Um dos quadrinhos mais aguardados por esta que vos fala finalmente chegou! A premiada Emil Ferris nos traz de volta uma obra de arte feita toda a caneta, contando o desfecho de nossa Lobismoça detetive e apreciadora de filmes e revistas de terror. Será que ela vai descobrir quem matou sua vizinha, Anka Silverberg? E sua família, o que será de seu irmão, o Dezê?
O quadrinho
Karen Reyes tem apenas 10 anos, mas é testemunha da decadência, da turbulência e da exuberância de Chicago em 1968. Começamos nossa jornada basicamente de onde o primeiro volume parou: Karen e seu irmão Dezê perderam a mãe e estão sozinhos no apartamento. Ela sabe que Dezê esconde muita coisa dela, mas nunca duvidou do amor do irmão, que se esforça para cuidar dela da maneira que dá. O assassinato de sua vizinha Anka Silverberg é um mistério que ela quer desvendar, ainda que não saiba muito bem o que fazer com essa informação.Acho que arte e histórias são as maiores invenções dos seres humanos. A melhor maneira de ser um monstro forte que derrota o mal é fazer arte e contar histórias.
Karen anda pra cima e pra baixo com seu caderno de desenhos. É através da arte que ela entende as coisas, que consegue pensar, mais ou menos como Leonardo da Vinci fazia. Retratando a si mesma como uma lobismoça, Karen fala de arte e seus significados, investiga os subterrâneos da cidade com Franklin/Françoise e até descobre seu primeiro amor no banheiro de um museu. É entre todos esses eventos e dramas que Karen vai investigar a vida e a morte de sua vizinha, Anka, sobrevivente do Holocausto e testemunha de atrocidades nazistas que nunca esqueceu ou superou.
O quadrinho nos lembra um caderno pautado daqueles escolares porque é a reprodução do caderno de Karen. Todo desenhando a caneta esferográfica e canetinha, seu caderno se torna um diário profundo sobre seus anseios, seus medos e sobre as verdades incômodas que descobre. Os monstros não existem apenas nas revistas baratas cujas capas Karen reproduz nas páginas do caderno, mas também estão nas ruas, nas casas, nos porões. Monstros não são ruins por seres monstros, mas por serem maus e por fazerem o mal. E Karen quer provar que monstros podem ser do bem, já que ela mesma se considera um.
Emil Ferris continua exatamente de onde parou com uma história sincera e memorável que nos lembra que os monstros vêm em muitas formas, algumas assustadoras e outras atraentes. Minha coisa favorita é monstro é muitas coisas numa só: uma fantasia noir absurdamente criativa, repleta de maravilhas infantis exuberantes e surpreendentes; um tratado sobre monstros, sejam eles reais ou frutos de uma imaginação poderosa; um diário infantil cheio de desejos, segredos familiares e confissões. Karen acaba com mais perguntas do que respostas neste volume. Em quem ela pode confiar? O que Dezê anda fazendo para o gangster local, Sr. Gonan? E o que há no porão que paira sob seu apartamento, com suas portas trancadas?
A arte continua deslumbrante, vibrante, seja a cores ou em preto e branco, com traços refinados ou com rabiscos que nos remetem a rascunhos apressados de Karen. Sem a presença da mãe, Karen pode tomar refri de manhã, pode assistir filmes B de monstros até tarde e acompanha momentos importantes da história, como os protestos da Convenção Nacional Democrata de 1968, esmagados pela polícia. Há reproduções belíssimas de obras de arte do Chicago Art Institute, onde a garota mergulha em pinturas de Jan Sanders van Hemessen, Pablo Picasso e Felice Ficherelli. Há menções a armas, bares clandestinos e as câmaras de gás nazistas. Ainda que a protagonista seja criança, os temas são bem adultos e cruéis em alguns momentos.
O quadrinho não se apressa em nos contar tudo isso. Levamos um tempo explorando a cidade e os vários personagens da vida de Karen. Mas acho que se embola um pouco em contar a história de Anka, que acaba um pouco perdida lá pelo meio. Anka aparece pouco, mesmo sendo um dos objetivos de Karen. Acho que o verdadeiro protagonista desse segundo volume é o irmão de Karen, o Dezê, caricato, engraçado, capaz de violências repentinas e que ama a irmã. Ele acaba sendo o verdadeiro condutor da narrativa em muitos momentos, já que muita coisa acaba dependendo dele para acontecer.
Ao mesmo tempo que você quer chegar ao final para descobrir sobre o mistério de Anka e de Dezê, você precisa parar para admirar os detalhes desenhados por Karen e toda a atenção que ela dá às reproduções de obras de arte. O trabalho de Ferris é deslumbrante, detalhista, sendo duro e suave quando precisa, vazando pelas páginas, quase nos levando a exaustão visual. Há muitos pontos a se destacar em seus desenhos, mas é notável como os personagens são únicos, diferentes entre si, seja na forma de falar, seja no desenho. Ninguém é igual, tudo é único e detalhadamente recriado pelas canetas de Ferris. É uma obra única e um clássico instantâneo.
A tradução de Érico Assis está perfeita. Ele adaptou muitas expressões do inglês para o nosso português e a leitura não tropeça nem para em nenhum momento. A diagramação e a revisão estão ótimas, pois não há problemas.
Obra e realidade
Emil Ferris entrou para o mundo dos quadrinhos quando se viu em uma cadeira de rodas, com 40 anos de idade e precisando criar sozinha a filha, então com 6 anos. Em 2001, Emil foi picada por um mosquito e contraiu a febre do Nilo Ocidental, que em pouco tempo paralisou suas pernas e os movimentos da mão direita. A doença paralisou também seu trabalho de designer e ilustradora, já que ela era destra. Desta forma, Emil ingressou na School of the Art Institute of Chicago para aprender a desenhar com a mão esquerda.O quadrinho levou cinco anos para ficar pronto, todo desenhado em esferográfica e canetinha. Emil comenta que caderno e caneta era tudo o que ela tinha para desenhar quando criança, então já conseguimos entender como a jornada de Karen e de Emil estão entrelaçadas, pois Emil queria a autenticidade que seus cadernos tinham naquela época. Com todos os temas que trata, com seu tamanho descomunal e a forma como foi produzida, o quadrinho foi recusado por nada menos que 48 editoras. Quando ela enfim foi lançada na Fantagraphics Books, em 2017, impressionou e muito. Tanto que ela ganhou o assim chamado "Oscar dos quadrinhos", o Prêmio Eisner, nos Estados Unidos, levando também o Fauve d’Or, prêmio do Festival de Angoulême, na França. Emil é uma das poucas mulheres a ser premiada nas principais categorias do Eisner e do Angoulême.
PONTOS POSITIVOS
Karen
As ilustrações
Filmes e revistas de terror
PONTOS NEGATIVOS
Final em aberto
Preço
Karen
As ilustrações
Filmes e revistas de terror
PONTOS NEGATIVOS
Final em aberto
Preço
Avaliação do MS?
Minha Coisa Favorita é Monstro #2, de Emil Ferris, me fez mergulhar em uma história intensa e visualmente deslumbrante, onde a protagonista Karen, com sua fascinação por monstros, me levou a refletir sobre como lidamos com nossas próprias escuridões internas enquanto tentamos desvendar os mistérios que nos cercam e definir quem realmente somos. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!💀
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