Fim da civilização: o clima

Este post foi escrito por quatro mãos e duas mentes lyndas e maravelousas. Pedi a ajuda da Samantha, do ótimo blog Meteorópole para me ajudar com as questões climáticas que podem derrubar uma civilização, pois ela é meteorologista e tem muito mais conhecimento de causa do que eu. A questão aqui é: o clima pode acabar com uma civilização, mas quais são os eventos que podem fazer isso?

Fim da civilização: o clima




Vamos imaginar que uma enorme erupção vulcânica aconteça. Segundo especialistas, a cratera Yellowstone pode explodir a qualquer momento. A população das áreas vizinhas ao vulcão seria a primeira a sentir as consequências imediatas, mas o impacto não seria apenas local. Uma grande erupção vulcânica produziria impactos no clima. E isso já aconteceu diversas vezes no passado. O caso mais dramático é o do Vulcão Toba.

O supervulcão Toba entrou em erupção por volta de 70.000 – 80.000 anos atrás. Era localizado onde hoje é o Lago Toba, na Indonésia. Durante uma erupção vulcânica, uma grande quantidade de material piroclástico é lançado na atmosfera. Esse material consiste basicamente em fragmentos de rochas de vários tamanhos e cinzas. Muitas dessas rochas são higroscópicas, ou seja, atraem água com facilidade. Assim, logo após a erupção vulcânica, formam-se nuvens sobre a região da erupção. A chuva cai, fazendo também com que parte das cinzas vulcânicas desçam com ela. Temos esse tipo de situação apresentada na ficção, no filme O Inferno de Dante.

Logo após a erupção do Toba, certamente uma sequência de chuvas torrenciais atingiu as proximidades. No entanto, o material piroclástico não ficou confinado apenas nas primeiras camadas da atmosfera. Esse material chegou à estratosfera (camada acima da troposfera, que é a primeira camada da atmosfera), onde não há mecanismos para remover essas partículas rapidamente (como a chuva), onde teriam ficado por muitos anos. Essas partículas obscureceram o Sol, fazendo com que menos raios solares atingissem a superfície. Consequentemente, a superfície da Terra ficou mais fria. A temperatura média do planeta pode ter caído de 3°C a 5°C. Parece pouco, mas estamos falando em médias. Isso significa que diversos eventos de frio extremo em vários pontos do planeta poderiam ter reduzido essa média. No entanto, outros cientistas são mais conservadores: Oppenheimer (2002), por exemplo, acredita que uma queda de 3°C a 5°C é muito alta e de acordo com suas análises, a redução de temperatura deve ter sido apenas 1°C.

Alguns especialistas acreditam que o frio intenso foi suficiente para reduzir severamente a população humana. O frio intenso provocado pela explosão do vulcão Toba pode ter sido responsável pela redução do número de habitantes de nosso planeta. A maioria das estimativas diz que restaram menos de 10.000 indivíduos. Algumas estimativas mais dramáticas falam em menos de 3000 seres humanos. Isso não é exatamente o fim do mundo, mas acho que é o mais perto de fim do mundo para nós humanos. Se essas estimativas estiverem corretas, isso significa que os atuais 7 bilhões de seres humanos que habitam nosso planeta são descendentes desses 10.000 indivíduos.

Um caso mais recente na história da humanidade, de erupção vulcânica com grande influência no clima, foi o Vulcão Tambora, que entrou em erupção em 1815. No ano seguinte, o inverno foi extremamente rigoroso. Geadas e até neve foram registradas no mês de junho no nordeste dos Estados Unidos, ou seja, neve e frio durante o verão. O ano de 1816 é conhecido como ano sem verão.

Para se determinar evidências do Vulcão Toba, utilizou-se registros paleoclimáticos e teoria. Já no caso do Vulcão Toba, os diários das pessoas tiveram um papel fundamental. O costume de escrever em diário era mais comum do que nos dias de hoje (ok, hoje temos os blogs rs). Os diários das pessoas que viveram o ano de 1816 constituem num importante registro documental, como no caso do relato de um morador de Connecticut, em 7 de junho de 1816:

Eu me lembro bem de 7 de junho… vestido com roupas grossas de lã e com uma capa. Minhas mãos ficaram tão frias que eu tive que deixar minhas ferramentas de lado e usar um par de luvas … Em 10 de junho, minha esposa trouxe algumas roupas que tinham sido estendidas no varal na noite anterior. Essas roupas estavam duras e congeladas, como acontece no inverno.

O frio também foi intenso na Ásia e na Europa. O ser humano não tem muita resistência em situações de frio intenso, já que somos animais endotermos (temos sangue quente). Quando a temperatura cai demais, nosso corpo aciona defesas que em um certo momento colapsam e não podem mais manter o organismo vivo. Quando o frio é intenso, é comum ouvirmos falar de mortes. Até mesmo em São Paulo (SP), quando as temperaturas mínimas eram mais baixas, era comum ouvirmos falar de mortes de pessoas carentes ou de moradores de rua em dias muito frios de inverno.

Durante a Guerra Fria, ameaças de detonação de dispositivos de destruição em massa, muitos deles armas nucleares, alimentaram o temor de um inverno nuclear. A teoria foi proposta inicialmente pelo cientista soviético Vladimir Alexandrov e propõe que uma guerra nuclear mundial destruiria diversas cidades, fazendo com que uma nuvem de cinzas obscurecesse o céu, impedindo que os raios solares chegassem até a superfície. Ou seja, um efeito posterior muito parecido com aquele da erupção de um supervulcão.

A queda de um asteroide também alteraria nosso clima. Além do choque do asteroide matar instantaneamente os moradores da área afetada, muitas partículas seriam levantadas, causando o mesmo efeito. Isso já foi explorado em diversos filmes hollywoodianos, de maneira interessante ou completamente desastrosa (sem trocadilhos). Quem leu o livro ou viu o filme A Estrada sabe que o autor não definiu qual foi o evento catastrófico que acabou com a civilização, mas a julgar pela morte de plantas e animais e pelas cinzas cobrindo a superfície, podemos imaginar que possa ter sido um supervulcão ou a queda de um asteroide.

Uma erupção vulcânica intensa como as mencionadas acima ou uma série de explosões nucleares poderia ser a responsável pelo fim da civilização? Certamente. Muitos acreditam em nossa capacidade de adaptação. No entanto, as mudanças causadas por uma erupção vulcânica de grande porte seriam muito rápidas, dificultando a implantação de planos de adaptação. Mesmo que não ocorresse uma total aniquilação, passaríamos por momentos de terríveis privações. Com o frio intenso, plantações não prosperariam e o gado morreria. Talvez a civilização mergulhasse em uma barbárie tão grande que seria muito difícil voltar ao estado de desenvolvimento.

Várias evidências sugerem que civilizações ruíram também devido às secas prolongadas. A civilização do Vale do Indo e os Maias teriam sido grandes vítimas de secas. Já estamos acompanhando o que a pior seca dos últimos 70 anos na região sudeste fez aos reservatórios de água, que rebaixou os níveis do Sistema Cantareira para 10% de sua capacidade. E com a chegada do inverno, a situação tende a piorar. Estamos pagando pela negligência governamental que contava com a mãe natureza e quebrou a cara.

O próximo post catastrófico será sobre água. E isso será abordado com maior profundidade. Por enquanto, vamos torcer para o Yellowstone não explodir.

Até mais!

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