Resenha: O Mar Sem Estrelas, de Erin Morgenstern

É muito difícil explicar os sentimentos que este livro causa. Quando via os comentários dos leitores lá fora, antes do lançamento aqui, notava que as pessoas pareciam reticentes em dizer sobre o que era este livro. Mas agora que terminei a leitura, me junto a esse grupo. Não dá MESMO pra explicar o que é O Mar Sem Estrelas. É o tipo de livro que eu vou dizer: você vai ter que ler!

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco


O livro
Zachary Ezra Rawlins é um estudante de mestrado em mídias emergentes. Mas ele frequenta tanto a biblioteca da universidade que os bibliotecários achavam que ele estudasse literatura. Ele vem relendo livros infantis e aproveitando para pegar alguns de sua lista de leitura e até se sente um pouco culpado por estar lendo e não trabalhando em sua pesquisa, mas está meio que de saco cheio de seu trabalho e resolve desanuviar a cabeça lendo outras coisas. Quem nunca, né? Nunca critiquei.

Resenha: O Mar Sem Estrelas, de Erin Morgenstern

Ele está olhando a seção de ficção, caminhando entre as estantes, meio sem saber o que pegar dessa vez. Zachary está procurando por livros misteriosos, de autores que nunca ouviu falar, em especial aqueles com lombadas em branco. Esticando o braço, ele puxa um livro com capa de tecido de cor vinho. Tanto a lombada quanto a capa estão em branco e, assim, ele abre direto na página de rosto, onde está escrito Doces dores.

Há histórias embaladas em seda, de modo que suas páginas não virem pó, e histórias que já sucumbiram, fragmentos coletados e mantidos em urnas.

Elas são coisas frágeis. Menos robustas que suas primas contadas em voz alta e aprendidas de cor.

E há sempre aqueles que gostariam de ver Alexandria queimar.

Sempre houve. Sempre haverá.

Página 46

O Mar Sem Estrelas é uma história dentro de outra, dentro de outra e mais outra. Essa parte de Zachary é só mais uma dentro do grande mar de histórias que são contadas aqui. Você lerá sobre piratas apaixonados, lerá sobre cidades perdidas, lerá sobre corações partidos e amantes que buscam um ao outro. Zachary entra na história dentro da história, dentro da história quando abre o Doces dores e encontra, bem, um relato sobre ele mesmo quando era criança. Como que um livro desconhecido tinha tanta informação sobre um evento da sua infância? Parece impossível.

Assim como parecem existir livros que nos chamam, que foram escritos para nós, Doces dores parece ter sido escrito para ele, lançado em uma biblioteca universitária, como um pescador lança sua isca no rio, disposto a fisgá-lo. A partir daí, Zachary se sente determinado a descobrir mais sobre aquele volume misterioso, seguindo as únicas pistas que encontra na capa – uma abelha, uma chave e uma espada, elementos que decoram as contracapas da edição.

É até difícil dizer o quanto posso contar sobre o livro sem parecer que é spoiler porque, tal como o Doces dores, este também é um livro misterioso, cheio de revelações e sentimentos, emoções que nos pegam de surpresa ao virar as páginas. Pode parecer que você está lendo uma grande colagem de eventos, que não possuem conexão alguma, mas não se engane, as coisas vão se encaixando, ainda que não pareça.

Ele aborda e trabalha com fábulas de vários tipos, desde histórias de aventura a contos de fadas, passando por animais falantes e reinos perdidos. Trabalha também com a realidade, a solidão, a falta de conexão humana e a busca por uma através da literatura e a forma como processamos palavras em imagens, cheiros, sentimentos. Fala sobre lugares imaginários, sagrados e profanos, onde tudo o que você quiser pode se realizar, mas que precisa ser protegido por uma ordem oculta, que inicia acólitos e guardiões.

Tenho que avisar também que este livro pode não ser indicado para todo mundo. Ele tem muitos personagens, muitos temas e cenários, momentos em que a autora vai e volta no tempo, abordando fantasia e realidade, com muitas informações passadas a quem lê pelo subtexto e por frases curtas, sem longas explicações. Se você curte um enredo mais estruturado, com uma linha um pouco mais tradicional, talvez devesse passar reto por O Mar Sem Estrelas. Levei semanas para terminar a leitura, porque sentia a mente cheia de tanta informação às vezes, mas ao mesmo tempo em que não queria terminar o livro, não conseguia deixar de virar as páginas.

Os personagens são cativantes, as descrições são vívidas, brilhantes, e você não consegue adivinhar em que direção está indo porque tudo parece caótico, como uma bússola que aponta para todas as direções. Mas acredite, o livro chega a uma conclusão e você tem - mais ou menos, quem sabe - uma resposta para as perguntas feitas pela autora. Quer dizer, eu acho que tem. Sei lá, deve ter sim. Digo, tem. Tem sim. O que é mais legal de O Mar Sem Estrelas é o livro ser misterioso, impossível de explicar em apenas uma linha ou até mesmo em uma única resenha.

A edição da Morro Branco está muito bonita, em capa dura com acabamento soft touch e papel pólen, acompanhada do marcador exclusivo. A tradução de Isadora Próspero está ótima e de parabéns, porque não deve ter sido fácil! A revisão e a diagramação estão ótimas, sem erros que atrapalhem a leitura.


Obra e realidade
Ao longo de uma vida de leituras, sempre tem aqueles livros que saltam fora da curva. Você também deve ter aqueles que destoam, que se destacam ou que te marcaram de uma maneira diferente dos outros, que ficaram na sua cabeça e que, volta e meia, você lembra. Eu já tinha alguns livros desse tipo. Solaris, de Stanislaw Lem, por exemplo, é um livro que, para mim, é totalmente fora da curva entre os livros de ficção científica que já li. E é um livro que não é perfeito principalmente no quesito personagens, mas seu tema e a forma como foi trabalhado, ficaram na minha cabeça até hoje.

Acredito que O Mar Sem Estrelas agora é um segundo livro que achou seu lugar fora da curva. Ele é uma fantasia primorosa, mas que foge completamente das nomenclaturas. Tal como o Doces dores que Zachary encontrou solitário em uma estante alta na biblioteca, este livro também parece deslocado, esperando o primeiro incauto que vai abrir as páginas e cair no meio das palavras. Um resumo sobre este livro é que ele é uma declaração de amor às histórias, às palavras e aos livros e todos os perigos que eles correm com a ameaça do esquecimento, do banimento, da censura.

Erin Morgenstern

Erin Morgenstern é uma artista multimídia norte-americana e autora de dois romances premiados de fantasia.


Pontos positivos
Zachary Ezra Rollins
Capa dura
O mar sem estrelas
Pontos negativos

Muitos personagens e eventos que parecem não ter ligação (mas têm!)


Título: O Mar Sem Estrelas
Título original em inglês: The Starless Sea
Autora: Erin Morgenstern
Tradutora: Isadora Prospero
Editora: Morro Branco
Páginas: 544
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
É difícil achar palavras para descrever o livro e o quanto gostei dele. Não é uma leitura típica, não é um livro comum. É uma obra descomunal, sensível, poética, escrita com uma maestria sem igual. Fãs de fantasia e de livros não podem deixar de ler O Mar Sem Estrelas, porque você também vai se apaixonar por ele e por seus personagens. Cinco aliens para ele e uma forte indicação para você ler também!

MARAVILHOSO!


Até mais! 🐝🗝️🗡️

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Acabei de ler o livro e digo que não entendi o significado de um personagem e creio que perdi algo que me fizesse compreender o final plenamente. Mas fiquei com uma sensação parecida de quando terminei 'Deuses Americanos', o que nos torna essencialmente humanos é a memória. Esse livro mostra bem isso a importância da memória, como ela fica preservada em histórias e como é sombrio o esquecimento.

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