Resenha: O Circo Mecânico Tresaulti, de Genevieve Valentine

Após uma guerra, as pessoas dificilmente pensarão na diversão, no prazer de assistir a um espetáculo. É justamente por isso que existe o Circo Mecânico Tresaulti, que chega de cidade em cidade levando trapezistas, malabaristas, braços, pernas e asas mecânicas para o respeitável público.



Parceria Momentum Saga e
editora DarkSide

O livro
As pessoas vivem em mundo onde a guerra despedaçou cidades e vidas. A guerra contou com bombas e radiação. E nesse mundo o poder muda constantemente de mãos. Na tentativa de trazer alguma alegria para os escombros e vilas que restaram, existe O Circo Mecânico Tresaulti. Boss, a líder da trupe, comanda o espetáculo com trapezistas, malabaristas, mas vez por outra eles precisam fugir dos homens do governo depois de alguma apresentação. Pense neste livro como uma distopia steampunk.

Resenha: O Circo Mecânico Tresaulti, de Genevieve Valentine

Quando uma cidade não tem grandeza, sua vontade vai embora; então a cidade nada mais é que um labirinto de cascas feitas apenas de pedra, aço e - muito em breve, poeira.

Pág. 125

A narrativa pula de um personagem para outro. Uma hora temos Little George, ajudante de Boss, que sai colando os cartazes do circo quando chegam a um determinado lugar. Depois a narrativa pula de novo para uma terceira pessoa não identificada. Tem momentos em que é difícil identificar quem é o narrador. Não me importo com a mudança, desde que a gente consiga identificar, mas aqui não acontece isso. É preciso voltar para saber quem está falando e a narrativa não flui tão bem quanto deveria.

A trupe do circo é composta por todo tipo de gente. Ex-soldados, órfãos, refugiados, gente ferida e sem perspectiva, que pede uma audiência com Boss e um lugar na equipe. Dotados de asas, roldanas, ossos de cobre, estes seres executam audaciosas acrobacias para o deleite do público. A apresentação destes personagens não é feita de forma linear e por isso voltamos ao passado do circo com frequência. É assim que sabemos que algumas pessoas da trupe cobiçam um par de asas mecânicas que estão na oficina de Boss.

O livro ganha ritmo mesmo lá do meio para o final, pois Boss acaba precisando de um resgate. O circo fica dividido sobre o assunto, se deve ou não, como farão e se farão. Ninguém sabe se a trupe sobreviverá sem a presença dela, então a questão sobre o resgate acaba virando uma polêmica entre o grupo. Alguns personagens são melhor descritos que outros. Em alguns casos, temos poucos dados e características de personagens, o que pode desagradar quem prefira mais detalhes. O próprio mundo do circo não é bem descrito. Temos estradas, vilas e cidades-estado e é só.

DarkSide caprichou nesta edição (a minha é a edição limitada, de capa dura). As ilustrações no miolo são lindas, feitas pelo brasileiro Wesley Rodrigues, dando movimento aos personagens tão diversos que Genevieve nos apresenta. No entanto, o livro tem problemas de revisão. Fiquei pensando se no original em inglês existe tanta repetição de termos em alguns parágrafos. Isso deixou várias partes do livro com um ar amador. Um livro com três revisores não poderia ter deixado passar algo assim e não é algo que esta editora faça em seus livros, por isso acredito que o problema possa ser pontual.

Alguns verbos em inglês, quando traduzidos, podem ser facilmente substituídos por outros com o mesmo sentido, o que me faz questionar a exaustiva utilização do verbo "haver". Taí um verbo que poderia ter sido trocado por outro sem prejudicar a tradução ou o sentido original da frase. Isso me desagradou muito durante a leitura, que se arrastou por boa parte de suas 320 páginas. Sem contar o pleonasmo logo na introdução do livro feita pela autora: multidão de pessoas. Sei que esta é a primeira edição, por isso acredito que a segunda não terá mais tantos problemas.

Ilustrações de Wesley Rodrigues

Ficção e realidade
Gosto de quando autores escrevem em determinados cenários, mas mudam o foco. É possível contar histórias em ambientes como de um pós-guerra, de um pós-apocalipse, e não se ater às desgraças inerentes a este tipo de lugar. O que o Circo Mecânico faz é tentar levar alguma esperança às pessoas, tentar tirá-las daquele torpor de morar e viver em um mundo sem muita perspectiva, um mundo frágil e que pode ser facilmente abalado por qualquer problema.

É possível mostrar o lado bom do ser humano mesmo em situações de desastre, mesmo em situações de guerra, mesmo em momentos de falta de esperança. Pode ser um circo, por que não? Um circo onde os artistas também são sobreviventes, onde eles puderam enganar a morte para continuarem sua arte.

Genevieve Valentine

Pontos positivos
Escrito por mulher
Distopia steampunk
O circo
Pontos negativos
Revisão
Alguns personagens rasos
Se alonga demais em algumas partes

Título: O Circo Mecânico Tresaulti
Título original: Mechanique: A Tale of the Circus Tresaulti
Autora: Genevieve Valentine
Tradutor: Dalton Caldas
Editora: DarkSide
Páginas: 320
Ano de lançamento: 2016
Onde comprar: Amazon

É isso o que acontece quando você dá um passo: você se aproxima daquilo que quer.

Pág. 22

Avaliação do MS?
Um enredo tão legal, uma ideia tão boa como essa merecia uma execução melhor. A autora me perdeu algumas vezes com a mudança brusca de narrativa e com a forma como a não-linearidade dos fatos foi colocada. Mas o grande problema, a meu ver, é a revisão descuidada da edição. Não tenho problema com livros que me tirem da zona de conforto, como O Circo Mecânico, mas tenho com livros com erros primários. Três aliens.




Até mais!

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Comentários

  1. Com certeza é um livro que tira da zona de conforto! Eu li há um bom tempo atrás, na outra edição, da capa comum, na verdade foi meu primeiro contato com a editora...se não me engano no lançamento daquela edição, que também acho linda!
    Daí agora eu li o livro de novo com outros olhos, ainda assim gostei bastante. Continuou não sendo uma leitura muito fácil, essa própria situação da narração me confundiu um pouco (eu achando que era só o little George que narrava ahahahahaha). Não tenho um olho tão bem treinado para perceber isso da revisão e acho que tinha bastantes personagens, se ela fosse se aprofundar em todo mundo ia ficar meio grande, não?
    Eu gosto de steampunk, vou procurar ler mais livros nesse gênero
    bjs

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  2. Dizem que não deve julgar um livro pela sua capa, mas o capista desse livro está de parabéns. Sempre que vejo na livraria me sinto instigado a comprá-lo pela apuro visual. Aguardarei edições posteriores com revisão melhorada.

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