Estava com saudades da prosa de Scalzi e então decidi voltar para o universo de Guerra do velho, aproveitando que a Aleph publicou a segunda trilogia por aqui em 2023. Se você leu a primeira, conhece o universo o suficiente, certo? Aqui voltamos à colônia de Roanoke, retratada em A última colônia, mas desta vez pelos olhos de uma adolescente.
O livro
Zoë Boutin é uma adolescente de 17 anos que vive em um pacato planeta da União Colonial, chamado Huckleberry, com seus pais adotivos, Jane Sagan e John Perry. Para quem já é familiar com o universo de Guerra do Velho, sabe que Jane e John são militares veteranos que receberam novos corpos em uma merecida aposentadoria do serviço. Assim, eles se tornaram os administradores da colônia e viveram vários anos pacatos neste cantinho da galáxia, até receberam uma proposta de colonizar um novo mundo do zero, a colônia de Roanoke.
Sou filha e deusa e uma menina que às vezes simplesmente não sabe quem é ou o que quer.
Só que essa colonização tem que ser em segredo, afinal uma associação de raças alienígenas, chamada de Conclave, está de olho em tudo o que a União Colonial faz. Em meio a esse turbilhão política, está uma adolescente que está ainda descobrindo quem é e o que quer ser, mesmo sabendo de sua importância história para os Obins, alienígenas que obtiveram consciência após os experimentos que seu pai fez. Por isso ela é reverenciada como uma deusa por eles e tem até dois guarda-costas, Rickory e Dickory.
Imagino que Scalzi tenha se valido de sua experiência como pai de uma adolescente para escrever várias das passagens de Zoe. Evitando repetir momentos escritos em A última colônia, ele foca nas experiências da garota com seus amigos e em como eles se acostumam com um novo planeta que cheira mal e que já tem uma população alienígena nativa não muito longe deles. Conhecemos seus amigos, acompanhamos suas idas à floresta, fugindo do assentamento, tudo pelos olhos de Zoe.
Mas sabemos pela leitura do livro anterior que eles não estão seguros. Zoe percebe as discussões acaloradas do conselho da colônia e como tudo pode ser perdido se o conclave enfim descobrir onde eles estão. Ela tenta ocupar seu tempo, treinando com Rickory e Dickory para ser mais forte e saber se defender, mas ao mesmo tempo ela quer ser só uma garota normal, que namora e curte os dias preguiçosos com os amigos. E é claro que isso não acontece. Zoe é uma figura pública por ser filha de quem é e por ser tão importante para os Obins.
Acredito que eu não teria reagido tão bem a uma mudança dão drástica de planeta como Zoe e seus amigos, porém eu não vivo em uma colônia fora da Terra e não cresci em uma civilização espacial. Assim, minhas reações não seriam as mesmas de Zoe. Viajar de um planeta a outro não é um bicho de sete cabeças como é para nós no miserável século XXI. Mas algumas coisas são bastante semelhantes, como a ansiedade de Zoe e os amigos ao ficarem sem seus equipamentos eletrônicos devido a uma proibição geral da colônia. Eles precisam encontrar formas de ocupar seu tempo, então são organizadas rodas de dança e canto com a participação de todos, sendo uma boa forma de se conhecerem.
Scalzi tem um problema que me incomoda em vários de seus livros. Ele não perde tempo algum descrevendo seus personagens. Sabemos que os militares são verdes por causa de Guerra do Velho, mas é isso. Não temos quaisquer informações sobre seus personagens que os aprofunde. Então quem esperar mais profundidade de seus protagonistas, pode se decepcionar ao ver como eles podem ser rasos. Rasos no sentido de personalidade e descrições, mas seus enredos não são. Scalzi é bem assertivo nas críticas feitas ao militarismo e à maneira como os seres humanos ocuparam o espaço.
A edição está bem revisada e diagramada, com tradução de Adriano Scandolara. A capa segue o padrão das edições anteriores em toda a série.
Talvez para se encontrar seja preciso sentir que está desplugada. Talvez todo mundo passe por isso.
Obra e realidade
Uma coisa que, pessoalmente, curto muito nas obras de Scalzi: sim, a humanidade tem problemas sérios e continuamos fazendo burradas pelo universo a for, mas também conseguimos sobreviver e conquistar o espaço e perseverar. É uma visão que anda em falta hoje em dia, a capacidade de resolver problemas. E o fato de Scalzi colocar o nome da colônia de Roanoke foi bem irônico, já que a colônia original, nos Estados Unidos, desapareceu sem deixar vestígios, no século XVI.Scalzi admite nos agradecimentos do livro que escreveu O conto de Zoe depois de receber feedbacks dos leitores de A última colônia. Eles queriam saber como que Zoe retorna ao planeta com um gerador de campo de sapa, algo que acontece meio que do nada no livro anterior. Ele acreditava que os leitores entenderiam o contexto, mas admito que até eu fiquei imaginando o que teria ocorrido fora de Roanoke. Mas neste aqui ele nos conta em detalhes tudo o que Zoe fez e em como ganhou a confiança de uma das espécies alienígenas mais reclusas do universo.

John Scalzi é um escritor norte-americano de ficção científica e ex-presidente da Science Fiction e Fantasy Writers of America.
PONTOS POSITIVOS
Space opera
Roanoke
Alienígenas
PONTOS NEGATIVOS
Personagens rasos
Acaba logo!
Space opera
Roanoke
Alienígenas
PONTOS NEGATIVOS
Personagens rasos
Acaba logo!
Avaliação do MS?
Admito que tinha medo de ver Scalzi se repetindo, afinal ele já tinha contado o que acontecia com a colônia de Roanoke. Mas ele nos deu uma nova perspectiva, revelando alguns fatos que omitiu no livro anterior. Fiquei bem feliz de ter este livro e toda a saga em português, é mais uma opção para os fãs de FC. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!
Até mais! 🪐
Já que você chegou aqui...

os dois seguintes são mais legais ainda!
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