Lembro de ter ouvido falar pela primeira fez sobre a Rota da Seda em uma aula de história lá no ensino fundamental. Mas o assunto nunca foi aprofundado. Da maneira como nos foi apresentada, ela parecia mais uma grande rodovia da Antiguidade por onde circulavam caravanas de um lado para o outro. A Rota da Seda foi muito mais que uma simples rota de caravanas. E este livro aqui quer te contar como tudo começou e qual é a sua importância, inclusive nos dias de hoje.
O livro
Estamos tão acostumadas a um mundo globalizado, onde culturas estão em constante contato, que tendemos a achar que isso é um evento recente. Na verdade, a globalização e o contato de cultura já aconteciam antes. A velocidade pode não ser a mesma de hoje, mas isso não quer dizer que produtos, religiões, pessoas, costumes, ideias, não circulassem por vias que conectavam pontos extremos. E a Rota da Seda é uma dessas vias, talvez a mais importante delas.Em seu sentido mais amplo, a Rota da Seda pode ser definida como um "conjunto de estradas e trajetos comerciais abertos pela China entre o leste asiático e o Mar Mediterrâneo". Entre os século II a.C. e o XVI d.C. a rota atravessava oásis, desertos, montanhas, territórios de vários povos, levando produtos exóticos e bens de luxo para as grandes metrópoles da época, como Roma, Alexandria e Bagdá.
Porém, além de ser uma rota física, ela também foi um processo de aproximação cultural entre diferentes sociedade asiáticas, africanas e europeias, pois as caravanas levavam, além das mercadorias, pessoas, idiomas, textos, tecnologias, ideologias e práticas sociais e políticas que se disseminaram, ajudando a criar um mundo mais cosmopolita. Existiram outras vias de comércio, mas a Rota da Seda é a mais significativa justamente por sua capacidade de integração cultural. Consigo até imaginar o fascínio das pessoas ao verem chegar as caravanas que despejavam objetos maravilhosos nos mercados...
Este livro é uma grande aula de história e geografia sobre como a Rota da Seda se estabeleceu e qual sua importância para a Eurásia e para a região do Mediterrâneo numa época que antecedeu as Grandes Navegações. E para falar de como a rota surgiu, é preciso falar da história da China e da Ásia Central, pois esta região foi fundamental para um processo globalizante começado pela China, no século II a.C., que ganhou forma e depois vida própria, onde vários grupos nômades intermediaram o comércio de seda da China.
As trocas de longa distância não são desconhecidas pela humanidade. O autor cita, por exemplo, o lápis lazúli, pedra valiosa para os antigos egípcios e que adornava várias joias e obras de arte, como a famosa máscara de Tutancâmon, que era importada das minas do Badaquistão, uma região histórica da Ásia Central, que abrange parte do nordeste do Afeganistão e do sudeste do Tajiquistão. Ou seja, a pedra viajava mais de 2500 km até o Egito, o que nos dá uma ideia de como os povos da antiguidade interagiam e realizavam comércio.
Mais do que um simples tecido luxuoso e iridescente, a seda era um pilar cultural e religioso para a China e foi usado como moeda, principalmente pelos diplomatas chineses, em várias ocasiões. O Império Romano amava (e alguns romanos odiavam) a seda, a ponto de esvaziar os cofres imperiais. O autor trouxe tantos fatos novos, tanta histórias e personagens cativantes, que tornou o livro muito gostoso de ler. Por mais que seja um livro introdutório, já é uma grande aula de história e geografia e uma ótima adição à literatura sobre a Rota da Seda em língua portuguesa, que ainda é escassa.
Interessante apontar que o termo, Rota da Seda, não é um consenso nem entre os pesquisadores. A ideia de uma rota é um fenômeno moderno, já que nenhum documento anterior ao século XIX fala de uma Rota da Seda ou identifica um caminho regular de comércio entre a China e as cidades da Ásia Central. Concordo com o texto quando diz que o termo é conveniente e bem conhecido e não precisa ser descartado, mas sim aprofundado.
(...) o celebrado tecido chinês era então uma língua franca do poder, do luxo e do exótico. (...) a seda foi um dos poucos materiais na história que alcançaram um sentido tão universal.
Página 55
O livro é bem curto, mas cheio de conteúdo. Há imagens e mapas em preto e branco ao longo do texto e aqui preciso apontar algo negativo. Os mapas são péssimos. Nem dá para chamar de mapas, pois a maioria nem legenda tem, quanto mais escala. Em alguns casos é impossível para o leitor comum identificar qual região está mapeada, pois há apenas os contornos geográficos e mais nada. Para uma segunda edição, espero que os mapas sejam refeitos e melhor editados.
Obra e realidade
A Nova Rota da Seda é um plano de investimentos adotado pelo governo chinês em 2013, envolvendo desenvolvimento de infraestrutura e investimentos em países da Europa, Ásia e África e que, desde 2018, envolve também a América Latina. Mas o Brasil anda reticente em aderir aos planos ambiciosos da China. Enquanto uma parte do governo acredita que o Brasil não precisa aderir ao projeto por já ser alvo de parte significativa dos investimentos internacionais chineses, outra parte acredita que a adesão seria uma maneira de alavancar projetos de infraestrutura no Brasil.Poder, guerra, religião e literatura eram os produtos "imateriais" da Rota da Seda, mesmo que eles estivessem "inseridos" no comércio de objetos tangíveis, como a própria seda, cavalos, textos religiosos e cartas ou outros documentos.
Página 112
Otávio Luiz Pinto é professor de História da África no Departamento de História da Universidade Federal do Paraná e no Programa de Pós-Graduação em História da mesma instituição. É doutor em História pela University of Leeds e especialista nos movimentos e nas trocas materiais e simbólicas entre sociedades africanas e asiáticas na pré-Modernidade, especialmente entre os séculos VI e XVI.
PONTOS POSITIVOS
Rota da Seda
Bem escrito
Didático
PONTOS NEGATIVOS
Mapas
Acaba rápido
Rota da Seda
Bem escrito
Didático
PONTOS NEGATIVOS
Mapas
Acaba rápido
Avaliação do MS?
Gostei muito de ler este livro e revisitar temas que estudei faz tanto tempo. Tirando a parte dos mapas, que poderiam ser melhores, o livro é uma aula de história e geografia que agradará até aos leitores mais exigentes. Ele pode ser facilmente utilizado no ensino médio e no ensino superior para dar um pontapé inicial no tema da Rota da Seda, trazendo o tema até a atualidade com o plano da nova rota pela China. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
Gostei muito da resenha e cumpriu sua função, despertando vontade de ler!
ResponderExcluirPelo tema e contexto, concordo que livros assim deveriam ser mais difundidos em escolas.
Abraços e bom final de semana!