Resenha: Gary Ridgway - O Assassino de Green River, de Ann Rule

O assassino do rio Green aterrorizou a região de mesmo nome, no estado de Washington por anos, tendo confessado 93 assassinatos, sido condenado por 49 deles. Considerado um dos maiores serial killers da história norte-americana, desbancando nomes como Ted Bundy, a polícia montou uma força-tarefa que durou mais de vinte anos na tentativa de capturar o assassino. Ann Rule acompanhou de perto a investigação para poder contar como foram aqueles anos terríveis até a condenação de Gary.

Este livro foi uma cortesia da editora DarkSide

O livro

Conhecida pelo público brasileiro pelo livro sobre Ted Bundy, Ann Rule não tinha ideia de que a investigação dos assassinatos ocorridos no começo dos anos 1980 perto da sua casa seria tão importante e longa. Corpos de mulheres começaram a ser resgatados de locais ermos, beira de rio, bosques e colinas, às vezes três ou mais de uma vez só. Começava a ficar claro para as autoridades que eles tinham um caso incomum em mãos.

Não parecia possível que um homem, ou até mesmo dois homens trabalhando juntos, pudesse matar meia dúzia de mulheres e escapar impune por muito tempo. Claro que erros e enganos seriam cometidos e eles o pegariam.

A maioria era de mulheres jovens, que fugiram de casa e tentavam ganhar a vida nas ruas, como prostitutas. Rule se demora e algumas biografias para mostrar todas as tragédias que acabaram levando essas mulheres para as ruas, onde estavam à mercê de desconhecidos. Muitas diziam que jamais se deixariam pegar por um assassino, que sabiam se proteger, enquanto outras desapareceram e seus corpos foram encontrados anos depois. O que fica óbvio com a leitura é o ódio às mulheres, principalmente da parte do assassino e da própria sociedade, pois houve protestos pedindo que a polícia impedisse que esses crimes chegassem às "mulheres de bem".

Rule dedicou o livro às vítimas de Gary Ridgway dá contornos muito humanos àquelas moças que encontraram um fim tão trágico. Ainda há ossadas sem identificação e é provável que mais corpos sejam encontrados. Terminei a leitura com a sensação de que Gary escondeu muita coisa, mesmo sabendo que mentir para a polícia poderia mandá-lo direto para o corredor da morte. Talvez ele acredite que seja um trunfo para trocar por algo, ou seja, apenas um egoísta mesmo.

Enquanto narra a vida de algumas das vítimas e o cotidiano das investigações e da força tarefa que investigava as mortes, Rule se debruça sobre a biografia do próprio assassino. Acho que a melhor descrição que encontrei para o que Gary Ridgway é: um homenzinho de merda. Ao mesmo tempo que era sexualmente atraído por prostitutas, aprendeu que elas eram todas "vagabundas", ouvindo isso em casa. Tinha vergonha da atração que sentia pela própria mãe, que costumava lhe dar banho depois de urinar na cama e isso o deixava excitado.

Quando os seres humanos estão no caminho da destruição, muitas vezes é tarde demais para salvá-los.

Provavelmente, esse conflito de sentimentos que tinha com a própria mãe alimentou sua fúria e seu ódio pelas mulheres. Ele saía para caçar com suas caminhonetes, fingindo ser um bom moço que só queria companhia, mas levava as mulheres para locais ermos e as estrangulava. Depois desovava os corpos em lugares já familiares para eles. Quando o local ficava muito visado, ele abandonava e encontrava outro. Uma coisa que me deixou enojada é o fato de Gary gostar de visitar os corpos nos dias seguintes. Além de assassino e estuprador, também era necrófilo.

Mas Gary só foi preso em 2001, enquanto seus crimes foram principalmente entre 1982-84. Durante esse tempo, Gary esteve na lista de suspeitos junto de outros homens e sempre conseguiu se safar. A ciência forense precisava evoluir o suficiente a ponto de gerar provas irrefutáveis que colocassem o assassino na cadeia. Enquanto isso, ossadas, partes de crânios e arcadas dentárias continuavam sendo encontradas pela região. De uma maneira sombria, o legista acabou se acostumando com esses restos mortais e a árdua tarefa de identificar as vítimas.

A força tarefa teve seus altos e baixos, mas nunca deixou de investigar as mortes e desaparecimentos dessas jovens mulheres. Nem todas eram prostitutas, algumas apenas confiaram num homem que parecia inofensivo. Enquanto os anos passavam, os investigadores mantinham contato com a maioria das famílias das vítimas, sempre imaginando quando esse assassino cometeria um deslize para ser, enfim, preso. Rule comenta brevemente sobre os suspeitos e sobre o papel que supostas médiuns tiveram ao longo dos anos.

O livro segue o modelo do livro sobre Ted Bundy e está bem diagramado e revisado. Senti falta de um mapa da região onde Rule morava, pois em vários momentos ela fala sobre esquinas, ruas e bairros que lhe são familiares, mas para nós não. A tradução de Cláudia Mello Belhassof está ótima e não encontrei problemas durante a leitura.

Obra e realidade

Gary só foi preso em 2001. Essa demora frustrou famílias, investigadores, poder público, porque Gary Ridgway já era considerado um suspeito, mas passou no detector de mentiras, era casado e levava uma vida pacata como pintor de caminhões. O que o botou atrás das grades foram os exames de DNA. Amostras foram tiradas não somente dele, mas dos corpos de suas primeiras vítimas, que ficaram guardados para que, um dia, a ciência forense fosse capaz de apontar um culpado.

Mas o poder público sabia que as provas não diziam com todas as letras que ele matara aquelas mulheres. Apenas que tivera contato íntimo com elas. Se fosse a julgamento, a promotoria pediria a pena de morte e para evitar a injeção letal, Gary concordou em fazer um acordo, indicando os locais de desova e confessando os assassinatos que cometera, em troca da prisão perpétua. Ele permanece isolado na prisão até hoje sem possibilidade de liberdade condicional.

Ann Rae Rule foi uma escritora norte-americana de livros e artigos sobre crimes reais. Ela é mais conhecida por seu livro sobre o serial killer Ted Bundy com quem Rule trabalhou e quem ela considerou um amigo, mas mais tarde foi revelado que era um assassino. Ann faleceu em 2015.

PONTOS POSITIVOS
Análise de criminosos em série
Pesquisa
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS

Descrição dos crimes
Preço

Título: Gary Ridgway - O Assassino de Green River
Título original em inglês: Green River, Running Red: The True Story of America's Deadliest Serial Killer
Autora: Ann Rule
Tradutora: Cláudia Mello Belhassof
Editora: DarkSide (selo Crime Scene)
Ano: 2024
Páginas: 520
Onde comprar: na Amazon ou na loja da DarkSide com brinde exclusivo

Avaliação do MS?

Não leio esses livros para obter detalhes sangrentos dos crimes. Leio porque quero entender o que leva um ser humano a fazer isso e como foi que a polícia finalmente o pegou e o prendeu. É isso o que me interessa. Esse livro tem um tom mais lento do que o de Ted Bundy, mas recomendo para os fãs de true crime que também queiram, assim como eu, entender. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você também ler.

Até mais!

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