Resenha: Alien Clay, de Adrian Tchaikovsky

Sou muito fã do trabalho de Adrian Tchaikovsky e quando vi este lançamento, logo corri para ler. Sua ficção científica é carregada daquele humor britânico, munida de boas ideias em planetas alienígenas e aqui não foi diferente. Um governo totalitário manda prisioneiros para planetas distantes, praticamente uma repetição do que aconteceu nas Américas séculos atrás.

O livro
O professor Arton Daghdev é um acadêmico na Terra e sempre quis estudar a vida alienígena de perto. Porém, o governo sob o qual ele e seus colegas vivem, o Mandato, acabam por caçar aqueles que pregavam pela liberdade, pela democracia. Arton acaba fugindo das garras da polícia, até que enfim é pego e exilado fora da Terra. Usado para trabalho forçado, Arton é enviado para o planeta Kiln, em uma viagem que durou 30 anos. Seu ativismo político acabou tornando seu sonho em realidade. Ou pesadelo.

Resenha: Alien Clay, de Adrian Tchaikovsky

O Mandato investe intensamente na ciência e ao mesmo tempo a odeia por completo, digo a ele. A ciência é só aquilo que lhes dá legitimidade.

(tradução livre)

A descida de Arton e seus compatriotas, não é suave. O Mandato utiliza materiais baratos para operações mais "mundanas" e assim alguns morrem na descida. Arton chega são e salvo e suas credenciais acadêmicas logo chamam a atenção do diretor da exploração de Kiln, o comandante Kerrolan. Um campo de trabalho está bem estabelecido no local e uma redoma foi construída em torno do que parecem ser ruínas alienígenas. Arton não consegue acreditar em seus olhos. Os habitantes de Kiln, se é que eles existem, são inteligentes a ponto de construir algo? Como que na Terra ninguém sabe disso?

Se tem uma coisa que a gente encontra nos livros de Tchaikovsky são alienígenas e mundos exuberantes. Mas o mais legal disso tudo é que seus aliens parecem com uma vida alienígena exuberante, bizarra e exótica. Você não tem dúvidas de que aquilo poderia ser real caso uma missão humana estivesse acontecendo. Acredito que o fato do autor ter formação em zoologia contribua muito para sua visão e maneira de escrever. Ou seja, ele compreende bem os aspectos exóticos da vida e se inspira na vida da Terra para criar cenários absurdos como os que vemos aqui.

Arton não é um personagem com o qual a gente simpatiza logo de cara, porque parece que esse sujeito fez algo muito ruim para ser enviado para um campo de trabalhos forçados fora do Sistema Solar. Mas durante a leitura a gente começa a entender melhor como a coisa anda na Terra e como o tal Mandato parece uma teocracia totalitária que sufoca o pensamento livre e a ciência que possa discordar dele. Para alguém como Arton e seus compatriotas, inclusive alguns co-conspiradores que estão em Kiln quando ele chega, erguer a voz contra o Mandato pode ser mortal.

Kiln tem uma biosfera tão rica em vida que deixa a Terra no chinelo. Mas são as ruínas alienígenas que tiram o sono de Arton. O diretor das operações é um burocrata que sonha em retornar à Terra com a resposta sobre as ruínas de Kiln, mas além de limpar a área para expôr as ruínas e mapear os sinais escritos em pedra, eles não conseguem muitas informações para quem ou o que fez aquilo? Eles foram extintos? Estão por aí? Então por que ninguém os encontrou?

Qual seria o sentido disso, se a pessoa que saiu do outro lado desses eventos fosse a mesma que entrou?

(tradução livre)

A ficção científica, em geral, nos dá uma vida alienígena baseada na nossa compreensão do que é vida. Ela sempre se baseia na química, na biologia e nos processos fisiológicos do planeta Terra. Mas o planeta Kiln não é assim. As formas de vida de Kiln levam a adaptação e a simbiose a níveis muito doidos. A maneira como Arton compreende a vida será desafiada pelos seres vivos que encontra nesse planeta tão bizarro. Ou Arton é vencido por Kiln, ou o Mandato fará isso em seu lugar e é essa luta interna de Arton que acaba nos guiando por toda a leitura.

Mesmo sem saber muito sobre o que anda rolando na Terra e até mesmo sem conhecer muito sobre o passado daquela gente, pois tudo é narrado em primeira pessoa, acabamos nos importando com elas conforme a leitura avança. Li muito rápido suas 400 páginas porque, assim como Arton, eu queria saber quem construiu as tais ruínas. E o autor não nos dará essas respostas gratuitamente. E é bem perto do final que o título se explica!

Infelizmente, o livro não tem uma tradução para o português. Mas se você lê em inglês, vai se divertir muito com Alien Clay.

Obra e realidade
Desde Herdeiros do tempo que o estilo de escrita de Adrian me agrada muito. Ele consegue escrever uma ficção científica que mescla questões sociais, discussões de gênero, biologia e vida alienígena sem parecer chato, datado ou cheio de informações sobre tecnologias mirabolantes. Em Alien Clay, por exemplo, Kiln é o personagem principal e as ações das pessoas é que serão ditadas pelo o que elas sabem e, o principal, pelo que não sabem sobre o planeta.

Pensando em como a vida é versátil aqui na Terra e em como o universo é grande e misterioso, um planeta como Kiln pode não ser um absurdo. Aliás, pode ser que encontremos muitos planetas como ele, que guardam segredos terríveis e maravilhosos. Mas talvez seja melhor manter a humanidade longe deles. Afinal, veja só o que estamos fazendo com a Terra.

Adrian Tchaikovsky

Adrian Tchaikovsky é um escritor britânico de fantasia e ficção científica, tendo estudado zoologia e psicologia na faculdade.

PONTOS POSITIVOS
Kiln
Arton e outros prisioneiros
Simbiose
PONTOS NEGATIVOS
Preço
Não tem tradução para o português

Título: Alien Clay
Autor: Adrian Tchaikovsky
Editora: Tor
Páginas: 400
Ano de lançamento: 2024
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Eu já sabia o que esperar ao ler o novo livro de Adrian, mas nada me preparou para seu final. Uma jornada sobre um planeta bizarro e exuberante, com uma forma de vida surreal, mas que pode não ser tão estranha assim. Se você pode ler em inglês e curte ficção científica, vai curtir Alien Clay. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também.

MUITO BOM!

Até mais! 🪐

Escuto os números mais tarde: 20% de Perdas Aceitáveis. Se isso parece uma absurda perda de investimento, então você desconhece a história de pessoas que enviam outras contra a sua vontade de um lugar para outro.

(tradução livre)

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