Resenha: Reino de Cinzas, de Sarah J. Maas

E cheguei ao final da saga de Celaena/Aelin! E olha, foram muitas emoções, muitas frustrações, sangue, violência e perguntas em aberto, além da falta de noção de Sarah J. Maas em vários momentos. Ainda assim, esta é uma saga bastante sólida de fantasia, com vários momentos intensos ao longo de mais de 900 páginas.

Este livro pode conter spoilers dos livros anteriores!

O livro
Em resumo, este é um livro sobre a guerra que vimos surgindo lentamente no horizonte nos livros anteriores. A autora divide a narrativa entre os vários personagens criados, em vários pontos do mundo, acontecendo mais ou menos ao mesmo tempo. Sabemos o que aconteceu no final sangrento do livro anterior e começamos este aqui alguns meses depois, na busca de Rowan, Lorcan, Elide e Garlan por Aelin, presa a um caixão de ferro. Maeve sumiu com a jovem Aelin, enquanto seus aliados, lá em Terrasen usam a metamorfa para simular sua presença. Se as pessoas descobrirem, o que será da moral das tropas?

Resenha: Reino de Cinzas, de Sarah J. Maas

De novo e de novo, a canção de fogo e escuridão a atravessou em direção ao mundo.

O perigo para Terrasen e todas as terras, cresce a cada dia conforme a escuridão ganha mais e mais força. Aedion tenta segurar a linha de batalha o máximo que pode, mas até ele está desanimado com as batalhas cada vez mais ferozes que os valg impõem sobre ele. Lysandra, de londe uma das melhores personagens do livro, é uma grande heroína, lutando até suas últimas forças, se metamorfoseando em várias feras capazes de salvar vidas, mas até ela está esgotada das agruras da guerra e o efeito que a ausência de Aelin causou a Aedion. Entendo o que eles estavam passando, mas ele é um grosso em alguns momentos, coisa que Lysandra não merecia.

Manon Bico Negro e suas Treze roubaram a cena em diversas ocasiões e se tornaram personagens muito mais interessantes do que Aelin e Rowan, de longe o casal mais chato e sem noção dessa série. Manon passa por um arco completo de redenção e se eleva como a personagem que mais adorei acompanhar. Curioso dizer que eu não gostava dela assim que apareceu e me perguntei diversas vezes o que ela estava fazendo ali. Mas depois a personagem começou a mostrar uma coragem, uma determinação, um heroísmo que vimos poucas vezes. E as Treze... ahhh, as Treze! Se você leu esse livro até o final, sabe do que estou falando. Chorei no final e não foi pouco.

Rowan e seus companheiros estão nas terras feéricas em busca de Aelin, que passa por muita tortura vil nas mãos de Maeve, que quer saber onde estão as duas chaves de Wyrd restantes. Aelin passa por todo tipo de provações e dores e alucinações, pensando se estava morta ou não, esquecida e largada por todos. Entendo que Aelin precisava amadurecer, deixar a personagem que foi durante tantos anos para trás, assumir responsabilidades, mas Sarah não encontrou outra maneira além da tortura? Será que todo amadurecimento feminino tem que passar por violência?

Mesmo que essa escuridão fragmentada ainda morasse dentro dela, mesmo que até mesmo falar fosse difícil, ela mostraria o que eles desejavam ver.

Apesar de ser um livro bem grande, não vi o tempo passar. A leitura me fisgou de jeito, ainda que tenha seus momentos de pura gordura que poderia ser cortada. E é até natural que tenha, pelo tamanho, pelo universo criado, pelo grande elenco de personagens. As cenas de batalhas são intensas, bem escritas. É possível sentir o sangue no ar, as armas colidindo, os gritos dos feridos. Sarah soube escrever o desespero e o medo das pessoas e os custos que a guerra trouxe para todos. Cada personagem tem sua função, por menor que seja.

Mas várias coisas me incomodaram também. Por exemplo, o total desperdício de momentos e personagens, como Dorian, o grande rei destituído de seu trono, que viu Forte da Fenda ser tomado pelas bruxas inimigas e depois quase é obliterado pelos eventos que se seguem. Forte da Fenda foi nosso cenário por muito tempo, por pelo menos metade da saga e Sarah abandonou a cidade. Não há qualquer menção sobre que fim ela levou, como está a população, se foi destruída. Nada. Fiquei bem decepcionada com como Sarah lidou com isso e como Dorian está apático em boa parte da leitura. Basicamente, ele está lá para comer Manon Bico Negro de vez em quando. Quando Sarah deu a ele uma missão de verdade, já era meio tarde para ele brilhar novamente.

Também não gostei da forma como Sarah entregou logo de cara a identidade de Maeve e algumas revelações sobre ela, as chaves de Wyrd, os valg... Quem leu Torre do Alvorecer já sabia de tudo, mas quem veio direto para Reino de Cinzas, que foi o que eu fiz, encontrou respostas prontas e rápidas demais para certos mistérios que ela poderia muito bem ter segurado. Mas OK, a culpa foi minha por não ler o livro anterior, já que estava com pressa para finalizar tudo. Devo dizer que a atuação de Chaol e sua esposa, Yrene, nesta leitura foi bem interessante e espero poder ler Torre do Alvorecer em breve.

Em um dos livros, descobrimos que existem três torres de Wyrd, que baniram a magia do reino todo. A única torre destruída foi a de Forte da Fenda. E as outras duas? O que houve com elas? Sarah esqueceu delas também. Ao menos uma frase teria solucionado essa falha, sabe? Mas chegamos ao final glorioso sem qualquer menção às outras duas. Sabemos que Aedion conversou com um soldado que guardou uma das torres, em Noll. E aí? Mais nada? O que houve? Sarah não nos diz. Tenho que comentar também que tudo, desde Trono de Vidro até esse aqui, se passa absurdamente rápido, em questão de meses. Erilea é tão pequena assim que dá para atravessar tão rápido?

Outra coisa que Sarah não nos diz é por que Manon chama Elide de "bruxinha". Sabemos que Elide tem sangue de bruxa, mas como, quando, onde, se fazia parte da profecia, se os deuses tinham arquitetado tudo aquilo, não há qualquer resposta a respeito. Assim como outros mistérios subitamente desaparecem, como a aldrava falante das catacumbas sob a biblioteca do Palácio de Vidro e por aí vai. Sarah prefere descrever cenas de sexo, uma atrás da outra, quando poderia atar todas essas pontas soltas. Isso deu no saco em alguns momentos.

O final foi inesperado e previsível. Inesperado pela forma como a batalha acaba, como tudo se resolve. Eu não estava esperando aquele final, sério mesmo. Gostei da forma como foi escrito e como são vários personagens atuando para salvar o mundo e fazer dele um lugar melhor. Essa mensagem é sempre reiterada nos livros e é reforçada neste final. Ao mesmo tempo, termina com aquele monte de casal que se formou ao longo da leitura. Para um enredo com mulheres tão fortes, tão independentes, tão donas de si, para algumas delas a resolução foi bastante conservadora.

O livro está bem diagramado e traduzido por Mariana Kohnert. Poderia ter sido melhor revisado, já que há excesso ou falta de letras pelas frases.

Obra e realidade
Assim que termino de ler um livro, procuro resenhas em outros lugares para saber o que as pessoas acharam, se deixei passar alguma coisa, o que elas acharam de determinados momentos, se tivemos a mesma opinião. Não faltam plot twists e cenas de batalhas bem descritas, mas tem coisas que não dá pra relevar. E não sei se a galera leu e não ligou para os problemas ou se nem percebeu que os livros têm vários deles.

Gosto de uma boa cena de sexo, bem escrita e sensual, gosto de relacionamento bem construídos, como foi o caso de Rowan e Aelin no livro em Herdeira do fogo, mas ao passar por cima de todo o enredo político, mágico e estratégico, sem contar as atrocidades e crimes que ocorrem no livro para apenas pensar no "ship" a pessoa perde um enredo incrível de se acompanhar. Tem tantas coisas em que se pensar nesse livro (e em outros), que romance definitivamente não é minha prioridade na história e Sarah perde um tempo descomunal só descrevendo isso.

Também vou falar de como o universo de Sarah parece monotemático quando o assunto são seus personagens. São todos lindos, atléticos, magros, brancos, loiros, héteros... Percebe um padrão aqui? Sarah insere aqui e ali um personagem de cabelos escuros ou "pele dourada" ou até mesmo bissexual, mas são inserções bem tímidas e pouco expressivas diante do grande elenco de personagens (conservadores) que criou.

Sarah J. Maas

Sarah J. Maas é uma escritora norte-americana de fantasia para jovens adultos.

PONTOS POSITIVOS
Protagonista feminina
Suspense e ação
Um universo bem construído
PONTOS NEGATIVOS
Muitas pontas soltas
Foco maior na paquera

Título: Reino de Cinzas
Título original: Kingdom of Ash
Série Trono de Vidro
0,5. A lâmina da assassina
1. Trono de vidro
2. Coroa da meia noite
3. Herdeira do fogo
4. Rainha das sombras
5. Império de tempestades
6. Torre do alvorecer
7. Reino de cinzas
Autor: Sarah J. Maas
Tradutores: Mariana Kohnert
Páginas: 938
Editora: Galera Record
Ano: 2019
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Avaliação do MS?
Parece até que eu não gostei do livro, não é mesmo? Na verdade, curti muito essa leitura, curti demais os personagens e todas as reviravoltas e revelações. Alguns desses personagens se tornaram alguns dos meus favoritos, como Lysandra e Manon Bico Negro. A saga não é perfeita, mas não existe livro perfeito. Indico fortemente a leitura de toda a série se você curte enredos de fantasia com fortes personagens femininas. Quatro aliens para o livro!


Até mais! 🏰

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