Resenha: Babilônia - A mesopotâmia e o nascimento da civilização, de Paul Kriwaczek

Gosto tanto de história antiga que nem parece que fiz geografia. Queria ler este livro já fazia um tempão quando pude, finalmente, botar minhas mãos nele em 2024! Narrando a história de um dos lugares mais poderosos da Terra, Paul Kriwaczek nos leva por milhares de anos de conflitos, reis, embaixadores e guerras que moldaram a região e fizeram desta um caldeirão cultural poderoso, com influências sentidas até hoje.

O livro
O título pode enganar aqueles que quiserem ler o livro. Ainda que tenha Babilônia no título, o autor narra a história da civilização mesopotâmica, desde o ano 4000 a.C. até a queda do império neobabilônico em 539 a.C.. Babilônia foi uma das cidades que se destacou na região, não a única. Este é um livro para os apreciadores da história antiga e que queiram uma introdução a estes estudos. Explorando a rica tapeçaria cultural e histórica da Mesopotâmia, a região que hoje corresponde ao atual Iraque e partes do Irã, Síria e Turquia, o autor destaca os eventos principais, seus protagonistas e sua importância atual.

Resenha: Babilônia: A mesopotâmia e o nascimento da civilização, de Paul Kriwaczek

(...) a civilização que nasceu, floresceu e morreu na terra entre os rios não foi uma conquista de nenhum povo particular, mas o resultado da união e da persistência, ao longo do tempo, de uma combinação singular de ideias, estilos, crenças e comportamentos. A história da Mesopotâmia é a de uma tradição cultural contínua e singular, ainda que seus portadores e propagadores humanos tenham sido diferentes em épocas diferentes.

Kriwaczek começa na pré-história da região, onde aborda a mudança de uma vida nômade para uma vida sedentária. Essa mudança que levaria aos primeiros núcleos de povoamento culminaria no desenvolvimento das primeiras cidades. Assim, o autor começa pelo desenvolvimento da Suméria, tema abordado nos primeiros cinco capítulos, narrando o surgimento das Uruk, Ur, Isin, Lagash, Umma, entre outras.

Por se deter muito na Suméria, logo no começo da leitura, é até estranho a escolha do título ser Babilônia, pois o próprio autor afirma que as mudanças sociais e políticas que ocorreram na região no final do IV milênio tiveram grande impacto. Não foi apenas um fenômeno histórico evolutivo gradual, mas sim um "salto quântico de dimensões sem precedentes", como o próprio Kriwaczek pontua.

Muitos termos e temas conhecidos estão presentes na narrativa como o código de Hamurábi, a religião e os zigurates, os selos cilíndricos, as tabuletas de argila e seus escribas e a famosa epopeia de Gilgamesh. Mas o autor também discorre muito bem sobre as inovações tecnológicas como o o forno para a metalurgia, a roda, a cerveja e o alfabeto. Há uma especial atenção para a organização econômica e social e o desenvolvimento da escrita cuneiforme. O desenvolvimento de tais inovações denota uma grande organização social, política, religiosa e cultural, que apenas as sociedades complexas tinham.

Um dos grandes trunfos de Kriwaczek é sua habilidade em apresentar a complexidade da vida mesopotâmica de forma clara e envolvente. Por ser um jornalista especialista em Oriente Médio e não um historiador, a escrita é cativante e não apenas um apanhado de datas e nomes. Ele expõe os fatos históricos, mas também se esforça para trazer à tona a perspectiva dos habitantes da época, proporcionando ao leitor uma visão mais íntima e humana, principalmente quando narra a vida de figuras importantes, como Sargão da Acádia e Hamurábi.

Usando mapas e ilustrações, conseguimos acompanhar as mudanças políticas e urbanas da região. O autor nos leva a refletir sobre as raízes da civilização, as conquistas, as guerras e o legado de poderosas culturas que deixaram marcas até os dias atuais. Ele pode até não abordar os temas com profundidade, mas para quem procura uma leitura ágil, bem escrita e cativante, certamente pode se jogar nesse livro aqui. Além disso, se você quiser se aprofundar no tema, no final ele deixa várias dicas de leitura.

(...) Babilônia, a cidade ais famosa, mais mal-afamada, mais esplêndida, mais severamente censurada, mais admirada e mais vilipendiada da Antiguidade.

Com excelente tradução de Vera Ribeiro e revisão técnica da historiadora Marlene Suano, o livro está bem revisado e diagramado e não encontrei problemas durante a leitura.

Obra e realidade
A região entre os rios Tigre e Eufrates é uma das primeiras coisas que estudamos nas aulas de história na escola. E é interessante notar como ela esteve em evidência nos noticiários, em geral devido a conflitos como as guerras Irã-Iraque (1980-88) e do Golfo (1990-91), a Operação Tempestade no Deserto (1991) e a Guerra do Iraque após o 11 de Setembro. O autor inclusive começa nos contando como Saddam Hussein se apropriou da história para justificar seu próprio regime.

Muito do que se sabe hoje a respeito da Mesopotâmia vem das traduções feitas das tabuletas de argila que sumérios, acádios, babilônicos e assírios usavam para escrever. Muito mais resistentes que o papiro egípcio, elas se mantiveram sob as areias e escombros de cidades e se tornaram ainda mais resistentes devido ao fogo, que cozia as tabuletas, tal como um oleiro coloca seus vasos e potes num forno. Depois que o assiriólogo britânico George Smith aprendeu sozinho a ler a escrita cuneiforme, todo um mundo incrível se descortinou para estudiosos e curiosos de plantão.

Paul Kriwaczek

Paul Kriwaczek foi um jornalista britânico e produtor de TV.

PONTOS POSITIVOS
História antiga

Ilustrações e mapas
PONTOS NEGATIVOS
Preço
Não se aprofunda em vários temas

Título: Babilônia - A mesopotâmia e o nascimento da civilização
Título original em inglês: Babylon: Mesopotamia and the Birth of Civilization
Autor: Paul Kriwaczek
Tradutora: Vera Ribeiro
Editora: Zahar
Páginas: 382
Ano de lançamento: 2018
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Essa obra se revela uma excelente oportunidade para mergulhar em um dos capítulos mais fascinantes da história humana. Ao final da leitura, fica a sensação de que compreender a Mesopotâmia é compreender a própria essência do que somos enquanto sociedade. Inovações que temos ainda hoje, das quais praticamente nem pensamos a respeito quando o assunto são suas origens, tiveram um impacto profundo na época em que surgiram, a ponto de mudar toda uma civilização. Edição mais que recomendada e leitura obrigatória!

Até mais! 🛞

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