A série Rastro de Sangue tem uma premissa incrível: uma jovem da Era Vitoriana que é perita forense, faz autópsias e investiga crimes ao lado de seu paquera, o sarcástico e misterioso Sr. Thomas Cresswell. Foi justamente por conta dessa características - thriller vitoriano que onde uma mulher investiga crimes - que a série me interessou logo de cara. Depois de dois primeiros livros incríveis, o terceiro foi uma decepção e assim cheguei no quarto livro sem muitas expectativas. E nem elas foram bem atendidas.
Esta resenha pode conter spoilers dos livros anteriores!
Esta resenha pode conter spoilers dos livros anteriores!
O livro
Começamos nossa jornada pouco depois do desembarque do RMS Etruria do livro anterior. Audrey Rose Wadsworth e Thomas Cresswell estão em Nova York. Audrey está perambulando pelo distrito dos açougues da cidade, junto de sua prima Liza, quando é informada de um assassinato. Um corpo de uma mulher foi encontrado não muito longe dali e ela parte, junto de Thomas e seu tio, um perito muito conhecido e famoso, para investigar. Sabemos que ficou um mistério desde o navio, sobre uma figura sombria que pode ter desembarcado junto com eles.Lidando com sequelas de um evento traumático no navio, Audrey Rose sofre com dores frequentes. A autora admitiu que também sofre de dores e queria colocar essa característica na protagonista de maneira a fazer as leitoras se identificarem. Admito que essa parte ficou interessante, porque eu sofro de dor crônica e houve momentos em que me identifiquei muito com o sofrimento de Audrey Rose, de como ela precisa dar tudo de si ainda que esteja tremendo de frio e de dor. Audrey também é uma moça vaidosa, que gosta de belos vestidos, de compras, e essa parte também aparece no livro, talvez até demais, sobrepujando suas qualidades de investigadora e perita.
Eu já conhecia a história de Holmes, o homem do título, por ter lido a ótima biografia dele que também foi lançada pela DarkSide. Por isso fiquei esperando para ver como a autora colocaria esse homem tão complexo na trama. E fiquei esperando, e esperando, e esperando... Audrey, seu tio e Thomas começam investigando mortes misteriosas que parecem ter uma semelhança inquietante com outro assassino que eles já investigaram antes. E apesar de saberem que não é possível, eles também sabem que não podem descartar nada. A polícia de Nova York está nervosa e está pressionada pela imprensa e pela opinião pública.
E aí a autora faz algo realmente irritante, algo que já vem desde o terceiro livro, que acabou tirando meu interesse por esse aqui. Ela esquece tudo isso, esse assassino terrível que tem eviscerado mulheres como um açougueiro pela cidade para focar... no casal. É isso aí. São mais de 250 páginas em que a autora trata de uma grande crise no relacionamento dos dois jovens, uma que foi resolvida em duas linhas de texto perto do final, e que poderia ter umas 150 páginas a menos. Estou desde o começo dessa série torcendo para que eles se peguem logo de uma vez para focarem nas investigações. Mas é um fogo que aparece do nada e toma conta de todas as situações.
E os crimes? E os assassinatos? E aquelas mulheres brutalizadas? E o thriller vitoriano de investigação que a sinopse me prometeu? E as cenas de autópsias, as perseguições? A autora optou por focar no romance, seja por pressão das leitoras, seja pela pressão dos editores, sei lá, mas continua vendendo os livros como romances investigativos. O assassino, os crimes, são apenas um detalhe na vida amorosa de Audrey Rose e Thomas. O casal, os dramas, os choros e todos os empecilhos para que o nobre (e absurdamente jovem casal) fiquem juntos tomam todo o espaço da narrativa que poderia ser brilhante e não é. Ao invés de quatro livros, fiquei com a impressão de que deveriam ter sido apenas dois.
Era um mundo injusto - um que não mostrava piedade alguma por aqueles que mais precisavam.
Página 102
Não me entenda mal. Eu gosto de bons romances. Audrey e Thomas são ótimos personagens, inteligentes, astutos, mas perdem o cérebro quando estão perto um do outro e a autora dá um espaço descomunal para o amor ameaçado deles. E são ameaças que, convenhamos, foram muito fracas, desde o livro anterior e neste livro aqui. A resolução foi toda fácil demais para 250 páginas de choro e drama. Eu não aguentava mais. Se o livro se vende como uma obra investigativa, entregue isso para quem está lendo e não foi entregue. E o que foi não é nem suficiente para criar a tensão que vemos nos primeiros livros.
Quando o tal Holmes, o maligno do título aparece, depois de quase 300 páginas de blá blá blá sobre o sofrimento de Audrey e Thomas, eu já estava tão de saco cheio que não ligava mais para quem morria ou vivia, se pegariam esse sujeito ou não. Só queria que o livro acabasse. A autora teve a oportunidade de criar a protagonista mais incrível neste segmento, mas criou uma moça boba e deslumbrada por um rapaz a ponto de perder a inteligência. Isso não é empoderamento.
Gostei da forma como a autora transferiu a ação de Nova York para Chicago, ainda que isso tenha demorado muito para acontecer, o que poderia ter salvado o livro bem antes. A cidade tinha sofrido um incêndio devastador em 1871 e estava se renovando, tornando-se um centro de arrojo e avanços em comparação a outras cidades. Continuar a caçada ao assassino misterioso na cidade condiz com a biografia do Holmes original e a cidade, além da Feira Mundial, estão bem descritos.
A edição em si é muito bonita, caprichada, seguindo o padrão dos livros anteriores. A tradução está muito boa, tendo ficado a cargo de Jana Bianchi e não encontrei problemas de revisão ou diagramação.
Obra e realidade
A autora tomou algumas liberdades criativas para encaixar seu universo na realidade, mas Holmes foi um assassino em série real, um dos maiores que os Estados Unidos já viu. Além de assassino era bígamo, tendo se casado várias vezes, e estelionatário. Conseguia enganar as pessoas com uma facilidade assombrosa e matava para depois vender os esqueletos descarnados para faculdades de medicina.Holmes serviu de inspiração para livros, documentários e até séries de TV. As séries Supernatural e American Horror Story têm episódios dedicados a Holmes em suas temporadas. Ele acabou ganhando o imaginário norte-americano, ainda que muita coisa a seu respeito tenha sido aumentada por revistas pulps.
Kerri Maniscalco é uma escritora norte-americana de livros para jovens adultos, apaixonada por cartas manuscritas, abacates, casas mal assombradas, discos de vinil e máquinas de escrever.
Pontos positivos
Protagonista feminina
Descrição dos lugares
Personagens fortes e bem escritos
Pontos negativos
200 páginas de blá blá blá
Paquerinha
Enredo fraco
Protagonista feminina
Descrição dos lugares
Personagens fortes e bem escritos
Pontos negativos
200 páginas de blá blá blá
Paquerinha
Enredo fraco
Avaliação do MS?
Um aspecto positivo do livro foi como ele retratou os horrores causados pelo assassino. E ter uma jovem moça atrás dele para parar sua sanha criminosa foi bem legal. Não é um livro ruim, mas é uma obra que deixa um gosto amargo após tantas páginas, tantas pontas soltas, tanto blá blá blá e sofrimento desnecessário entre os protagonistas. Para quem curte thrillers investigativos, só encontrará isso nos dois primeiros livros dessa série. Três aliens para Holmes, o Maligno.Até mais! 🔪
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