano, o que destoa de muitas estrelas semelhantes, cujas órbitas são irregulares.


Essa regularidade previne que nos aproximemos demais de áreas carregadas de radiação e estrelas moribundas ou mortas, o que nos daria banhos de radiação extremamente perigosos ou mesmo de agitar os braços galácticos, o que jogaria contra nós estrelas e outros corpos grandes, ou doses letais de radiação. Não agitar nossos arredores também significa menos cometas potencialmente assassinos deslocados da Nuvem de Oort, que lembra uma película de objetos gelados ao redor do sistema solar. Tudo isso garantiria o sucesso de complexas formas de vida a ponto de ter inteligência e desenvolver civilizações avançadas.

Mas isso seria assim tão raro? Os cientistas estão divididos. E muito. Eles se dividem e discutem se essa zona habitável da galáxia existe de fato ou se ela é contínua como a imagem mostra. Ela deve ser descontínua, com áreas mais densas e menos perturbadas, o que garantiria a sobrevivência tranquila de estrelas e planetas com potencial para ter vida inteligente e saudável. O que sabemos é que o sol é uma estrela que apesar de comum pelo tipo, é incomum pela órbita, pela localização e para estabilidade e ainda não temos certeza do porque.

Tem os que sugerem que o Sol, por sua alta metalicidade, teria se formado em outra região da Via Láctea, rica em elementos metálicos (que favoreceu à criação dos planetas telúricos) e depois migrado para a posição atual, apesar de ninguém explicar como isso teria acontecido. De qualquer forma, este é mais um fato intrigante para a existência da nossa civilização e garanto que para a existência de outras também. O que o tempo dirá?

Zona Habitável da Galáxia. Relaxe, estamos nela.

Até mais!

A metalicidade é o conceito astrofísico usado para descrever a abundância relativa de elementos mais pesados que o hélio em uma estrela. A medida não é absoluta, mas sim relativa.

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