Resenha: Anna O, de Matthew Blake

O que me interessou nesse livro logo de cara foi a sinopse. Amo thrillers de investigação e fazia um tempinho que não lia nada do tipo, então decidi arriscar para ver se saía da ressaca literária e não me arrependi!

O livro
Anna Ogilvy era uma aspirante a escritora com um futuro brilhante pela frente. Vinda de família rica e influente, Anna acreditava que sua estrada seria reluzente. Mas numa noite sombria ela esfaqueou seus melhores amigos até a morte e caiu em um sono profundo. Ninguém sabe o que aconteceu naquela noite que mudou a vida de tanta gente. Seu sono profundo é conhecido pelos neurologistas como “síndrome da resignação”, um raro distúrbio psicossomático (e existe de verdade, mas atinge principalmente crianças).

Resenha: Anna O, de Matthew Blake

Temo que a felicidade seja como a juventude, sendo desperdiçada pelos que dispõem dela, e torturando os que não a têm.

Benedict Prince é psicólogo forense e especialista em homicídios relacionados ao sono. Um dia, em casa, enquanto amargava o distanciamento da filha pequena depois do divórcio com Clara, ele recebe uma ligação urgente de sua superiora. Ela para ele se dirigir urgentemente ao instituto do sono onde ambos trabalhavam. O ministério da justiça precisava de seus conhecimentos e suas técnicas na esperança de solucionar o caso de Anna O. Ou ela era acordada da síndrome, ou o governo e a Coroa não teriam como indiciar Anna e ela se livraria de uma condenação.

O livro de Blake intercala capítulos onde os personagens têm seu momento entre as memórias de Anna escritas em seu diário pessoal. É bem interessante notar que Anna não é uma moça simpática. Longe disso, a gente sente uma antipatia por ela logo nas primeiras frases do seu relato. Ela é metida, riquinha, egocêntrica e apesar de ter motivos para ficar com raiva de algumas coisas, vemos que ela dá piti à toa. Fiquei com medo que o autor caísse nos clichês batidos de especialista se apaixonando pela paciente, mas não é bem isso o que acontece aqui. Para Prince, Anna O é um mistério acadêmico e fisiológico.

Quando o caso explodiu na mídia, uma verdadeira febre começou. Tags com o nome de Anna pipocavam nas redes, havia blogs e podcasts, documentários e livros sobre o assunto e até tentaram invadir o hospital onde Anna estava. Prince está bem consciente disso porque sua ex-esposa, Clara, foi a primeira policial a chegar na cena, enquanto coordenava o começo das investigações. Ainda assim, ele acaba colocando Anna em primeiro lugar, passando tempo conversando com ela, tocando músicas que Anna conhecia e fazendo-a sentir aromas familiares. Para Prince, a causa da síndrome é a falta da esperança e Anna precisava se sentir segura novamente.

Em meio ao tratamento de Anna, acompanhamos a vida solitária de Prince, como ama a filha e a vida em família, e como ele espera resolver o caso de Anna O se investigar o passado dela. Porém, as coisas se complicam após uma morte misteriosa justo quando ele receberia informações sobre outro caso muito conhecido na Grã-Bretanha, ocorrido 20 anos antes, quando uma mulher chamada Sally Turner, matou seus enteados. Anna se interessou pelo caso e escrevia uma matéria a respeito na época em que os crimes aconteceram e isso não pode ser coincidência, pode? Prince acha que não.

Quem curte capítulos curtos, com ganchos e mistérios que te seguram para o próximo, vai curtir esse livro. Fãs de thrillers de investigação também. Todos os componentes que nos prendem nesse tipo de livro estão presentes. Me peguei presa pela leitura, sem conseguir largar, querendo descobrir se Anna era mesmo culpada e o que seu caso teria a ver com as mortes de 20 anos antes. A coisa toda foi bem amarrada e a revelação chocante só acontece bem no final do livro. No final mesmo, lá nas últimas páginas!

O passado é terreno fértil de romancistas, historiadores e poetas. Mas não é útil para quem está tentando seguir em frente.

Ninguém aqui é tão inocente ou culpado quanto podemos achar. Até para Anna, se é que ela é culpada mesmo, conseguimos achar motivos para sua ira. Mas alguém deve matar por isso? Até onde iríamos se nos sentíssemos traídas e sem esperanças, como ela parece ter se sentido para cair na síndrome da resignação? As pessoas nessas condições precisam de sonda para se alimentar, de fisioterapia constante, porque, segundo Prince, perderam toda a esperança e a segurança de viver. Mas como uma moça rica e bem-educada como Anna perderia tudo isso? É o que eu me perguntava o tempo todo, porque não parecia fazer sentido. Mas de uma maneira enervante, lá pelo final, você descobre que faz!

O livro está bem diagramado e revisado, com uma ótima tradução de Raquel Nakasone.

Obra e realidade
No livro, a síndrome de resignação afeta Anna, uma mulher adulta, mas na vida real, a síndrome foi identificada na Suécia, onde atinge crianças, em especial as imigrantes. Não se sabe porque os casos acontecem apenas na Suécia, mas há relatos de crianças que fugiram da perseguição e da violência em seus países de origem que, gradualmente, param de brincar, falar, interagir, até que, por fim, não saem mais da cama. Precisam usar fraldas e sondas e de fisioterapia para manter os músculos funcionando.

Identificada nos anos 1990, ela atinge crianças em situação de repatriação e sua causa é psicológica. Não há problemas de saúde envolvidos na síndrome. Médicos suecos tentam entender o que acontece com as crianças que costumam sair da síndrome depois de algum tempo, mas há casos que se estendem a mais de um ano. Para essas crianças, o mundo foi tão terrível que elas se trancam dentro de si, desconectando as partes conscientes de seus cérebros.

Matthew Blake

Matthew Blake é um escritor britânico. Formado em Letras, chegou a trabalhar no Parlamento, antes de se dedicar integralmente à escrita. Anna O é seu romance de estreia.

PONTOS POSITIVOS
Anna O.
Dr. Prince
Síndrome da resignação
PONTOS NEGATIVOS
Violência



Título: Anna O
Título original em inglês: Anna O
Autor: Matthew Blake
Tradutora: Raquel Nakasone
Editora: HarperCollins
Ano: 2024
Páginas: 352
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não sabia bem o que esperar quando comecei a ler Anna O, mas ele logo me fisgou e me vi presa nele durante os poucos dias que levei para terminar a leitura. São 352 páginas que passam voando, até porque você precisa e quer saber o que aconteceu de verdade e se Anna vai acordar ou não. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! 💤

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)