Resenha: Eu sou o peregrino, de Terry Hayes

Fazia um tempo que eu queria ler um romance de espionagem. Mas o último tinha me deixado com um gosto meio amargo (e foi Palácio da Traição, da série Red Sparrow) e acabei ficando um bom tempo sem conseguir pegar mais nada para ler. Este aqui estava na lista de leitura fazia um bom tempo e no meio de uma ressaca literária daquelas, achei que era um bom momento de mudar de ares.

O livro
Em um quarto de hotel de móveis baratos em Nova York, com uma mala cheia de anfetaminas, o corpo de uma mulher é encontrado com a garganta cortada e o rosto dissolvido em ácido. A polícia parece perdida com as circunstâncias bizarras daquele crime, principalmente pelo fato de não conseguirem identificar a vítima. O que inicialmente parece ser um assassinato um tanto incomum acaba se encaixando em uma trama de espionagem internacional que pode destruir a sociedade.

Resenha: Eu sou o peregrino, de Terry Hayes

Ninguém gosta de pensar que encontrou um inimigo à altura, especialmente não um agente de inteligência selecionado e treinado para ser o melhor no campo de batalha (...)

Enquanto isso, na Arábia Saudita, um adolescente vê seu pai ser decapitado em praça pública. Um cientista brilhante em sua área, mas que ousou falar mal da família real e acabou sendo entregue às autoridades. O garoto viu tudo e esse é o estopim para uma perigosa jornada de fundamentalismo e preconceito. Indo e voltando no tempo e pulando entre vários cenários pelo mundo, Hayes nos apresenta o Peregrino, um agente de inteligência aposentado que se vê obrigado a voltar ao trabalho quando uma nova ameaça se ergue no horizonte.

Acompanhamos todo o surgimento desta ameaça, um vírus da varíola geneticamente modificado e para o qual não haveria vacinas conhecidas, junto dos flashbacks na vida do Peregrino e como ele foi levado até aquele momento em que investiga o Sarraceno, uma figura misteriosa no terrorismo internacional. Em boa parte do livro, Peregrino e Sarraceno estão em oposição, correndo paralelamente um ao outro, cada um trilhando seu próprio caminho, mas assim que o perigo se torna real, o presidente norte-americano requer o mais experiente agente de inteligência que seus especialistas conhecem.

Peregrino é o codinome de um homem que não existe, um homem que mal lembra seu nome real, pois ele foi adotado ainda criança por uma família rica. Depois de se formar na faculdade, ele entra no mundo da espionagem, vendo todas as mudanças que ocorreram na política internacional com a Guerra Fria, a queda do Muro de Berlim e os Atentados de 11 de Setembro. Acompanhamos alguns momentos seus no passado, mas depois de um tempo o excesso desses flashbacks serviram apenas para cortar a narrativa e criar uma expectativa para o tão esperado final.

Sarraceno significa árabe ou — em uma acepção muito mais antiga da palavra — um muçulmano que lutou contra os cristãos. Volte ainda mais no tempo e descobrirá que já significou nômade.

O narrador não é exatamente uma pessoa muito confiável. Ele tem seus preconceitos e isso fica bem visível pela forma como lida com árabes muçulmanos. Também é uma pessoa que resolve algumas coisas com muita facilidade, contando com muita sorte em sua jornada profissional, quando na verdade seu país perdeu toda as guerras em que se meteu para o povo local. A jornada do Sarraceno também é contada por seu ponto de vista, onde as coisas também acontecem com certa facilidade. Acho que o autor pensou no livro como um grande roteiro de um longa de espionagem e as coisas ficaram desse jeito.

Não tenho nada contra narradores não confiáveis, mas os personagens aqui são muito bidimensionais. Parece impossível num livro com quase 700 páginas que isso ocorra, mas sim, é uma das características que mais me incomodaram. O autor acertou em alguns momentos, é claro. Pobreza e violência costumam ser celeiros para terrorismo, junto do conservadorismo e de leituras fundamentalistas da religião, mas da maneira como ele colocou, todo jovem muçulmano, seja homem ou mulher, acaba descambando para o terrorismo. E não é verdade.

O livro está bem traduzido por Alexandre Raposo e não encontrei grandes problemas de revisão ou diagramação.

Obra e realidade
Uma coisa que senti falta no livro foi uma certa autocrítica do Peregrino. Ele soube pontuar em alguns momentos como que jovens muçulmanos pobres e com pouca perspectiva podem acabar recrutados por terroristas, como foi o Sarraceno, mas convenientemente deixou de mencionar que os Estados Unidos têm sua parcela de culpa no empobrecimento de vários desses países, do recrudescimento das diferenças regionais, como aconteceu no Iraque, e por ser um celeiro de racismo, xenofobia e supremacia branca. O protagonista, de fato, não é confiável.

Terry Hayes

Terry Hayes é um roteirista e produtor de cinema inglês. Eu sou o peregrino é seu romance de estreia.

PONTOS POSITIVOS
Thriller de espionagem
Leitura rápida
Cenas de ação tensas
PONTOS NEGATIVOS
Personalidades pouco desenvolvidas
Racismo

Título: Eu sou o peregrino
Título original: I am pilgrim
Autor: Terry Hayes
Tradutor: Alexandre Raposo
Editora: Intrínseca
Páginas: 688
Ano de lançamento: 2016
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Avaliação do MS?
Foi uma leitura interessante, com seus altos e baixos, mas certamente instigante o suficiente para me prender até o final. O tema é relevante e atual, bastante pertinente, mas me pareceu o longo roteiro de um filme que ainda não lançado nos cinemas. Mas o final não me agradou muito e o próprio Peregrinmo é um chato em boa parte do livro. Três aliens para Eu sou o peregrino.


Até mais!

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