Resenha: The Heart of Betrayal, de Mary E. Pearson

Gostei tanto de The Kiss of Deception que procurei os outros dois livros da trilogia para ler em inglês, tamanha ansiedade para saber sobre o destino da Princesa Lia. Aí, a DarkSide, sabendo que o povo ia morrer sem o segundo livro, se adiantou e lançou poucos meses depois do primeiro, The Heart of Betrayal. O livro começa quase que imediatamente ao final do Kiss of Deception, por isso esta resenha poderá conter alguns spoilers do primeiro livro.

Parceria Momentum Saga e editora DarkSide

O livro
Lia e Rafe são feitos prisioneiros por Kaden e levados para Venda, o grande reino inimigo de Morrighan (lar de Lia) e de Dalbreck (lar de Rafe). Os vendanos são conhecidos como bárbaros incultos e Lia teme por sua vida e pela vida de Rafe quando forem apresentados ao Komizar, o soberano do reino. Diferente de outros reinos onde a linha de sucessão segue de pai para filho, em Venda o Komizar é aquele que mata o Komizar anterior.

Resenha: The Heart of Betrayal, de Mary E. Pearson

Eu tinha sido silenciada vezes demais por aqueles que exerciam poder sobre mim. Não aqui. Minha voz seria ouvida, mas eu haveria de falar apenas quando isso servisse aos meus propósitos.

Página 21

Rafe consegue contar uma mentira convincente para que o Komizar pudesse mantê-lo vivo, mas Lia fica viva apenas por causa de seu dom, algo que ela nem mesmo sabe como usar. Venda não faz prisioneiros, por isso o destino de ambos ali dentro é incerto. Kaden tenta mantê-la longe do Komizar e de outros senhores do Rahtan, a guarda de honra do reino, mas sabendo que ela corre perigo, pede que ela fique hospedada em seu quarto.

Lia aprende que Venda não é o reino bárbaro e selvagem que aprendeu desde criança. Ela enxerga a beleza de seus rituais, a inocência das crianças e a brutalidade da vida em um lugar seco, difícil, onde as plantações não vingam e o inverno é rigoroso. E ao contrário de muitos enredos de princesa, ela não tem dúvidas de seus sentimentos nem para onde eles apontam, porém precisa ser habilidosa para poder salvar a vida de quem ama, enquanto ambos aguardam por um arriscado resgate.

Aos poucos, Lia consegue mais liberdades para andar pelo Sanctum, onde está presa, conhecendo suas passagens secretas, onde descobre uma grande biblioteca dos antigos no subsolo. Mas é quando começa a se integrar com a cultura de Venda, usando suas roupas e entoando seus cânticos, que muitos lá dentro começam a nutrir um ódio à sua presença, enquanto outros a recebem de braços abertos. Está plantada a semente da discórdia.

E cristav unter quiannad
(Um sacrifício sempre lembrado)
Meunter ijotande
(Nunca esquecido)
Yaveen hal an ziadre
(Nós vivemos mais um dia)
Paviamma

Quem lê o blog sabe que não sou uma ávida leitora de fantasia. Meu principal problema são os eventos sem explicação e muita magia e elfos e anões me cansam bastante. O que mais chama a atenção na história de Lia é que ela não aceita que tomem as rédeas de sua vida. Ela é dona de sua própria história, mais ninguém. E devem amá-la deste jeito e não de outro. Ela não é perfeita, ao contrário. Seus erros custam caro e ela patina no gelo fino ao lidar com o Komizar, um sujeito violento e ávido por poder.

Além disso, temos a força feminina no enredo, desde o primeiro livro, com a fundação dos reinos e com as histórias de Morrighan dos tempos antigos, até a amizade forte que une Lia, sua aia Pauline e todas as outras mulheres ao redor. Elas sabem que juntas são mais fortes e que somente assim podem derrotar seus inimigos. Que mensagem, amigues... Em mundo onde vemos tantos livros com mulheres que orbitam o personagem masculino, que às vezes nem é o protagonista, vermos mulheres dispostas a lutar umas pelas outras é maravilhoso. Mary me ganhou nessa trilogia por isso.

O livro é muito bonito, assim como primeiro. Capa dura lindíssima com Lia e Venda ao fundo e uma fitinha para marcar páginas. O excesso de mapas que tinha me incomodado no primeiro livro foi sanado neste aqui. Mas um problema recorrente que encontro em livros da DarkSide e que me parece que eles não perceberam ou não estão tentando sanar: problemas de tradução. É normal alguma coisa passar na revisão, obviamente, mas desde O Circo Mecânico que venho notando sérios problemas de tradução em seus livros. Não sei se é falha na revisão ou se é pressa para publicar, mas soltar as obras desta maneira tem tornado a leitura de alguns deles bem difícil.

Como eu li o livro em inglês, ao comparar com a tradução para o português, notei que havia momentos em que faltou criatividade do tradutor em brincar com as palavras para deixar o texto mais fluído. Há muitos substitutos para o verbo haver num texto. Sem contar as expressões que Lia usava e repetia à exaustão, coisa que no original não existia. Isso é uma falha grave de revisão. Por favor, DarkSide, não faça isso com a gente.

Obra e realidade
É muito interessante notar a evolução do pensamento de Lia. Ela agora sente a responsabilidade cair sobre seus ombros, sente seu papel de princesa, apesar de ainda não saber com certeza o que deve fazer. Ela cresce muito de um livro para outro. Enquanto no primeiro, temos uma princesa que parece apenas uma moça mimada, querendo fugir das responsabilidades, mas que quer ter o controle de sua vida e tomar suas próprias decisões, neste segundo livro temos uma mulher se formando, alguém que precisa lidar com os próprios erros e que precisa aprender.

Crescer é um processo difícil, ninguém disse que seria fácil. Especialmente ao lidar com outras pessoas, em aprender a ver o outro sob uma ótica sem preconceitos. Este é um ensinamento importante que Lia nos deixa ao ver Venda com uma nova perspectiva. De que nós também precisamos nos despir de preconceitos para ver o outro. E saber a hora certa de lutar.

Mary E. Pearson

Mary E. Pearson é escritora de livros infanto juvenis. Foi professora, é mãe e escritora em tempo integral.

PONTOS POSITIVOS
Venda
Princesa Lia
Personagens bem construídos
PONTOS NEGATIVOS
Título em inglês
Problemas de revisão e tradução

Título: The Heart of Betrayal
Crônicas de Amor e Ódio
1. The Kiss of Deception
2. The Heart of Betrayal
3. The Beauty of Darkness
Autora: Mary E. Pearson
Tradutora: Ana Death Duarte
Editora: DarkSide
Ano: 2016
Páginas: 406
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Essa trilogia me pegou de jeito. Para quem curte enredos de fantasia sem muita magia, sem dragões e elfos, fica aqui a indicação. Lia é uma princesa com a qual podemos nos identificar, com quem pegamos na mão e seguimos em uma jornada de aprendizado. O livro tem problemas de tradução e revisão, mas não tira o mérito do enredo. Quatro estrelas para o livro e uma recomendação para você ler também.


Até mais!

Que os deuses lhe concedam um coração quieto, olhos pesados e que os anjos guardem sua porta.

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Comentários

  1. Eu li "The Heart Of Betrayal" em um um dia acredita? Nem eu! Eu comi esse livro. Adorei a forma como Venda emergiu da história, uma grande periferia do mundo, construida em cima de ruinas, vivendo de sobras e humana em sua miseria e escassez... graças a Deus que Recife é quente, fico me perguntando como as pessoas sobrevivem nas periferias frias das zonas temperadas do mundo, deve ser um INFERNO.

    Agora voltando a Lia, adorei a forma como ela cresceu no vol. 1 e mais ainda como ela se desenvolve no vol. 1, como você disse, ela deixa de ser mimama e enfrenta as coisas de frnete, compreende a importancia que pode ter em um processo de mudança caso consiga se colocar no mundo. Também gosto como nada do que ela aprendeu no vol. 1 se perde, ela usa o que aprendeu em sua vida como princesa e o que aprendeu como garçonete e até mesmo como prisioneira. A autora não deixa Lia vira alguém a ser salvo, muito pelo contrario. E ela tem amigas, forma uma rede de solidariedade feminina, detesto quando nos livros de fantasia a princesa fica ilhada entre homens.

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  2. AMEI O POST! Como eu disse na minha resenha, gostei muito do fato de autora ter explorado mais a parte fantástca da história! *-*

    Abraços.
    Alex, do Um Bookaholic. <3

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