Desde o ano passado que estava com vontade de reler algumas obras favoritas de anos anteriores. E a trilogia do Mago Negro é uma delas! Com uma protagonista forte e cativante, um mistério a se desvendar e muito a se descobrir em seus três volumes, a saga de Sonea é uma ótima pedida para aquelas que gostam de livros com magia e aventura e ainda que discuta temas sérios como desigualdade, pobreza e preconceito.
Este livro faz parte do Projeto Releituras!
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O livro
Imardin, principal cidade de Kyralia, as pessoas que vivem nas favelas temem muitas coisas: a fome, os roubos, a falta de lugares para morar, mas o temor principal é o dia da purificação, quando os magos do Clã dos Magos, a principal ordem que treina e emprega pessoas dotadas de magia, começa a limpar as ruas de "cidadãos diferenciados". Ou, traduzindo, gente pobre; favelados, como são chamados no livro. E Sonea, uma jovem órfã, criada pelos tios, é uma delas.Dizem que em Imardin o vento tem alma e chora lamentosamente pelas ruas estreitas da cidade porque se entristece com o que encontra por lá.
Sonea, uma adolescente que conhece muito bem as desigualdades de Kyralia, se junta a velhos amigos na praça quando os magos se reúnem para começar a purificação a mando do rei. Protegidos por seus escudos mágicos, eles se sentem inabaláveis. Mas Sonea, juntando toda a raiva que pode encontrar em si, joga uma pedra que perfura o escudo e acerta um dos magos na cabeça. No pânico, a jovem é identificada por um dos magos e ela decide correr por sua vida. Sua ideia de quem são os magos é bem ruim e acompanhamos essa sua impressão em boa parte da leitura. De início, nem dá para pensar outra coisa.
Felizmente, Trudi Canavan não se limita a apenas mostrar a visão da jovem Sonea. Acompanhamos também um dos magos, Rothen, que sabe que a jovem logo poderá perder o controle de seus poderes. Um mago sem controle é como uma bomba prestes a explodir se não for devidamente ensinado. Começa então uma corrida contra o tempo para encontrar a garota, antes que seja tarde. De uma coisa, Rothen e seu amigo, Dannyl, têm certeza: ela é uma jovem muito poderosa e precisa ser encontrada. Para isso, eles vão se embrenhar nos becos e ruelas das favelas e até buscarão ajuda com os criminosos da região para achá-la.
Nesse começo da leitura, o que temos é um jogo de gato e rato. Os magos buscando Sonea, Sonea fugindo deles. Isso nos dá tempo de conhecer os principais personagens, como Cery, amigo dela e que a ajuda a se esconder, Lorlen, administrador do clã e até o assustador Akkarin, o Lorde Supremo (e chefe da porra toda). Os magos de fato parecem pedantes e um tanto arrogantes em alguns momentos. Acho que o fato de terem grandes poderes mágicos poderia mesmo deixar alguém agindo assim, mas não só isso: todos os membros do clã vieram de casas nobres de Imardin. E alguns deles estão bem insatisfeitos com uma garota favelada descobrindo poderes.
Essa desigualdade acachapante é contrastada ao longo da leitura. Magos no conforto de seus alojamentos, podendo criar escudos de calor para se protegerem do frio, enquanto pelas favelas, as pessoas mal têm o que comer. Enquanto perambula pelas vielas, becos e passagens subterrâneas de Imardin, Sonea percebe que seus poderes são mesmo estranhos e ela não sabe o que fazer. Confiar nos Ladrões, que dizem poder protegê-la? E os magos? Eles querem mesmo ajudá-la ou vão matar a jovem favelada?
Em alguns momentos eu pensava "garota, procura logo a ajuda deles", pois ela acaba incendiando as coisas ou fazendo desabar casas por não saber o que fazer. Mas que motivos tinha ela para confiar nos magos quando tudo o que conheceu foram as purificações e pessoas feridas nas confusões? Sonea foi despejada junto dos tios de uma parte um pouco mais nobre da cidade e obrigada a voltar para as favelas e toda a sua existência é definida devido ao lugar onde mora. O que mais ela pode esperar?
Na maioria das vezes temia por ela, mas ultimamente começara a temer estar perto dela. A magia que ela tinha escapara de seu domínio. Todos os dias, às vezes todas as horas, alguma coisa perto dela explodia, pegava fogo ou estilhaçava.
Não vou mentir, a leitura demorou a engatar. Em boa parte do livro, Sonea apenas foge e se esconde. Talvez a ideia da autora fosse a de nos fazer conhecer melhor os personagens e onde eles moravam, fazendo o contraponto entre a pobreza dos favelados e a opulência dos magos. Vencer essa parte pode ser difícil para quem espera uma ação que comece logo, mas asseguro: continue, porque o final vale à pena e fiquei mais que ansiosa para reler o segundo volume. Encontrei alguns errinhos de revisão que não chegam a atrapalhar a leitura e a tradução está boa.
Obra e desigualdade
É muito fácil simpatizar com Sonea, ainda que ela seja bem cabeça dura às vezes. Ela está tentando sobreviver em uma sociedade injusta, com todos os fatores contra ela e ainda se vê no centro de uma disputa entre os próprios magos. Rothen se compadece da garota e está disposto a ser seu mentor, mas outros no clã não querem a presença de uma favelada em seus domínios. Trudi não poupa quem está lendo da visão abjeta de alguns magos e a como se referem à garota. Todo tipo de preconceito acaba saindo pela boca deles em alguns momentos.Mas Sonea também se vê diante de um problema muito maior e percebe que resolver a situação das favelas de Imardin não é tão simples quanto ela achava que era. Os magos são apenas um instrumento da sociedade e uma ferramenta do rei para manter os pobres em seus devidos lugares. Se ela quiser mesmo mudar alguma coisa, a mudança tem que ser de dentro e ninguém disse que seria rápido de resolver.
Trudi Canavan é uma escritora australiana de fantasia, conhecida pelas suas obras A Trilogia do Mago Negro e A Idade dos Cinco. Enquanto se estabelecia como escritora, trabalhou como designer gráfica.
PONTOS POSITIVOS
Sonea
Rothen
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Começa devagar
Alguns errinhos de revisão
Sonea
Rothen
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Começa devagar
Alguns errinhos de revisão
Avaliação do MS?
É curioso que na minha primeira avaliação, eu tenha dado uma nota mais baixa para o livro. O que me desagradou no começo foi que a leitura começava muito devagar e passamos metade do livro correndo junto de Sonea pelas ruas e becos. Desta segundo vez percebi que Trudi fez isso para guiar nossa curiosidade e nos segurar. Aquelas persistentes e verdadeiramente curiosas vão encontrar uma obra que vai agradar aos fãs de fantasia. Quatro aliens para o livro e uma forte indicação para você ler também!Até mais! 🧙♂️
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