Resenha: Evermore, de Sara Holland

Desde que li Everless que estava ansiosa pela continuação. A duologia faz ótimas discussões sobre exploração e opressão e tem uma heroína que não é perfeita, mas que tenta fazer o que é certo estando em uma situação perigosa. Depois dos eventos de Evermore fico me perguntando porque dois livros, ao invés de um só. Pode haver spoilers do livro anterior!

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco


O livro
Começamos nossa jornada praticamente no mesmo ponto em que paramos no livro anterior. Jules corre por sua vida, ainda sem lembrar direito sobre seu passado. Todo o reino está atrás dela, cartazes com seu rosto estão espalhados em cada vila. Jules está desorientada e sem saber o que fazer, assim corre para o único lugar onde acredita encontrar ajuda: sua antiga vila, Crofton.

Resenha: Evermore, de Sara Holland

Mas sua inimiga a conhece muito bem. E quando Jules menos espera, tendo perdido tanto e quase tudo o que amava, ela é prisioneira. Descobrimos no livro anterior sua verdadeira identidade e o que ela precisa fazer, mas se não lembrar de seu passado, se não encontrar uma arma, como poderá quebrar a magia do reino que faz as pessoas sangrarem?

Uma das coisas que mais gostei do primeiro livro foi a questão do tempo estar preso ao sangue das pessoas. Para poder sobreviver, muita gente procura os sangradores e vende seu tempo, algo que Jules também fez. Achei a ideia original, diferente e me prendeu desde o começo, pois é uma ótima forma de discutir os privilégios da classe dominante que se vale dos ferro-sanguíneos dos pobres para viverem eternamente. Enquanto isso, os pobres são praticamente esfolados apenas para terem o básico.

Essa questão e essa discussão ficaram inteiramente de fora do segundo livro. Enquanto Everless conseguiu ser original desde o começo, Evermore se parece mais com uma fantasia tradicional e seus clichês, onde a heróina sai em busca de seu passado ao lado do paquera bonitão de maneira a parar um mal inenarrável. A autora pegou uma fórmula e seguiu com todas as letras. Tinha muita discussão para se fazer sobre os ferro-sanguíneos, sobre o próprio reino, sobre suas vidas passadas, mas no fim senti que Evermore é mais um romance genérico de fantasia.

E assim, não é um livro ruim, mas quem leu um, já leu vários, e com certeza leu esse também. Os personagens entram e saem da vida de Jules enquanto ela segue pista atrás de pista na busca de uma arma fatal para eliminar a Feiticeira. Depois nunca mais falamos neles, não os ouvimos, nem sabemos o que aconteceu. Stef, por exemplo, é uma grande personagem que ajuda Jules em sua jornada e desaparece sem deixar vestígios.

É uma bênção ou uma maldição, nunca saber quanto tempo de vida se tem?

Por uns bons 75% do livro é só Jules correndo atrás do próprio rabo em busca de lembranças que praticamente levam a nada, onde ela luta contra a paixonite que sente por Liam. E ele é um bom personagem, só que ficou mal aproveitado aqui. Era perfeitamente possível ter desenvolvido melhor todos os personagens, não apenas ele, dado fins dignos, do que terminado tudo apressadamente. Ainda que o final guarde uma surpresa interessante sobre a Feiticeira e a Alquimista, ele não pareceu suficiente para a jornada toda que tivemos que empreender para chegar lá. E curti o final, achei a proposta interessante, mas no fim não ajudou muito a salvar o resto.

De alguma maneira, Evermore lembra A Branca de Neve, com uma feiticeira má, um caçador e corações roubados. Gostaria que houvesse mais corpo para a história. Faltaram páginas para desenvolver as ideias e não parece só mais um romance de fantasia. E talvez uma das coisas mais chatas do livro é o fato de Jules praticamente não ter identidade alguma. Ela não gosta de nada, não sabe fazer nada, não se interessa por nada, então ficar dentro da sua cabeça o tempo todo foi um saco.

O livro tem alguns problemas de revisão, como letras a mais ou a menos. Capa comum, com folhas amarelas e a ótima tradução foi feita pela Isa Próspero.


Ficção e realidade
O universo criado pela autora em Everless não está tão distante assim de nós. Em nosso mundo as pessoas buscam fórmulas milagrosas de juventude, se submetendo a procedimentos arriscados na tentativa do impossível. Especialmente as mulheres são descartadas com facilidade por conta da idade e muitas cedem à pressão da mídia e da indústria. Se inventassem uma maneira de extrair juventude do corpo das pessoas, pode apostar que a indústria encontraria uma maneira de explorar isso. Assim como os ricos precisam esfolar o trabalhador para manter seus privilégios, tal como a nobreza de Everless faz com seus súditos.


Sara Holland

Sara Holland é uma escritora norte-americana de fantasias juvenis e para jovens adultos. Everless é seu primeiro livro.


Pontos positivos
Protagonista feminina
Feiticeira e Alquimista
Stef e Elias
Pontos negativos

Ritmo lento
Enredo confuso

Título: Everless
Título original em inglês: Everless
Série Everless
1. Everless
2. Evermore
Autora: Sara Holland
Tradutora: Isadora Próspero
Editora: Morro Branco
Páginas: 352
Ano de lançamento: 2022
Onde comprar: na Amazon!


Avaliação do MS?
Terminei esse livro muito triste pelos rumos tomados pela autora. Achei a revelação do final bonita, interessante, mas o grande mal inenarrável que precisa ser derrotado não convenceu. Não acho que esta saga precisava de dois livros; com um só ela teria resolvido tudo e quem sabe teria sido melhor editado, com os pontos fracos sendo corrigidos e criado uma grande obra de fantasia. ACho que vale à pena para quem leu o primeiro e estiver bem curiosa para saber o final. Três aliens para o livro.


Até mais!

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Comentários

  1. Reparei que de uns tempos para cá (mas pode ser só impressão mesmo) você tem dado notas menores para os livros de fantasia. Acho que Guerra da Papoula foi um das maiores notas dos últimos tempos.

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    1. Não só fantasia, mas teve ficção científica recebendo essa nota também.

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