Resenha: A casa no mar cerúleo, de T.J. Klune

Por alguma razão, este livro acabou não chamando minha atenção quando foi lançado. Mas depois de ver tantas pessoas falando bem dele, achei que era hora de conferir! Um solitário assistente social se torna o protagonista de uma história que não é uma qualquer: é a sua própria história.

Parceria Momentum Saga e Editora Morro Branco

O livro
Linus Baker, nosso protagonista, é um homem solitário, que trabalha em um lugar tão rígido e cheio de regras, o Departamento Responsável por Crianças Mágicas, que qualquer espontaneidade é duramente combatida pela supervisora. A descrição feita do lugar por Klune, inclusive, passa essa impressão de ser um lugar cinzento, lúgubre, sem graça. De certa forma, é a personificação da vida de Linus, que trabalha e vai para casa, sai de casa e vai trabalhar. Na companhia de sua carrancuda gata, o tempo vai passando sem que nada mude.

Resenha: A casa no mar cerúleo, de T.J. Klune

Eles temem o que não entendem. E esse medo se transforma em ódio por razões que não sei se consigo compreender.

A tarefa de Linus é de monitorar os orfanatos registrados no departamento. Estes orfanatos são o lar de crianças com poderes fantásticos. Mas em todos aqueles anos de trabalho, Linus nunca pensou no que acontecia com aquelas crianças ou quando recomendava o fechamento de uma instituição. Não era problema dele, pensava. Mas um dia a Administração Extremamente Superior do departamento o convoca para uma reunião, o que o deixa apavorado e deixa seus colegas curiosos. Sua supervisora, entretanto, está uma fera, pois acha que Linus disse ou fez algo que pode prejudicá-la.

A administração quer que Linus avalie um orfanato particularmente complicado. É de nível quatro na classificação sigilosa, a maior do departamento. Linus, que nem tem o costume de viajar, precisa fazer as malas, botar a gata numa caixa de transporte e viajar para uma ilha bem longe da cidade, onde passará um mês analisando as crianças, o diretor e as acomodações. Tanto segredo, a falta de informações, a distância, incomodam Linus, mas ele é profissional e tentará agir assim quando chegar. Mas deixar o clima chuvoso da cidade será uma experiência transformadora para Linus.

O que ele encontra na ilha é um microcosmos de crianças diferentes, cada uma dotada de seus próprios sonhos, medos e desejos, mas todas precisam do mesmo: cuidado, amor, compreensão. Acho que estas três palavras definem bem o que li e pude viver ao lado desses personagens ao longo da leitura, que foi deliciosa. Cada um deles é bem trabalhado, tem sua própria voz, seus momentos de brilhar e aparecer na narrativa. Você ri, chora, se emociona e até teme algumas delas, mas são todas fascinantes. Também são crianças que passaram por momentos traumáticos e ainda precisam se ajustar a esse lugar que não os quer por perto. Com o tempo, Linus percebe que cada criança tem sua própria história.

Linus pode parecer esse personagem desinteressante do começo, mas é porque sua vida é assim. Mas quando ele chega nesse lugar mágico, Linus floresce. Tanto ele, quanto as crianças, sabem do poder que Linus tem de fechar aquele lugar e mandar todos eles embora. E conforme se envolve com o dia a dia da casa, das pessoas que ali vivem, com a magia do lugar, Linus consegue ver as cores do mundo pela primeira vez, pois seus olhos estão bem abertos. É como se ele estivesse adormecido durante toda a vida e aquela viagem forçada o tenha visto ver o que realmente vale à pena no mundo.

Outro personagem intrigante é Arthur Parnassus, responsável pelo orfanato. De início eu não sabia o que pensar direito dele, porque há muito mistério sobre quem ele é ou o que fez para irritar tanto a administração. Porém a chegada de Linus e sua consequente aproximação de Arthur vai revelar os segredos que queremos tanto descobrir. Sem contar que você torce por esses dois até a última página. Mas devo dizer que meus personagens favoritos são Theodore e Chaunsey! Quem leu sabe quem são e como são fofinhos!

O livro vem em uma linda edição em capa dura e o já conhecido marca-página personalizado da editora. A tradução de Lígia Azevedo está ótima e não encontrei problemas de revisão ou diagramação.

Às vezes, nossos preconceitos influenciam nossos pensamentos quando menos esperamos. Se formos capazes de reconhecer isso e aprender com isso, podemos nos tornar pessoas melhores.

Obra e realidade
Um aspecto muito importante que Klune mostra no livro é o preconceito das pessoas ditas "normais" têm contra as crianças e pessoas mágicas. Pelas pistas que lemos, é possível notar que o governo exerce vigilância sobre o povo mágico, impondo uma linha que separa os dois grupos e gera medo e desconfiança. As crianças temem as pessoas, por conta dos traumas pelos quais passaram, enquanto a desinformação faz as pessoas do outro lado terem medo das crianças.

Com passagens simples e muito diretas, o autor aborda o preconceito de uma maneira não apenas didática, mas também educativa. O medo do desconhecido está na raiz dos preconceitos, tanto no mundo de Linus Baker quanto no nosso mundo real. Felizmente, as crianças não se deixam definir pelos preconceitos e o que temos é um livro que os desafia e mostra que o amor e a compreensão são as verdadeiras curas para esse mundo doente em que vivemos.

T.J. Klune

T.J. Klune é um escritor norte-americano, ganhador de vários prêmios literários.

A mudança muitas vezes começa com o menor sussurro, que pessoas que pensam igual transformam em um rugido.

PONTOS POSITIVOS
As crianças
A ilha
Magia
PONTOS NEGATIVOS

Nenhum!


Título: A casa no mar cerúleo
Título original em inglês: The House in the Cerulean Sea
Autor: T.J. Klune
Tradutora: Lígia Azevedo
Editora: Morro Branco
Páginas: 384
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Este é um livro encantador! No começo não sabia o que esperar, temendo ter expectativas altas demais, mas o livro se provou ser um alento. É um livro otimista, que não esconde as mazelas do mundo, mas ressalta o que há de bom nele e nas pessoas. Cinco aliens para o livro é uma forte recomendação para você ler também!

MARAVILHOSO!

Até mais! 🏝️

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