Meu relacionamento com o Andrew Pyper é conflituoso. Li O Demonologista vários anos atrás, até porque o hype era bem alto, e foi uma decepção. O livro me pareceu um rascunho de uma boa história. Então quando chegou A Criatura eu estava bem desconfiada da leitura. Tive muita boa vontade, tentei entrar na onda, mas acabou sendo a mesma leitura mediana do primeiro livro. Talvez menos.
O livro
Começamos a jornada por Lily Dominick, uma psiquiatra forense que avalia agressores e assassinos para o estado de Nova York. Mulher solitária (com uma descrição física de cabelo chanel e óculos que me fez lembrar da Edna Modas e não tirei mais essa imagem da cabeça), ela vive para seu trabalho. Quando era pequena, viu sua mãe ser assassinada, tendo uma visão muito vívida e clara do crime na mente e discordando do que foi dito pela polícia. O crime a atormenta ainda na vida adulta e sua figura profissional, além da sua pessoa, relutam com a conclusão do caso. O passado ainda a assombra. É assim bem clichê mesmo.Meu primeiro problema é Lily, rasa como um pires, um combo de estereótipos femininos que deveriam ter sido enterrados há muito tempo. Por exemplo: Lily prosseguiu com sua vida solitária, estudou, se formou, é uma ótima profissional, tem um mentor a quem respeita muito e um dia, ao chegar no trabalho, sabe que há um paciente na sala para entrevistar. Ele fora preso naquela manhã depois de arrancar as orelhas de uma pessoa. E é claro que o homem não é bonito nem feio, mas carrega um certo charme selvagem a fascina, ainda que a contragosto, e ela luta para retomar o tom formal da conversa, blá blá blá.
Ele lhe faz uma revelação bombástica na entrevista e se Lily já pensava no sujeito, sai da sala completamente fascinada no cara, a ponto de cancelar a agenda e... ir às compras. Ela marcou um encontro nesses apps de namoro por insistência de sua assistente e sai com o tal cara que, lógico, não tem nem metade do charme e mistério do sujeito na cadeia e enquanto ela vai pra cama com o sujeito, ela tem o pensamento mais imbecil que eu vi em uma personagem feminina em muito tempo. Enquanto o sujeito se esforçar pra fazer amor com ela, ela tá pensando no cara lá: ele me foderia. Sério??
A tal criatura do título é quem dá o tom de thriller de terror ao livro, trazendo um tom gótico por lidar com seres que já conhecemos muito bem. Ele diz ser o homem que inspirou os clássicos O médico é o monstro, Frankenstein e Drácula. É uma coisa audaciosa de se fazer. É preciso ser um escritor de cacife e pulso firme para dar vazão a um enredo com personagens praticamente mitológicos. E Andrew não é esse cara. Nota-se que ele fez uma certa pesquisa para essa parte - coisa que não fez para Lily - mas nem isso se sustenta.
As decisões da personagem e a jornada dela para descobrir a verdade sobre sua mãe e sobre a tal criatura também não se sustentam. Você tem uma cena ou outra de sustinho, mas isso não é o suficiente. Andrew consegue criar algumas boas cenas em troca de uma narrativa pobre e esquecível. Assim como não lembro muito de O Demonologista, esse livro também vai cair na mesma categoria. É uma pena. O autor pode funcionar para algumas pessoas, mas para mim não rola.
(...) a diferença entre animais e pessoas é que animais não cometem assassinatos, eles caçam.
Página 16
Existem boas cenas de descrição e de lembranças da criatura entremeadas a uma narrativa que lembra uma caça ao tesouro fraca e mal construída. Existem eventos que surgem na vida de Lily e somem, sem a menor preocupação do autor de explicá-las. Ninguém editou o livro antes do lançamento lá fora? Cheguei ao final sem nem me importar com a grande revelação, com os segredos enfim revelados. E de novo me deu a impressão de estar lendo um rascunho de uma boa ideia. Andrew, por favor, participe de uma oficina criativa, tenha umas aulas de escrita, porque não dá. Um ótimo autor para a DarkSide investir seria o Harlan Ellison. #ficadica
O livro segue o padrão de luxo demoníaco da DarkSide, com capa dura em texturas diferentes e um ótimo trabalho gráfico interno. Não encontrei grandes problemas de revisão e tradução na obra, que ficou na mão de Cláudia Guimarães.
Obra e realidade
Lidar com clássicos é algo complicado. Você corre o risco de esvaziá-los de seu conteúdo e torná-los uma caricatura. O que foi feito em Dracul, a origem de um monstro, de Dacre Stoker e JD Barker foi um ótimo trabalho ao entrelaçar o mito de Drácula ao autor Bram Stoker. O romance está crível, gótico, homenageando os mitos vampíricos originais, com material removido da edição clássica de Drácula. Sinto que Andrew tentou fazer a mesma coisa, mas acabou dando um passo maior que a perna.Andrew Pyper é um escritor canadense.
Pontos positivos
Capa dura
Monstros da literatura
Trabalho gráfico
Pontos negativos
Narrativa
Protagonista
Preço
Capa dura
Monstros da literatura
Trabalho gráfico
Pontos negativos
Narrativa
Protagonista
Preço
Avaliação do MS?
É, não deu. Achei que pudesse ser apenas implicância minha. Li O Demonologista há muito tempo, fiquei com uma impressão ruim. Achei que o problema fosse comigo, fosse só aquele romance. Pelo visto meu problema é com o autor e seu estilo, que não conseguem me convencer. Só dois aliens para ele e porque a edição é lindíssima.Até mais!
Pronto! Agora fiquei com a imagem da Edna Moda na cama com o carinha do app pensando: "Ele me foderia?"
ResponderExcluirAgora como eu durmo com essa imagem na mente? rsrs!
Hahahahahahahah 🤣
ExcluirSocorro! 😅