A ficção científica morreu?

Em uma postagem distante, chamada A morte da ficção científica, eu respondi às mesmas perguntas que Earl Kemp fez em sua obra intitulada "Who Killed the Science Fiction?" e que teve contribuição de Isaac Asimov e Ray Bradbury. Já naquela época, anos 60, quando o gênero bombava, havia essa pergunta. E isso faz pensar.





Eu estava muito ansiosa para assistir Prometheus. Sou fã da franquia Alien, então era de se esperar que eu fosse babando ver o bendito. O que eu vi, apesar de visualmente ser sensacional e de uma certa maneira suprir o vácuo deixado pelas últimas produções do gênero, não me agradou muito. Achei um enredo mal amarrado, com muitas pontas soltas, que apelou para a grandiosidade do cenário e dos efeitos especiais.

Cena do filme Prometheus
Cena do filme Prometheus (2012).

O que está acontecendo com o gênero? Tenho visto muitas reclamações sobre as produções de ficção científica e o que eu tenho visto no cinema e na televisão não têm me agradado. Além da mesmice, pois são sempre os mesmos assuntos, elas são apenas um espetáculo visual, mas vazio de conteúdo.

Quando eu digo mesmice, digo que existem apenas três correntes apresentadas nos enredos ultimamente:

  • eles são apocalípticos, pós-apocalípticos e distópicos, cujas características são um futuro deprimente, com sociedades controladas, com Terra destruída ou em vias de;
  • viagens no tempo, nem sempre tão boas assim, em geral indo para o passado, e;
  • super-heróis, que mesmo tendo um passado nos quadrinhos, tem deixado muito a desejar nas telonas.

Existem muitos subgêneros dentro da ficção científica, muitos mesmo. Mas ao que parece, o que tem vendido, são apenas esses três. Mesmo que as pessoas no geral não reconheçam essa variedade de estilos, ainda assim elas percebem a clara diferença entre eles.

Nos blogs de fora tenho visto o mesmo questionamento. Em alguns a coisa é tão pessimista, que já fizeram o funeral da ficção científica, pois eles alegam que ela morreu faz tempo. Diferente do Brasil, o gênero vinga e floresce em outros países, com livros, fanzines e até produções independentes. Porém, eles fizeram algumas reflexões interessantes.

Futuro promissor X Futuro decadente
O que antigamente nós víamos como ficção científica mostrava um futuro promissor, em especial com o fim das guerras, em que surgia um novo mundo. Nos anos 50 e 60, o mundo do futuro era visto com bons olhos. As pessoas estavam ansiosas para chegar o momento em que teríamos viagens espaciais, robôs para nos auxiliar, cura para as doenças e um mundo limpo e seguro para se viver e criar nossos filhos. Talvez Os Jetsons e Jornada nas Estrelas sejam os melhores exemplos deste futuro colorido. Era uma geração que não queria viver a pobreza das décadas anteriores.

O futuro retrô.

No entanto, as mudanças que tivemos no mundo nos últimos 30 anos têm apontado para um futuro pessimista, negro, destruído. Digo apontado, mas não confirmado. Mudanças climáticas, desastres ambientais, guerras e genocídios, crises econômicas em cascata. De uma maneira ou de outra, muitos autores que nasceram nessa época estão sendo influenciados pelo ambiente e pela sociedade em que vivem e isso reflete nas obras também. As pessoas não acreditam mais em futuro promissor, acreditam no desastre e isso lhes é oferecido pela mídia.

Cine catástrofe vende.

Mercado
Querendo ou não, esses gêneros vendem. Atraem o grande público que lota os cinemas em busca de diversão garantida e pouco conteúdo. Gostam dos efeitos especiais que estão criando mundos inteiros e inovando, como no caso de Avatar, unindo super-heróis, criando cenários. Mas não é só isso. Se podemos citar um dos efeitos da globalização, a aceleração da informação, da criação e da disseminação da mesma, parece que foi criado um tipo de espectador que busca uma satisfação rápida. Filmes, séries ou livros de ficção científica que exijam reflexões um pouco mais profundas, são pouco procurados. O fracasso de Stargate Universe é um dos melhores exemplos.

A fantasia
Muita gente confunde ficção científica com fantasia. Mas elas não são as mesmas coisas e a fantasia tem saído na frente no mercado. Basta ver a fama que As Crônicas de Gelo e Fogo, Harry Potter e Senhor dos Anéis possuem. Eu adoro as três sagas, já li tudo o que saiu sobre elas, mas ao procurar ficção científica numa livraria, fico desapontada.

Não só aqui, mas lá fora a fantasia está ganhando mais espaço entre os leitores. Mulheres e adolescentes em especial são os grandes consumidores. Pode ser uma forma de escape, já que a ficção científica tem se mostrado tão pessimista e decadente e isso os faça preferir um universo totalmente diferente do nosso. Pode ser por ciência não cativar tanto ao público, que costuma ver isso como algo complicado e indecifrável. Pode ser que ele não abra as portas para mulheres e minorias. Mas de uma certa maneira, a ficção científica tem o seu conteúdo fantástico, visto que não sabemos como são outros mundos nem seus "habitantes". Isso é fantasia das boas, dentro de uma obra de sci fi.

dragão
Ficção fantástica tem cativado mais.

O público jovem também apresenta um diferencial. Eles já nasceram em uma época de celulares, computadores, visitas ao espaço, satélites, engenharia genética. Se no passado esses eram aspectos comuns aos enredos, um livro que contenha tais elementos pode parecer pouco interessante ao jovem leitor. Já num enredo fantástico, a surpresa o aguarda em cada esquina.

Só analisar a quantidade de entretenimento para jovens de cunho fantástico: Saga Crepúsculo, Charmed, The Vampire Diaries, True Blood, Buffy.

E aí, morreu mesmo?
Eu acho que não. Ainda existem leitores, autores e fãs que sustentam o gênero. Acho apenas que ela está passando por uma fase letárgica, mas não necessariamente inativa, morta. Por ser um gênero tão rico, sempre terá seus fãs e não duvido que ela volte a ser popular novamente. O problema é quando. E como, pois se o futuro já chegou com todas as parafernálias que o gênero mostrou, do que mais os autores vão falar?

E você? Acha que a ficção científica merece a missa de sétimo dia ou ainda há esperança? Não deixe de comentar, até mais!

Destruição e renascimento andam de mãos dadas ... os dois são a mesma coisa. Tudo se quebra. Quando quebrado, nasce de novo.

Marjorie M. Liu

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