Resenha: Além da porta sussurrante, de T.J. Klune

Virei fã da escrita de T.J. Klune depois da leitura do ótimo A casa no mar cerúleo. Seu jeito leve de discutir coisas sérias, seu bom humor e sarcasmo logo me cativaram e atraíram para o segundo lançamento do autor no Brasil e não me decepcionei. Este é um livro sobre o que importa na vida, sobre o que fazemos dela e como não devemos estragar tudo.

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
Wallace Price é um workaholic. Advogado focado em sua carreira, ele é tão focado que passa desabalado pelos sentimentos das outras pessoas quando precisa. E em geral ele sempre precisa fazer isso. Trabalho para esse sujeito é tudo. Vida pessoal? Lazer? Para Price é pura perda de tempo. Ele é muito exigente, não apenas consigo mesmo, mas com seus funcionários, rígido até nas coisas mais simples. Em suma, um otário que se apega ao trabalho porque não tem outra coisa para fazer.

Resenha: Além da porta sussurrante, de T.J. Klune

Na primeira vez que compartilha o chá, você é um estranho. Na segunda vez que compartilha o chá, você é um convidado de honra. Na terceira vez que compartilha o chá, você se torna da família.

Toda essa parte que descreve Price, lidando com uma funcionária chorosa em seu escritório, mostrando sua insensibilidade, sua falta de carisma, foi feita com muito sarcasmo, recurso que o autor usou ao longo do livro para nos falar daquilo que é importante. Price só tem dedicação ao trabalho, esquecendo do que é importante na vida. Trabalho deve ser uma maneira de pagar as contas, mas não de viver como se nada mais existisse no mundo. Esse papo de coach picareta não pode ser levado a sério.

Um belo dia, porém, Price morre. Bate as botas, vai dessa para uma melhor. Teve um infarto fulminante em casa. A parte mais interessante é que ele acorda no próprio funeral e o que ele faz? Isso mesmo, fica indignado porque esse "pequeno" inconveniente vai atrapalhar seu trabalho. Não é um funeral digno dele, Price reclama. Praticamente está vazio e nem sua ex-esposa, que sabe lá Deus como aguentou aquele sujeito por um tempo, tem coisas boas a dizer a seu respeito. Me lembrou A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói, onde os amigos do morto estão preocupados de que o velório do morto atrapalhe o jogo de cartas da noite.

Mas tem uma pessoa na igreja que consegue ver Price. Mei é uma ceifadora e está lá para ajudá-lo a fazer a travessia. Price fica revoltado com essa pessoa falando tantas bobagens, mas ele não tem muitas opções a respeito, já que está morto mesmo. Mei o leva até uma casa de chá comandada por um barqueiro, chamado Hugo. Lá, Price espera ter todas as explicações que precisa sobre sua situação. Além disso, ele não tem muita escolha, pois se deixar o lugar da travessia, ele se transformará em uma criatura vazia e sem lugar neste mundo.

A escrita de Klune é linda, repleta de citações que capturam a condição humana. O livro trata de temas existenciais pesados, como morte, tristeza e aceitação. A vida é difícil e existem forças fora do nosso controle que temos que aceitar, como a natureza passageira da vida e a inevitabilidade da morte. No entanto, adorei o humor e a leviandade que ofereciam um alívio de toda aquela situação de Price, sem nunca se esquivar das verdades humanas.

Os personagens são a melhor parte do livro, junto do cenário vívido e único da Travessia do Caronte Chás e Comidinhas. Dá vontade de ler mais um livro inteiro se o autor falar apenas do dia a dia da casa de chá e seus donos. Amei os personagens como indivíduos, bem como sua dinâmica familiar excêntrica. Tanto Mei quanto Nelson foram hilários. Mesmo o mala do Price consegue se tornar uma pessoa cativante conforme vai caindo na real.

Nunca é suficiente, é? O tempo. Sempre achamos que temos muito dele, mas, quando realmente nos damos conta, não temos o suficiente.

O livro é lindo, em capa dura e papel pólen, seguindo o padrão da edição anterior do autor. A tradução de Petê Rissatti está ótima e não encontrei problemas de revisão e/ou diagramação. Se comparar a leitura deste com o Cerúleo, percebo que neste aqui ele demora mais para engatar. Então se você curte uma ação mais imediata, tenha paciência, vai lendo e se encante com o livro de Klune.

Obra e realidade
- Mas a morte não discrimina. Ela vem para todos.

As pessoas, em geral, não falam da morte. Da própria morte, digo. Parece que têm medo de discutir o assunto e acabar atraindo mais cedo o fim inevitável. Toda a nossa existência gira em torno da morte. Sabemos que este é o nosso fim, então precisamos fazer o melhor que pudermos neste meio tempo entre nascer e morrer. Mas mesmo assim, pessoas como Price preferem passar a maior parte de sua vida trabalhando.

Uma das mensagens mais poderosas que o livro pode nos passar é a de que a vida é curta demais para você morrer trabalhando, sem nunca ter curtido a vida, sem nunca ter tido momentos de lazer, sem desligar das preocupações em seu local de trabalho. Price morreu e ninguém tinha algo positivo para falar a seu respeito, seu funeral estava vazio e ele ainda se sentiu culpado por não estar trabalhando.


T.J. Klune

T.J. Klune é um escritor norte-americano, ganhador de vários prêmios literários.

A mudança muitas vezes começa com o menor sussurro, que pessoas que pensam igual transformam em um rugido.

PONTOS POSITIVOS
Mei
Price
Magia
PONTOS NEGATIVOS

Ritmo mais lento


Título: Além da porta sussurrante
Título original em inglês: Under the Whispering Door
Autor: T.J. Klune
Tradutor: Petê Rissatti
Editora: Morro Branco
Páginas: 400
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Este é um livro encantador! No começo não sabia o que esperar, temendo ter expectativas altas demais, mas o livro se provou ser um alento. É um livro otimista, que não esconde as mazelas do mundo, mas ressalta o que há de bom na vida e nas pessoas. Quatro aliens para o livro é uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! ⚰️

Já que você chegou aqui...

Comentários

Form for Contact Page (Do not remove)