Resenha: O Circo da Noite, de Erin Morgenstern

Ler um livro de Erin Morgenstern é um grande exercício mental. Admito que tentei ler O Circo da Noite, na antiga edição da Intrínseca, uns anos atrás, depois de ver tanta gente falando bem dele. Mas preciso ser franca, não consegui passar das cinquenta páginas. Não sei se era o momento errado, ou porque os personagens não me fisgaram. Só sei que a autora só foi mesmo me conquistar em seu livro seguinte, O Mar Sem Estrelas. Quando escolhi o livro para receber pela Morro Branco, tremi ao pensar que minha experiência talvez não fosse tão proveitosa.

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
O circo surge de repente, do nada. Magicamente, o circo surge montado, abrindo seus portões desde o anoitecer até o amanhecer. Esta é uma noite fria de 1876. Pelos 26 anos seguintes, o circo se move de cidade em cidade, de Londres a Munique, de Sydney a Nova York, e de todos os tipos de locais impossíveis e de longo alcance. A cada espetáculo, o circo encanta os espectadores que caem sob seu fascínio fabuloso e onírico. Será que há algo de verdadeiramente mágico sobre este circo, com seus truques e artistas tão interessantes?

Resenha: O Circo da Noite, de Erin Morgenstern

Le Cirque de Reves (O Circo dos Sonhos) aparece só à noite e de repente. É um lugar onde magia e realidade se entrelaçam, sendo também o palco onde um jogo entre dois magos se desenrola. De um lado, está a bela ilusionista Célia, que pode manipular tecidos com um mero pensamento e transformar livros em pombas com um movimento de suas mãos graciosas. Do outro, está Marco, o quieto e discreto assistente do proprietário do circo, que transforma sonhos em realidade e usa seus aprendizados para criar novos mundos impossíveis contidos em tendas. Esses dois estão presos a um desafio vitalício, cujos parâmetros nunca são totalmente explicados a eles; e por anos eles não conhecem seus adversários.

- Você pode contar uma história que marca a alma de alguém, que se torna o seu sangue, identidade e propósito. Essa história vai movê-lo e impedi-lo e quem sabe mais o que poderá fazer por causa dela, por causa das suas palavras.

Parece ser um livro com um enredo bastante simples e meio batido. Mas se tem uma coisa que aprendi com a leitura de Erin Morgenstern é que sua literatura nunca é simples. À medida que Marco e Celia se descobrem e percebem sua rivalidade involuntária em um jogo com as consequências mais terríveis, eles também se apaixonam inevitável e inexplicavelmente. Mas esse jogo perigoso não reconhece o amor, nem se preocupa com seus dois participantes tão relutantes: à medida que os anos passam e a tensão se torna impossível de suportar, alguém deve ser declarado o vencedor, o outro o perdedor, e o destino do circo e tudo aqueles que o amam serão postos a prova.

Mesmo com elementos de fantasia e magia, O Circo da Noite é um belo romance histórico. É também uma narrativa extravagante e intensamente visual. Essa é uma característica muito interessante da autora, pois percebi a mesma coisa em O Mar Sem Estrelas. Mais do que enredo, ou personagem, ou mesmo a própria prosa, o que a autora deixa de mais forte ao longo da leitura é a intensa visualização de lugares, pessoas, a própria magia, com uma forma intensa de descrição que às vezes exige que você pare a leitura por um instante apenas para imaginar. É como montar um filme em sua cabeça conforme as páginas vão virando.

Este circo é mais nos moldes do Cirque du Soleil. Não tem animais sendo torturados, nem palhaços, mas ilusionistas que, por uma bela ironia, praticam magia de verdade. Os cenários são descritos em detalhes suntuosos e a autora usa e abusa de cores, texturas e iluminação para dar vida a cada cena. As descrições do circo são particularmente surpreendentes. São inúmeras as tendas, cada uma com o seu tema – um jardim de gelo, um labirinto, um carrossel cujos animais de madeira parecem respirar. Tão imaginativo que Erin me fez sentir como se eu estivesse de fato lá!

A coisa mais difícil de ler é o tempo.

Senti que o livro me desagradou da primeira vez porque ele demora a engatar. E demora mesmo. Essa segunda vez não foi tão difícil porque eu já estava mais acostumada com o estilo da autora. Mas até você entrar mesmo na história e se deliciar com esse duelo mágico demora. Para quem gosta de um começo mais imediato, de ser jogada na ação logo de cara, pode achar esta leitura desafiadora.

Também senti que o desenvolvimento dos personagens peca um pouco, ainda mais se tiver que comparar com a leitura de O Mar Sem Estrelas. O desenrolar das situações apresentadas a eles nunca parece algo urgente. Aqui a maioria dos personagens carece de desenvolvimento, de emoções, além de um romance que surge lá pelo meio que acabou ficando um tanto solto, a meu ver. Há uma falta de emoção que parece estranhamente deslocada em um romance de tanta beleza.

A edição da Morro Branco é lindíssima, em capa dura muito macia e com um belo trabalho gráfico na parte interna. A tradução de Isadora Próspero está ótima e praticamente não há erros ou problemas de revisão e diagramação. Acompanhando o livro vem o já tradicional marca-página.

Obra e realidade
Li uma avaliação do livro que dizia que O Circo da Noite é um tipo de Harry Potter para adultos (só que com uma autora muito mais agradável e que escreve melhor!). É um livro que ressalta a importância da magia em nossas vidas, da força dos laços de amizade e de como é possível sobreviver a relações abusivas. O Circo da Noite parece querer nos dizer algo muito íntimo, mas que só quem lê sabe o que é.

Nunca fui muito fã de circos. Era um lugar que sempre me deu medo. Esse receio só passou quando vi um espetáculo do Cirque du Soleil na televisão, há muitos anos. A imagem daqueles malabaristas de movimentos perfeitos desafiando a gravidade, como se fossem mágicos, encantando o público, mostravam que a magia não estava na cartola do mágico, mas dentro de cada pessoa. E é isso que as pessoas meio que esquecem quando crescem, que elas também carregam um pouco dessa magia, mas que acabam esquecendo na vida adulta que exige tanta realidade de nós.

As pessoas veem o que desejam ver. E, na maioria dos casos, veem o que lhes dizem que estão vendo.

Erin Morgenstern

Erin Morgenstern é uma artista multimídia norte-americana e autora de dois romances premiados de fantasia.

PONTOS POSITIVOS
O circo
Capa dura
Magia
PONTOS NEGATIVOS

Demora a engatar


Título: O Circo da Noite
Título original em inglês: The Night Circus
Autora: Erin Morgenstern
Tradutora: Isadora Prospero
Editora: Morro Branco
Páginas: 448
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
O Circo da Noite é um livro encantador sobre a superação de pais abusivos, a necessidade de ter laços fortes com os amigos e a importância da magia na vida real. Enquanto adultos, muitas vezes, esquecemos que um dia acreditamos e ansiamos, quando crianças, por um mundo encantado. O circo nos lembra que é possível viver a magia desses lugares. Quatro aliens para o livro é uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 🎪

O passado gruda nas pessoas como açúcar nos dedos. Alguns conseguem se livrar dele, mas ainda estão lá, os eventos e as coisas que levaram a pessoa a ser como é agora.

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Oi Sybilla! "O mar sem estrelas" está na minha lista faz um tempinho e sempre deixo ele pra trás, mas acho que vou considerar ele pra uma próxima leitura! Sobre O circo da noite, sempre fico com um certo receio de ler porque já me falaram que ele não engata muito fácil não kkkkkk e eu tenho um GRANDE problema com livros assim! Acho que vou considerar "O mar sem estrelas" como introdução para a leitora!

    Até logo!
    escrito no ar.

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