Resenha: The Kiss of Deception, de Mary E. Pearson

Fiquei bem receosa de ler o livro, pois tenho uma grande dificuldade com livros de fantasia. A sinopse também parecia ser "mais do mesmo". Porém isso muda quando começamos a ler. Temos aqui uma princesa, que está sendo forçada a casar e ela quer mais da vida, quer mais do que um príncipe que ela não conhece e que pode muito bem odiar. Parece que tem tudo para dar errado, não é mesmo?

Parceria Momentum Saga e editora DarkSide

O livro
A princesa Arabella Celestine Idris Jezelia, Primeira Filha do Reino de Morrighan, se prepara para seu casamento forçado com o príncipe de Dalbreck, um reino vizinho, com quem seu próprio reino não se dá muito bem. Mas Lia, como ela prefere ser chamada, está infeliz. Enquanto artesãos preparam seu kavah de casamento em suas costas (um tipo de tatuagem, parecida com aquelas de hena), ela pensa na infelicidade que a aguarda.

Resenha: The Kiss of Deception, de Mary E. Pearson

Os Antigos julgavam-se apenas um degrau abaixo dos deuses, orgulhosos em seu poder sobre o céu e a terra. Eles controlavam a noite e o dia com as pontas dos dedos; voavam pelos céus; sussurravam, e suas vozes retumbavam acima dos cumes das montanhas; ficavam com raiva e o solo tremia de medo...

Pág. 180

Lia nos conta que ela brincava livremente com os irmãos e outras crianças do reino, mas quando começou a mostrar os primeiros atributos de mulher, seus pais tiraram suas liberdades. Os irmãos poderiam continuar com as caçadas, podiam correr pelas colinas e andar a cavalo sem nenhum impedimento, mas a princesa precisava ser educada para, um dia, casar-se, como mandava a tradição de longa data. Um comportamento bem comum para nossa realidade, onde meninas são forçadas a amadurecer, enquanto aos meninos é permitido viver livremente.

Assim que Lia está vestida e pronta para o casamento, depois que seus pais colocaram sobre suas costas o valioso manto de casamento, ela pede para sua mãe alguns minutos para resolver algo pessoal. E com a ajuda de sua aia, Pauline, ela foge. Deixa o reino, ainda arrumada para a cerimonia, um manto repleto de pedrarias e joias, e seguem rumo a Terravin, no sul, o lugar de origem de Pauline e onde, quem sabe, Lia pudesse ter uma vida de verdade.

A vida das duas começa bem simples em Terravin. A princesa não tem habilidade com cebolas, nabos e massas, nem costura ou trabalhos manuais, mas junto de Pauline, começam a trabalhar numa taberna e hospedaria, ganhando dinheiro, tendo lugar para dormir e comer. É uma vida de rotinas, mas de certezas. Lia se sente incomodada por não entrar no estereótipo feminino de mulher que cuida da casa, que tem habilidades na cozinha e com o artesanato. Mas sente-se feliz, pela primeira vez, pela liberdade de escolher.

Até que dois jovens rapazes misteriosos aparecem para se hospedar. Provocantes, misteriosos, eles quebram a vida rotineira da princesa escondida. O que Lia não sabe é que duas pessoas partiram para encontrá-la. Um é o príncipe com quem ela deve se casar, o outro é um assassino enviado de um reino longínquo e bárbaro, que acredita que Lia é um risco. As Primeiras Filhas possuem o Dom, uma misteriosa força que as faz prever o futuro e que é visto com receio por muita gente.

Mary Pearson não detalhou este universo com intensidade. Sabemos que eles vivem sobre as ruínas de uma civilização anterior, como aquela que vemos na Trilogia dos Espinhos, de Mark Wallace. Eles sabem pouco sobre esses Antigos, apenas veem ruínas aqui e ali.

A autora detalhou o relacionamento e as jornadas destes personagens com destreza. A começar por Lia. Ela é uma princesa só no nome, pois do restante ela não se comporta como uma. Respondona, que questiona tudo, até as tradições, ela não se conforma com um tratado entre dois reinos que será culminado com seu casamento. É injusto que todos os seus irmãos possam se casar por amor, menos ela. E Lia ainda teria que se casar sem ver o mundo, sem conhecer nada fora da cidadela do reino.

As personagens femininas são profundas, elas não estão lá para competir umas com as outras, para trair uma a outra. Elas se ajudam, têm solidariedade pela situação de Lia e, posteriormente, de Pauline. Enredos que tratem de núcleos femininos assim me agradam muito e acho que isso foi o que mais me prendeu, além da jornada da princesa Lia em busca de uma vida plena. Temos a jornada de uma heroína que além de ser bem descrita, é alguém com quem podemos nos identificar.

A princesa comete erros, não tem medo de trabalhar, fala demais, ela não é aquela princesinha perfeita que acerta em todos os passos que dá. Não conseguimos simpatizar com todas as situações em que elas se envolvem, ou seja, elas foram descritas como pessoas normais, passíveis de erro, passíveis de fúria e compaixão. E isso é de extrema importância para a literatura, como falo o tempo todo no blog, há anos. Representatividade importa e aqui nós temos isso. Temos personagens com as quais possamos nos identificar. Você não precisa gostar de todas elas, mas certamente se identifica com suas ações.

Mary também não tem pena de seus personagens e algumas mortes foram bem tristes e definidoras no enredo. Os dois rapazes que chegam na vida de Lia também foram bem descritos e trabalhados e mesmo tendo todos os clichês de um young adult de fantasia, Mary conseguiu trabalhar com eles sem cair nos pontos mais óbvios. Clichês não são um problema, não saber como trabalhar com eles sim.

Minha principal crítica é sobre o nome do livro. Por que ele foi mantido em inglês? Esse não é o primeiro livro da editora com títulos mantidos no original. A Trilogia dos Espinhos inteira saiu com títulos em inglês e não sei bem porque, já que O Príncipe do Espinhos me parece um ótimo título. Também achei desnecessário inserir mais de um mapa no miolo do livro, sendo que temos dois nas partes internas da capa e da contra-capa. Tem poucos erros de digitação, mais do meio para o final, mas o livro é bem acabado, como todo trabalho da DarkSide.

E se a gente não pode confiar em uma pessoa no amor, acrescentei, não se pode confiar nela para nada.

Pág. 152

Obra e realidade
Clichês existem em todos os livros. Você dificilmente vai pegar algo que não tenha aspectos reconhecíveis. É impossível. E não vejo problema em ter clichês. Como disse, eles precisam ser bem trabalhados. Existe uma diferença em ser original e ser autêntico. Elizabeth Gilbert diz isso em seu livro Grande Magia: se seu trabalho for autêntico o bastante, ele será original.

Algumas resenhas do livro de Pearson falavam sobre a falta de originalidade em inserir um triângulo amoroso. Lia é uma princesa conhecendo o mundo agora, aprendendo a viver. E mesmo que tenha tido contato com garotos antes, ela não sabia como era se apaixonar. Esse cenário parece um absurdo para você? Ou será que é algo pelo qual todos passamos? É um clichê, mas aqui ele não domina a narrativa, pois não é a isso que a vida de Lia se resume. As reclamações de alguns continuaram, de que a gente saca quem é o assassino e quem é o príncipe logo de cara. Sei... Então a jornada da princesa Lia não conta? O que conta são só os plot twists? Então você está lendo livros pelos motivos errados.

E na boa, a autora nos engana por um bom tempo até que começamos a entender quem é quem ali, pois as narrativas se alternam o tempo todo.

Mary E. Pearson

Mary E. Pearson é escritora de livros infanto juvenis. Foi professora, é mãe e escritora em tempo integral.

PONTOS POSITIVOS
Princesa Lia
Núcleo feminino
Personagens bem detalhados
PONTOS NEGATIVOS
Título em inglês
Poucos detalhes sobre o universo criado

Título: The Kiss of Deception
Crônicas de Amor e Ódio
1. The Kiss of Deception
2. The Heart of Betrayal
3. The Beauty of Darkness
Autora: Mary E. Pearson
Tradutora: Ana Death Duarte
Editora: DarkSide
Ano: 2016
Páginas: 406
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Lia quer ter o direito de decidir sobre sua própria vida. Ela não quer algemas, não quer estar presa a quem não a conhece, nem a ama. Ela se sente confortável em Terravin porque está cercada de pessoas que amam, que se importam com ela, onde ela pode tomar suas próprias decisões. O que mais chama a atenção neste livro é esse núcleo feminino tão forte que a apoia em suas ações. Por essa e outras qualidades, quatro aliens para o livro e uma forte sugestão para você ler também.



Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Quando a Darkside anunciou o lançamento, nem me interessei pelo livro, apesar da capa bonita, porque a sinopse é bem genérica. Um tempo depois, vi uma resenha que mostrava que o livro era bem mais que essa sinopse, e a sua resenha foi mais uma. Definitivamente, este livro estará na minha estante em breve.

    Abraços!

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  2. Dessssde que a caveirinha mostrou essa capa fiquei de cara, muito linda, sem falar que as edições deles são incríveis.
    Eu gostei muito da história.
    Já adicionei na minha lista para próximas leituras.
    Gostei da resenha, gosto quanto escrevem textão mesmo, euuuu já não sou boa nisso haha

    http://rascunhosehistorias.blogspot.com.br/

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  3. Por algum motivo a personagem principal me lembra muito a Merida! haha
    Também não gostei de manterem o título em inglês, mas pela sua resenha acho que vou adorar a trama!
    Abraços.
    Gislaine | Paraíso da Leitura

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  4. Que resenha enorme haha, sinal que conseguiu extrair muita coisa.
    Desde que esse livro foi anunciado me apaixonei pela capa e logo em seguida pela história, através da sinopse ❤ comecei a acompanhar resenhas sobre ele e estou amando-o a cada dia :3 não vejo a hora de comprar e tirar minhas próprias conclusões.


    Cupcakeland

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  5. Oii Lady!
    Nunca li uma resenha tão perfeita e tão completa como essa, amei!
    Eu estava procurando uma resenha de The Kiss of Deception pq vou começar a ler esse livro hoje, depois da sua resenha fiquei bem animada...
    Beijinhos!!

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    Respostas
    1. Oi, Leisiane, muito obrigada!

      Tenho certeza que você vai curtir o livro, boa leitura!

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  6. Eu estava ma dúvida se comprava ou não, obrigada por me convencer :)

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