Estava bem ansiosa pela conclusão da duologia de Dana Schwartz. Agora em setembro, a Intrínseca lançou Imortalidade, que continua a jornada de nossa cirurgiã escocesa Hazel Sinnett após o final bombástico do primeiro volume. Vale lembrar que podem ter spoilers do primeiro volume neste aqui, então se você quiser, leia primeiro a resenha de Anatomia, o volume um!
O livro
Hazel Sinnett é uma jovem escocesa, vinda de uma família nobre, mas atormentada pela morte precoce do herdeiro e filho mais velho, George. O sonho de Hazel era de se tornar cirurgiã e para isso ela passou a se vestir com as roupas do irmão e se matriculou na Sociedade Real de Anatomistas, onde se destacou como um brilhante estudante. Após desafiar o impiedoso dr. Beecham e após perder contato com Jack Currer, o jovem ladrão de cadáveres que conquistou seu coração, Hazel leva uma vida solitária no Castelo Hawthornden. Sua mãe levou o irmão para Londres e seu pai serve ao reino em uma ilha distante. Tudo o que ela tem é a companhia dos criados e suas consultas.De nada adiantaria argumentar contra uma mentira em que todos queriam acreditar.
Por toda Edimburgo se fala sobre a jovem cirurgiã que oferece tratamentos médicos. Porém, as mulheres não tinham livre acesso às faculdades de medicina e seu trabalho é visto com muita desconfiança. Quem a procura está sem opções, como uma mulher que bate na porta de seu castelo no meio da noite. Mas depois de salvar a vida dessa jovem grávida, Hazel é jogada na prisão mais cruel de Edimburgo, sem direito a entrar em contato com parentes, nem mesmo a ter uma defesa. Sozinha na cela, seus dias se acumulam, até que ela é liberta por ninguém menos que o mordomo do rei George III, com a condição de se tornar médica pessoal da princesa Charlotte, neta do rei e amada pelo povo.
Foi uma surpresa a mudança de cenário de Edimburgo para Londres, admito. Para a protagonista também foi. A cidade era agitada, vibrante, sem aquele ar mais rural da capital escocesa. Hazel é uma mulher vibrante, que sabe o que quer, mas que admite que a sociedade ainda não está pronta para uma mulher médica e cirurgiã. Sem qualquer apoio da família, que não aparece em nada neste livro, Hazel segue sozinha sua jornada em tentar entender a enfermidade de Charlotte, que colocou a princesa de cama e isolada de todos, tendo apenas uma dama de companhia para cuidar de tudo.
Embrenhando-se na alta sociedade londrina, seu coração se aperta de saudade de Jack, enquanto se vê às voltas com o charmoso médico do rei, dr. Simon von Ferris. A autora conseguiu descrever bem as festas e toda a futilidade da nobreza em vários momentos. Hazel se sente uma estranha em meio àqueles ingleses pomposos, afinal é escocesa e gosta de lembrá-los disso. Mas devo dizer que aquele personagem esperto e inteligente de Jack, no primeiro livro, é um sujeito patético e covarde neste aqui. Foi uma decepção ver seu retorno sendo que ele não é nem de longe o cara interessante de antes.
Um dia, ela descobre a existência de um grupo de intelectuais chamado de Companheiros à Morte, que a convidam a fazer parte desta sociedade. Entretanto, Hazel percebe haver muito mais em jogo do que apenas ser uma cirurgiã, já que existem forças querendo derrubar a monarquia e talvez ela seja a única que possa impedir um desastre. Nesta sociedade, existem vários nomes conhecidos da época, todos relacionados de alguma maneira ao maligno dr. Beecham. Será que o cirurgião morreu? Hazel se pergunta se tal coisa era possível.
Schwartz combina eventos históricos e personagens reais da monarquia britânica com elementos de terror e romance. Mas admito que o primeiro foi bem mais surpreendente e com elementos de terror do que este aqui, bem mais focado no romance. Nem tem como dizer que fui enganada, afinal o subtítulo do livro é "Uma história de amor", mas acho que Hazel tem um fim apático, algo que destoa da personagem. Um dos elementos marcantes da vida de Hazel é a opressão da mãe, que lança um ar de terror sobre a moça, mas ela não tem qualquer participação neste livro, além de uma carta bem simplória.
Não há aquele ar gótico e claustrofóbico do primeiro volume. Não há escavações perigosas em cemitérios, perseguições a cavalos ou detalhadas aulas de anatomia, elementos que foram determinantes para o sucesso do livro anterior. A autora focou bem mais no romance neste segundo livro, deixando de lado o que deu muito certo antes. Isso meio que tirou a graça pra mim. Cheguei ao final sentindo que faltavam páginas. E assim, eu sabia que seria uma história de amor, mas queria que também fosse um enredo de terror e medicina, o que teve bem pouco.
Quando se vive muito tempo, o passado se torna um cortejo sem fim de erros e coisas que poderiam ter sido feitas melhor ou de maneira diferente.
Cheguei ao final pensando que haveria uma sequência, pois o final não resolveu muita coisa. Aquela personagem decidida e resoluta fica apagada, tomando duas decisões que ela mesma disse que jamais tomaria porque poderia atrapalhar sua carreira de cirurgiã. Aí ela vai e... toma essas decisões. Enfim. Não foi uma leitura ruim, teve seus pontos positivos, mas não supera o primeiro livro.
A tradução de Guilherme Miranda está muito boa, sendo que ele também foi tradutor do primeiro livro.
Obra e realidade
A medicina vinha evoluindo a passos largos, enquanto a lei não acompanhava tais avanços. Antes da Lei de Anatomia de 1832, no Reino Unido, a única maneira de se realizar estudos em cadáveres dentro da Lei era esperando que os tribunais enviassem para as escolas de medicina os corpos das pessoas condenadas à execução por crimes graves. Aliado às péssimas condições de refrigeração, era uma tarefa bem complicada conseguir corpos frescos para as faculdades de medicina. Assim começou um mercado de roubo de corpos, muitas vezes requisitado por professores e estudantes que entendiam que a violação das sepulturas era um mal necessário em nome da ciência.Surgiram assim os ressurreicionistas e seu trabalho consistia em roubar cadáveres ainda frescos de seus túmulos, de preferência no mesmo dia em que foram sepultados, no máximo até o dia seguinte. Em algum momento, os roubos se tornaram tão comuns que famílias com dinheiro suficiente pagam para vigiar os túmulos de seus entes queridos. Outros colocavam grades sobre o túmulo ou até mesmo compravam caixões de metal. Os ressurreicionistas ainda tinham o cuidado de deixar os itens de valor e as roupas com os corpos para não terem ainda mais problemas com a lei.
Dana Schwartz é roteirista de televisão e criadora do podcast de história Noble Blood.
PONTOS POSITIVOS
Romance gótico
Leitura rápida
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Hazel
Final em aberto
Romance gótico
Leitura rápida
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Hazel
Final em aberto
Avaliação do MS?
Foi uma leitura divertida, com seus altos e baixos, mas certamente instigante o suficiente para me prender até o final. Hazel é uma ótima personagem, alguém com quem é fácil simpatizar e se identificar, ainda que neste livro aqui ela não tenha brilhado tanto quanto no primeiro. Três aliens para o livro.Até mais! 🧠
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