Resenha: Repeteco, de Bryan Lee O'Malley

Se você tivesse a chance de corrigir erros do passado, você faria? Será que não são os nossos erros que nos direcionam para o caminho certo? Repeteco, de Bryan Lee O'Malley, autor de Scott Pilgrim, nos apresenta uma personagem que teve essa chance... mas nem tudo foram flores.



Este livro foi uma cortesia da Cia das Letras



O livro
Katie é chef de cozinha e brilha em um restaurante que abriu com os amigos, chamado Repeteco. Ela frequentemente fala sozinha e com o narrador do livro. Mas mesmo gostando do lugar e do trabalho, ela sente que a vida está passando. Os amigos com quem abriu o restaurante se foram e sua equipe inteira é de novatos. Isso a faz sentir que abrir um restaurante novo é a melhor opção para sair do ostracismo.

Resenha: Repeteco, de Bryan Lee O'Malley


Katie já tinha o prédio e tudo mais, porém a reforma não acabava nunca. Sentia que sua vida não tinha sentido, morava num quartinho em cima do restaurante, seu ex-namorado estava em outra... É, para Katie parece que nada vai mudar tão cedo. Em meio às suas ansiedades e medos, ela se lembra do estranho sonho que teve, com uma garota estranha amuada em cima da sua cômoda.

Era uma cômoda que já estava no quartinho quando Katie se mudou. Ela então abre a gaveta e depois de vasculhar com mais cuidado, encontra uma caixinha. Lá dentro um bilhete, uma caderneta de anotações e um cogumelo. Na capa da caderneta está escrito Meus Erros. E as instruções são as seguintes: anote seu erro na caderneta, coma o cogumelo e durma. Sem pensar direito, ela faz.

A partir daí, Katie percebe o poder que tem em mãos e como isso pode acertar sua vida. Ela volta a ver a estranha garota na cômoda e começa a compreender melhor quem é ela e o que ela quer com a ajuda de uma funcionária tímida do Repeteco, chamada Hazel. A ficção científica já mostrou diversas vezes, através de diversos paradoxos, o quanto é problemático tentar mudar o passado. Cada retificação feita por Katie acaba gerando um problema ainda maior.

Vida de adulto é terrível, Hazel. Não cresça. É tudo muito complicado, tem muitas regras (...).

Página 150


Você ri, se preocupa, passa raiva, tudo isso ao mesmo tempo. Katie é bem construída, bem como outros personagens e o autor mandou bem na questão diversidade de personagens. Tem momentos em que você quer pegar Katie pelos ombros e sacudir para que ela pare com tanta burrada. Em outros, você quer abraçá-la e dizer que vai ficar tudo bem. Há momentos em que ela é extremamente egoísta, tentando justificar para si mesma que retificar o passado é a melhor coisa a se fazer, mesmo vendo que as coisas não saíram como ela queria da última vez.



O livro é grande, com mais de 300 páginas, mas eu li em uma hora e pouco. Depois voltei e li de novo. O traço é bonito, dinâmico, os personagens e os cenários foram bem construídos e as cores muito bem usadas. Nos momentos das retificações, as cores dão uma esmaecida, parecendo sépia. A protagonista é gente como a gente, tem suas qualidades, seus defeitos, seus medos e aquela velha sensação de querer mudar o mundo e não saber como. A tradução foi de Érico Assis e está ótima.


Ficção e realidade
Repeteco me lembrou de dois episódios de Star Trek Voyager. Uma civilização tinha uma nave temporal capaz de fazer retificações no tempo. Ela destruía civilizações inteiras, na tentativa de colocar aquela linha temporal nos eixos. O capitão da nave queria a família de volta e não se importava em destruir quantos povos e culturas pudesse para isso. A resolução do episódio foi muito boa, mostrando que quanto mais alterações você faz, mais longe do ideal que tanto busca acaba ficando.

Com Katie é a mesma coisa. Ela busca tanto corrigir suas burradas passadas, que acaba quase se destruindo. Quantas vezes você não disse "putz, não devia ter feito isso", ou "ahhh, queria voltar no tempo e mudar tudo o que eu fiz/falei"? Porém, retificar algo no passado não afeta somente à nós, como Katie pode perceber. Não estamos sozinhos no espaço-tempo, tem os outros também.

Bryan Lee O'Malley


Bryan Lee O'Malley é um cartunista canadense, mais conhecido pela série Scott Pilgrim.

Olha só. O que eu aprendi foi o seguinte: tem coisas que a gente não tem como mudar. E aí a gente tem que aceitar como elas são. E uma hora isso vira uma bênção.

Página 324


Pontos positivos
Diversidade
Katie e suas neuroses
Traço
Pontos negativos

Pode ser confuso e lento do meio para o final

Título: Repeteco
Título original: Seconds
Autor: Bryan Lee O'Malley
Tradutor: Érico Assis
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 336
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
Repeteco é uma boa adição para sua biblioteca de quadrinhos. É divertido, mas também traz uma lição importante sobre nossos erros e como temos que aceitar nossa própria incapacidade de resolver todos eles. Adorei o traço, adorei Katie, mesmo que o enredo dê uma embolada e fique meio lento em alguns momentos. Mas certamente vale à pena ler. Cinco aliens para Repeteco e uma recomendação para você ler também.


Até mais!


Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Eu gostei dele, mas não tanto. Demorei 3 dias pra ler, por que simplesmente não me dava vontade de continuar (e achei o começo confuso também, as coisas começaram a fazem sentido pra mim só depois da página 100). Acho que existe muito hype em cima desse autor. Mas a arte é lindíssima mesmo!

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  2. Essa resenha me fez ter vontade de ler a hq e me fez aceitar os erros que eu cometi no passado como se fosse parte de mim e não tentar conserta-lo a tordo e a direita.

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