Você já se viu diante de uma obra de arte e se perguntou "o que será que eu não estou vendo?". É natural que muitas de nós, sem treinamento artístico ou sem as qualidades de um pintor de renome, não consigam olhar para um quadro ou mural, até mesmo uma escultura para encontrar o que há de tão especial na obra. É por isso que Gompertz e a Zahar nos trouxe este livro!
O livro
Os artistas aprenderam a prestar atenção. No entorno, na natureza, nas pessoas, casas, animais. O resto de nós passa a maior parte do tempo no piloto automático, correndo de um lugar para outro, nossa familiaridade excessiva com o ambiente nos cegando para os fenômenos maravilhosos da vida em nosso mundo. Mas não precisa ser assim. É possível treinar o olhar e enxergar da mesma forma.(...) todos os artistas são especialistas do olhar. Sua atividade consiste em interrogar visualmente o mundo e tudo o que há nele: pessoas, lugares, coisas.
Não é fácil treinar o olhar para ver o que os artistas veem. Sejam eles sinestésicos ou não, se estão no meio de uma alucinação ou se conseguem ver a luz e as formas de uma maneira diferente, nem sempre conseguimos encontrar as pistas que elevam as obras a obras-primas da humanidade. Os especialistas em Leonardo da Vinci sabem o que procurar em uma tela do mestre, mas nós não.
Valendo-se da história de 31 artistas de várias épocas e movimentos artísticos, Gompertz comenta brevemente sobre sua biografia e sua forma de produzir arte. Em seguida, ele analisa alguma obra importante e descreve as partes interessantes, coisas que podem ter passado despercebidas em uma primeira passada de olhos. E de fato, tive que fazer isso, olhando e buscando na reprodução o que eu não estava vendo. Um ponto negativo é que as obras não estão junto de seus capítulos. Então se você quiser olhar a imagem precisa folhear até a parte em que ela está e voltar tudo de novo. E se o ebook seguiu o modelo do livro físico, a leitura vai ser um saco.
Gompertz combina discussões acessíveis sobre técnicas artísticas com um entusiasmo admirável. Outro ponto admirável é o fato de haver muitas mulheres listadas entre os 31 artistas citados. A capa, por exemplo, é uma reprodução da tela de The Ten Largest, No. 7, Adulthood (1907), de Hilma af Klint. Elas são quase a metade e em vários momentos o autor comenta sobre como o mundo da arte foi e é injusto com as artistas. Um dos casos que ele mais discute é o de Artemisia Gentileschi, pintora italiana do barroco que produziu uma das minhas telas favoritas, que também é reproduzida no livro: Judite Decapitando Holofernes.
A Judite de Artemisia é muito mais afirmativa. (...) é uma jovem decidida cumprindo uma tarefa com a concentração do açougueiro do mercado local numa movimentada manhã de sábado. (...) ela é fria e profissional.
É impossível dissociar o artista de seu tempo, então o autor fala de eventos impactantes da vida que acabaram por moldar a arte que faziam. Um dos casos mais notórios do livro é o de Frida Khalo e sua existência dolorosa depois do acidente que quase a matou. Mas essa dor também foi usada a seu favor, quando pincelava as imagens surreais de sua mente, mostrando seu corpo aos pedaços para que todos pudessem compartilhar de seu sofrimento.
Fiquei impressionada de descobrir que Wassily Kandinsky era sinestésico. E só depois de saber disso é que muitas de suas obras passaram a fazer sentido aos meus olhos. Ele tentava expressar nas telas o que ouvia ao enxergar. Kandinsky sempre empenhou-se em criar obras que instigassem os sentidos e que desvalorizassem a figura para enaltecer cor e forma. Chamou seus impulsos sinestésicos de Princípio da Necessidade Interior, o que provocaria uma verdadeira revolução na arte moderna por meio de seus conceitos.
O livro vem em capa comum e papel pólen natural. A tradução foi de Denise Bottmann e está ótima. Não encontrei problemas de revisão e/ou diagramação.
Obra e realidade
Quando eu estava no ensino médio, em nossas aulas de arte, tive o prazer de poder estudar a história da arte e de seus movimentos. A professora nos deu trabalhos muito legais, como reproduzir técnicas artísticas para expôr nos murais do colégio. Ainda guardo o livro História da Arte, de Graça Proença, que usamos nas aulas daquele 1º ano, de tão interessante o tema.Na Wikipédia, onde sou autorrevisora e editora há mais de 15 anos, uma das minhas prioridades são mulheres artistas. Tal como o Gompertz diz no livro, elas ainda são negligenciadas, têm sua competência questionada e sua obra subestimada. O mínimo que posso fazer com o conhecimento que tenho é tentar diminuir essa diferença.
Will Gompertz é um escritor e jornalista britânico. Diretor artístico do Barbican Centre, foi editor de artes da BBC durante onze anos e diretor da Tate Gallery por sete. Foi colaborador do Times e do Guardian por mais de duas décadas. É autor do best-seller Isso é arte? e do Pense como um artista.
PONTOS POSITIVOS
Quase metade são mulheres
Imagens coloridas
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Não se aprofunda no tema
Reprodução das imagens não acompanha os capítulos
Quase metade são mulheres
Imagens coloridas
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS
Não se aprofunda no tema
Reprodução das imagens não acompanha os capítulos
Avaliação do MS?
Foi uma leitura agradável e divertida, bastante informativa. Fiquei admirada com as informações que recebi e pude conhecer outros artistas e seus trabalhos. É um livro que pode servir de pontapé inicial para os estudos da arte de alguém. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais! 🎨
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