Resenha: A Sociedade de Preservação dos Kaiju, de John Scalzi

Andava com uma ressaca literária e assim me voltei para um dos meus autores favoritos, John Scalzi! Lamento muito não ter prestigiado sua visita ao Brasil, mas pelo menos temos livro novo em 2024. Escrito durante a pandemia, o livro traz à vida os monstros gigantes do cinema japonês em uma aventura divertida e despretensiosa!

O livro
Jamie Gray trabalhava numa startup de delivery e está animado com a reunião com seu chefe, afinal poderá apresentar novas ideias e assim, quem sabe, subir na carreira. Nova York está em quarentena devido à Covid-19, as pessoas estão pedindo mais comida em casa devido à quarentena, então o que pode dar errado, certo? O que Jamie não esperava era ser mandado embora e ser obrigado a trabalhar como entregador da própria empresa que o demitiu, apenas para se sustentar. É muita humilhação para uma pessoa só, mas Jamie precisa pagar as contas.

Resenha: A Sociedade de Preservação dos Kaiju, de John Scalzi

Não estávamos todos bem, mas estávamos todos vivos. Eu considerava isso uma vitória.

Foi em uma dessas entregas que Jamie reencontrou um antigo conhecido que acabou lhe oferecendo um emprego bom demais para ser verdade. A descrição é bem vaga; ele trabalhava em uma “organização de direitos de animais de grande porte”, e precisa de alguém que tope embarcar nessa loucura. Jamie aceita, larga as entregas e logo se vê em um avião, cheio de nerds com doutorado, a caminho desse lugar misterioso. Jamie achou que fosse na África, já que lá existem animais de grande porte, mas não é bem isso o que acontece...

Os animais que Jamie precisará lidar são Kaiju, aquelas criaturas enormes do cinema japonês, como o Godzilla, grandes como dinossauros, que andam por uma Terra que também não é a Terra. É uma dimensão alternativa, onde vários eventos determinantes para a evolução da vida na Terra não aconteceu. Nesse lugar novo não há seres humanos. Há muitos animais exóticos, os kaiju e eles estão em risco. A Sociedade de Preservação dos Kaiju está lá para preservar a espécie, já que há maneiras de se atravessar para essa nova dimensão.

Jamie é o faz tudo, assim está em todas as missões, interagindo com os especialistas, enquanto é apresentado à exótica fauna local. Como todo livro do Scalzi, este aqui tem longas conversas entre os personagens e mesmo fornecendo poucas descrições sobre eles, temos uma visão bastante distinta de como eles são, como falam e agem. Por não ser um livro muito longo, ele peca em algumas descrições, mas não economiza nos kaiju, que podemos ver com um alto grau de detalhes, afinal eles são os protagonistas do livro.

A maneira como o Ocidente conheceu Godzilla e outros monstros gigantes, foi basicamente na forma de vilões. Grandes bichos burros que atacam cidades indefesas. Mas o primeiro filme, o original japonês de 1954, retrata a criatura como uma vítima dos experimentos nucleares. Ele acorda de seu sono pacífico devido às explosões atômicas e irritado sai destruindo tudo em seu caminho. Mas Scalzi nos mostra os animaispeloo que são: animais, chegando a descrever sua biologia e evolução, o que os deixa estranhamente reais.

A pergunta mais pertinente a se fazer dessa leitura é sobre quem de fato é o monstro da história. É o kaiju, que está lá na sua dimensão, vivendo sua vida de boa ou são pessoas sem qualquer escrúpulo em tentar obter um kaiju a qualquer custo? Se tem uma coisa que a gente conhece da natureza humana é que tem gente disposta a tudo para ganhar dinheiro e imagina o lucro que alguém poderia obter em ter genes de kaiju na mão? Jamie conhece bem o que acontece no meio corporativo para desconfiar de qualquer um que visite a base de onde eles estudam os kaiju.

O bom humor de Scalzi torna a leitura muito leve e divertida. Me peguei rindo em vários momentos com algumas tiradas sarcásticas do autor que são hilárias. Tipo a cena de cópula entre um casal kaiju que vai ficar na sua cabeça por um looooongo tempo. O final traz aquele ar de benevolência, de que as coisas acabarão dando certo, apesar de tantas dificuldades enfrentadas na pandemia e com os kaiju.

Não estamos apenas protegendo você dos animais. Estamos protegendo os animais de você.

A tradução foi de Samir Machado de Machado e está ótima. Encontrei errinhos bobos de revisão, que não chegam a atrapalhar a leitura.

Obra e realidade
Scalzi é bastante sincero em dizer que este, dificilmente, será o livro da sua vida, aquele que lhe fará ter uma experiência transcendental, que o fará pensar na vida de uma outra maneira. É uma aventura despretensiosa, divertida, daquelas para alegrar o coração, para rir, principalmente por ter sido escrita durante a pandemia. O próprio Scalzi passou por um período difícil durante a quarentena, sem saber se teve ou não Covid, e apenas escreveu algo apenas divertido, bem, porque sim. E por que não? Quantas de nós nos voltamos para a ficção durante aqueles anos para poder suportar o isolamento, o medo e a incerteza?

John Scalzi

John Scalzi é um escritor norte-americano de ficção científica e ex-presidente da Science Fiction e Fantasy Writers of America.

PONTOS POSITIVOS
Bem escrito e traduzido
"Eu carrego coisas"
É engraçado
PONTOS NEGATIVOS
Muito curto!
Alguns errinhos de revisão

Título: A Sociedade de Preservação dos Kaiju
Título original em inglês: The Kaiju Preservation Society
Autor: John Scalzi
Tradutor: Samir Machado de Machado
Editora: Aleph
Páginas: 304
Ano de lançamento: 2024
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Este é um livro para fãs de Jurassic Park, ou apenas fãs de uma ficção científica bem-humorada, que não se leva a sério, mas que também traz discussões sobre o significado de evolução, sobre preservação, sobre nosso lugar na natureza junto a todos os outros animais. Leia e se divirta, pense nas discussões e depois me conte o que você achou. Quatro aliens para o livro e uma forte indicação para você ler também!

MUITO BOM!


Até mais! 🦖

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