O importante legado de Babylon 5

Babylon 5 é, provavelmente, uma das séries de ficção científica mais subestimadas da TV. Graças ao poder do streaming, porém, a série caiu no gosto do público fã de FC e uma nova produção no mesmo universo está a caminho. Como fã de longa data da série e tendo decorado falas inteiras de personagens, espero que cada vez mais as pessoas conheçam essa série que consegue se manter relevante e atual mesmo depois de 30 anos de exibição do episódio piloto.

Hoje, a ideia de contar uma história em uma série, ao invés de episódios independentes, é comum, o que pode fazer Babylon 5 parecer meio batido. Mas, a noção de que um showrunner também escreveria a maior parte dos roteiros é praticamente inédita, tanto naquela época quanto agora. De 110 episódios de B5, J. Michael Straczynski escreveu 92. Enquanto as temporadas 1 e 2 contaram com vários outros autores, Straczynski escreveu pessoalmente todos os episódios da 3ª temporada até o final da 5ª temporada, com exceção de dois episódios na 5ª temporada, um dos quais foi co-escrito com Harlan Ellison ("A View From the Galley") e um ("Day of the Dead") que foi escrito por ninguém menos que Neil Gaiman.

Pra quem não sabe do que estou falando, Babylon 5 é uma série que se passa em uma estação espacial giratória de mesmo nome, de oito quilômetros de extensão, contendo um diverso elenco de alienígenas, militares, embaixadores e segredos, perdidos na noite, em meio a uma busca pela paz. Babylon 5 era um projeto arriscado, poderoso e ambicioso e, apesar de seus problemas e falhas, é um ícone da TV de ficção científica. Mas 30 anos depois da estreia do programa, é uma pena que tantos fãs de ficção científica nunca tenham visto nenhum episódio.

Em linhas gerais, Babylon 5 fala sobre a luta entre o bem e o mal, sobre a luz e a sombras. Enquanto Star Trek mostrava uma raça humana que conseguiu abolir quase todos os problemas que nos assolam ainda hoje, Babylon 5 viu esses problemas se reproduzindo no espaço, que agora também é mais populoso pela grande variedade de alienígenas que convivem na estação.

Existem as enormes guerras que alteram o universo, batalhas menores entre espécies alienígenas, rivalidades pessoais e conflitos internos, tudo contado com muita habilidade. Os espectadores podem ver os personagens crescerem e mudarem (nem sempre pra melhor), e somos incentivadas a rir, amar e chorar com os habitantes da estação. Os heróis estão sempre lutando contra a escuridão, mas às vezes precisam fazer escolhas difíceis, enquanto alguns não percebem que estão sendo usados ou estão se tornando os vilões que procuraram destruir no processo.

Pode parecer o enredo de qualquer série atual de Star Wars, mas o que tornava Babylon 5 diferente era como queria contar essa história épica. Foi planejado desde o início com ganchos e objetivos secundários para incentivar os personagens e mudar as coisas conforme fosse necessário. Isso significava que o programa não dependia de nenhum personagem único, ainda que tivesse seus destaques, deixando todo o elenco respirar e crescer. Nos anos 1990 era raro ver este tipo de conteúdo na TV, mas ela acabou inspirando séries como Deep Space Nine, Battlestar: Galactica e Lost.

Babylon 5 foi uma série que abraçou a ficção científica descaradamente, trazendo techno-babble com base na ciência real, junto com médiuns, caçadores de almas, telepatas, profecias e viagens no tempo. Seus episódios nos fizeram aprender muito sobre o diverso e misterioso universo que há lá fora, mesmo que as restrições orçamentárias significassem que raramente víamos algo fora da estação. Os produtores mesclaram cenários reais com virtuais, o que seria o padrão para qualquer produção futura. E todo o CGI empregado, numa era em que as séries de TV usavam modelos em escala, foi pioneiro, ainda que pareça datado para os padrões atuais.

Numa era da ficção científica idealista monopolizada pelo universo de Gene Roddenberry dos anos 1990, Babylon 5 adotou uma abordagem mais corajosa e fundamentada do que seus contemporâneos. A cada temporada, a introdução do programa mudava, atualizada para refletir os eventos do que aconteceu, pois a narração dizia aos espectadores o que esperar. “O projeto Babylon era nossa última e melhor esperança para a paz. E falhou.”, uma frase famosa proferida por Susan Ivanova na introdução da terceira temporada, mostrava que as coisas não estavam dando certo e os personagens começaram a ficar desesperados. Afinal, era uma guerra e, como qualquer boa ficção científica, refletia uma mistura de preocupações atuais, históricas e contos míticos.

A inovação de Babylon 5 foi que toda a série foi planejada e produzida sem mudar nada que não precisasse ser alterado ou que não ajudasse a melhorar o programa. Tudo isso foi feito por um roteirista, algo que nunca havia sido feito antes. Straczynski estava tentando criar um novo paradigma para a televisão e quando precisou envolver outros autores, eles foram notáveis. Nomes lendários como Neil Gaiman, Peter David e D.C. Fontana (de Star Trek) contribuíram com episódios, enquanto Harlan Ellison atuou como consultor criativo para a série.

Babylon 5 quase não chegou às telinhas e, quando o fez, a série enfrentou vários obstáculos. Embora Straczynsk tenha feito planos para substituir os atores, se necessário, isso aconteceu com mais frequência do que se esperava, como a saída do comandante Sinclair, interpretado pelo falecido ator Michael O'Hare. O programa não tinha certeza sobre renovações de temporadas e isso significava que eles correram para produzir um final um tanto adequado, apenas para serem cancelados e entregar uma temporada final sem brilho. Babylon 5 matou seus deuses e venceu suas maiores batalhas, apesar do final agridoce da quinta temporada.

Pessoalmente, estou ansiosa por uma nova produção. Lamento muito a morte de sete dos doze atores principais da série nos últimos 30 anos, o que reduziu o elenco original, mas novas atuações seriam muito bem-vindas a um universo tão rico e com tantas histórias para contar.

Até mais!

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