Tenho que admitir que comecei a ler esse livro acreditando que se tratava de mais uma fantasia juvenil com triângulo amoroso. Nada contra, mas já li tantas com a mesma fórmula que a gente meio que fica esgotada dela. Felizmente a autora supera as expectativas ao construir uma mitologia poderosa e que fala diretamente com a nossa realidade e sua busca incansável pela juventude eterna.
O livro
Jules Ember é uma moça pobre que vive com seu pai em uma cabana numa vila ainda mais pobre. Este é o reino de Sempera, onde a moeda corrente é o tempo, que é extraído do sangue, vinculado ao ferro e consumido para aumentar a vida útil de alguém. Os ricos, a nobreza, a aristocracia, esfolam os pobres ao máximo para poder assim estender suas vidas durante séculos. Enquanto isso, os pobres sangram seu tempo nas lojas para poderem se alimentar. A principal família do reino, os Gerlings, são bem odiados, mas ninguém odeia a família mais do que Jules e seu pai.Conforme viramos as páginas, Jules nos conta sobre sua luta para sobreviver e como precisou fugir de Everless, a propriedade dos Gerling. Jules testemunhou o que não devia e teve que fugir da fúria do filho mais velho, Liam. A filha do ferreiro, como era conhecida, tem pesadelos com a cena que presenciou que quase matou o mais novo, Roan e os olhos furiosos de Liam. Desde então, seu pai vem sangrando tempo para alimentar a família e proíbe Jules de fazer o mesmo.
Como acompanhamos o enredo pelos olhos de Jules, algumas vezes ficamos limitadas por sua percepção e o que ela acha dos outros. Dessa forma, alguns personagens vão se revelando para a nossa surpresa e também a de Jules, que tinha ideias pré-concebidas sobre elas no começo. O que é mais interessante sobre Everless é a mitologia criada pela autora a respeito da Feiticeira e do Alquimista. Um evento que aconteceu entre eles fixou o tempo no sangue das pessoas e quando mais você consome esse tempo, mais jovem permanece. O contrário também acontece, quanto mais tempo você dá, mais velha e debilitada vai ficando. Essa mitologia é o fio condutor da narrativa e descobrimos junto de Jules que as lendas podem ser reais.
Quando Jules descobre que o pai está morrendo, ela toma uma arriscada decisão. Contrariando o que ele tinha ordenado desde o começo, Jules decide retornar a Everless. O casamento de um dos herdeiros está se aproximando e a casa quer serviçais jovens e bonitas para os preparativos. Jules sabe que corre um risco de ser reconhecida, mas o dinheiro e o desespero falam mais alto. Do começo do livro até esse evento acontecer é bem rápido e nos jogamos na narrativa querendo logo saber o que pode acontecer a Jules.
Mas depois descobrimos que a jornada de Jules é muito maior do que achávamos antes. Os primeiros capítulos ficaram um pouco atolados de informação confusa que se desenrola depois, mas acredito que é por ser em primeira pessoa. É o fato de a própria Jules não compreender algumas coisas. Eu meio que esperava que algumas coisas acontecessem, mas em outras a autora decidiu seguir um caminho totalmente novo e fiquei muito feliz com a forma como a obra terminou, pois este arco se fecha e um novo vai começar na sequência e fechamento do enredo. Até poderia ser um livro único, mas entendo a decisão de dividir em dois. Ela agiu como um mágico que faz um show, enquanto o truque acontece atrás das cortinas e quando você descobre, SURPRESA!
Lembro do que meu pai dizia sobre cavalos: não pareça nervosa, mesmo se estiver. A mesma dica vale para a nobreza.
Página 202
As pessoas em Everless estão presas ao aqui e agora, já que há a possibilidade de se viver para sempre. Então você não precisa se preocupar com um paraíso ou um inferno se você sempre pode conseguir mais tempo. Basta sangrar os pobres. Basta esfolar os miseráveis e mantê-los à margem, transformando seu tempo de vida em moedas que você pode consumir. Fala se não é uma alegoria fantástica para o capitalismo, não é mesmo?
O livro tem alguns problemas de revisão, como letras a mais ou a menos. Capa comum, com folhas amarelas e a ótima tradução foi feita pela Isa Próspero.
Obra e realidade
O universo criado pela autora em Everless não está tão distante assim de nós, está? Em nosso mundo as pessoas buscam fórmulas milagrosas de juventude, se submetendo a procedimentos arriscados na tentativa do impossível. Especialmente as mulheres são descartadas com facilidade por conta da idade e muitas cedem à pressão da mídia e da indústria. Se inventassem uma maneira de extrair juventude do corpo das pessoas, pode apostar que a indústria encontraria uma maneira de explorar isso.Sara Holland é uma escritora norte-americana de fantasias juvenis e para jovens adultos. Everless é seu primeiro livro.
Pontos positivos
Protagonista femininaFeiticeira e Alquimista
Criativo e bem escrito
Pontos negativos
Revisão
Alguns clichês
Avaliação do MS?
Foi uma ótima leitura, uma excelente jornada. Não esperava que o livro me segurasse como segurou, mas o enredo vai te envolvendo até que você nota que não consegue mais largar. O que você começa a ler achando que já viu em algum lugar se revela um livro que inova e traz uma história te faz querer ler o próximo o mais rápido possível. Quatro aliens e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
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