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Não é tarefa fácil definir o que é energia. É mais fácil definir o que ela não é do que dar uma definição fechada sobre o termo e ainda assim corremos o risco de deixá-la incompleta. Energia é uma grandeza física, uma área de estudos, é a capacidade de produzir um trabalho ou de realizar uma ação, ela é potencial, cinética, térmica, elétrica, mecânica, mas pode ser um recurso, como energia solar, eólica, hidrelétrica. Sua relação com a palavra trabalho é imensa, tanto que energia vem do grego εργος (ergos) que significa "trabalho".
Não vivemos sem ela. De fato, para escrever este post vários tipos de energia estiveram envolvidos, mas para fins de praticidade vamos definir que a energia tratada aqui é aquela que recebemos em casa e que liga nossos eletrodomésticos, bem como aquela quantidade de energia que cai no tanque dos veículos todos os dias. Tenho que fazer isso ou o post vira uma tese, o que não é o caso aqui.
A energia elevou civilizações. Conforme a força de nossos braços passava paras as máquinas os feitos da raça humana se multiplicaram. Conseguimos enviar até sondas para outros planetas e para fora do sistema solar, porém ainda corremos um risco sério de enfrentar um gargalo energético conforme a população cresce, bem como as cidades. Desde o fim da Revolução Industrial, passando por todo o século XX, a demanda por energia só tem aumentado. Atualmente, 75% de toda a energia produzida no mundo é consumida por apenas 25% de sua população, sendo que cerca de 2 bilhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade.
Por que tão pouco consome tanto? É a parcela dos países mais ricos, que consome a todo vapor, enquanto em algumas regiões não podemos acender as luzes. Sem energia o país não lucra, não produz, sua população fica restrita à miséria porque sem crescimento econômico não há empregos, não já consumo, não há renda. A falta de energia é um dos grandes entraves para que nações em desenvolvimento consigam de vez deslanchar.
Mas que modelo energético os países querem seguir? Se toda a população mundial começar a consumir como se faz nos Estados Unidos, vai faltar energia e também planeta para suprir a demanda. O ideal é consumir menos, mas sabemos o quão pouco as pessoas estão empenhadas em fazer isso. As facilidades trazidas pela energia elétrica, por exemplo, superam e muito os desejos de uma vida melhor para o restante da humanidade.
A série de TV Revolution consegue mostrar como que seria um mundo onde voltássemos para as velas e para o arado puxado por animais. Viveríamos em um mundo pré-industrial, andando a cavalos ou em carroças, sobrevivendo dos espólios da raça humana. Famílias em diferentes continentes ficariam separadas, a menos que voltássemos rapidamente para às grandes navegações, numa tentativa de reconectar a raça humana. Ciência e tecnologia ficariam paradas, já que elas consomem muita energia. Baterias durariam ainda por um tempo, mas e depois que descarregar?
Entra aí a importância de se diversificar um parque energético de um país. Evitar que se concentre em apenas uma modalidade, como a hidrelétrica, afinal o seguro morreu de velho. Veja o que acontece em SP com relação à água. Houve tempo hábil para se preparar para tempos de crise e nada foi feito, até que os níveis do Sistema Cantareira praticamente zerassem. Vimos como a ineficiência brasileira nos levou ao racionamento anos atrás para poupar energia no país ou teríamos apagões mais e mais comuns. Só quem viveu um apagão consegue lembrar da sensação de ter o mundo entregue às escuras novamente.
Uma crise energética deste porte também poderia criar uma elite que seria capaz de controlar uma parcela da população. Aqueles que detenham painéis solares ou usinas eólicas poderiam cobrar pelo fornecimento de energia, quem sabe até manter um pequeno exército particular para poder manter as pessoas sob controle. Num mundo carente de energia, não é difícil de imaginar o cenário, com locais recheados de usinas eólicas e/ou painéis solares a perder de vista, sendo vigiados por homens armados, a fim de impedir que a preciosa energia ali produzida seja roubada.
Revolution. |
As indústrias seriam as primeiras afetadas pela falta de energia. Seja pelo motivo que for que ela acabou - terrorismo, interferência eletromagnética, sabotagem, despreparo governamental - assim que as luzes apagassem e mostrassem que não conseguiram voltar, as indústrias parariam suas máquinas. Locais com geradores conseguiriam se manter por algum tempo, mas poderia existir aí uma manobra para se controlar refinarias, bombas e postos de combustíveis para ter em mãos outra forma de se obter energia. Mas até a gasolina e o diesel têm limites e sem formas de se obter mais, logo estaríamos entregues à escuridão.
Sem energia, internet não funcionaria. Como manter os servidores? Eles até podem ficar ligados, mas como alimentar os computadores sem energia elétrica? Ou seja, uma pequena elite que conseguisse ter o controle de usinas com energia alternativa poderiam muito bem fornecer o conforto e a segurança que o momento de hoje nos dá, onde temos água quente no chuveiro a hora que quisermos. Usinas nucleares, certamente, seriam os lugares mais cobiçados em nações desenvolvidas, e consigo imaginar tropas do governo ao redor delas para impedir a fúria da população às cegas.
Este é um gargalo difícil de resolver. Não dá para apostar unicamente em um tipo de obtenção de energia já que todas elas têm suas desvantagens. Tem também a questão do curso e da demora na construção, os impactos ambientais (que sabemos bem como são no caso das hidrelétricas). Todo mundo sabe o que houve com Chernobyl e o que acontece quando você usa de maneira errada a energia. São tantos poréns e isso expõe o pescoço da civilização mundial de tal maneira que me espanta muito ver o quão pouco valor as pessoas dão para a energia. Quando a gente paga a conta de luz não percebemos tudo o que aconteceu nos bastidores para nosso computador funcionar. Nem pensamos no que vai acontecer quando ela acabar, pois ela parece ser infinita. Mas não é.
A falta de energia limita o crescimento de uma nação. A ausência de energia derruba uma civilização. Diversificar e apostar em tecnologias menos gulosas por energia podem assegurar que não fiquemos às cegas no futuro, mas é preciso conscientizar sempre para que lembremos que energia pode sim um dia acabar. E vai. Vamos, ao menos, tentar evitar este momento ao máximo.
Até mais!