Resenha: Aurora ascende, de Amie Kaufman e Jay Kristoff

Gosto muita da escrita de Amie Kaufman e de Jay Kristoff. Então quando vi esse livro pelas mãos e ideias dos dois mais uma vez fiquei bem interessada na época do lançamento. Uma equipe adolescente precisa proteger uma garota a qualquer custo das autoridades, o que os leva a descobrir um grande segredo oculto por séculos. A premissa é de fato muito boa, mas a execução...

O livro
No século XXIV, a humanidade se espalhou pelas estrelas. A Academia Aurora envia seus recém-formados cadetes para missões pela galáxia, já que apenas pessoas muito jovens podem aguentar a energia do espaço interdimensional. Tyler Jones, um garoto prodígio que é praticamente a descrição do Capitão América de tão perfeitinho, está a um passo de escolher a melhor equipe da galáxia para formar seu esquadrão tão desejado. Com charme e muitas notas altas, ele sente que o auge de sua carreira como capitão está se aproximando. Então, na noite anterior, ele pede autorização para sair sozinho com uma nave e o impensável acontece: Tyler perde a hora do recrutamento porque precisou resgatar alguém.

Resenha: Aurora ascende, de Amie Kaufman e Jay Kristoff

Dentro do espaço interdimensional, Tyler encontra Aurora Jie-Lin O’Malley na criogenia. Presa por duzentos anos numa nave cheia de cadáveres, Auri como gosta de ser chamada, deveria se sentir deslocada, desesperada, triste e com saudades da família. Mas ao recobrar a consciência a primeira coisa em que ela repara... é no garoto bonito sem camisa... Assim, já escrevi várias resenhas de livros com esse tipo de coisa e sempre repito que paquera e um pouco de sensualidade são ótimos num enredo, mas não em uma situação como essa. Mais do que subestimar a inteligência dos leitores, está subestimando seus personagens e colocando-os em situações burras.

Mas OK, segue o rumo. Tyler acaba encalhado com o pior esquadrão da Academia Aurora, aqueles com o pior histórico, com dificuldade de relacionamentos, aliens renegados, ou seja, aqueles que ninguém queria, e Auri, que acaba em sua nave ao invés de ser enviada para a Terra. Logo na primeira missão do esquadrão 312, as coisas logo saem de controle quando se descobre que Auri não é apenas uma garota deslocada e fora de seu tempo. Algo aconteceu com ela na Dobra, o lugar por onde todas as naves viajam, um lugar onde não se pode ficar muito tempo sem que coisas bizarras aconteçam.

Um monte dessas estrelas já morreu há um milhão de anos. E estão tão longe que a luz que criaram antes de morrer ainda nem terminou de chegar até aqui. Está olhando para um céu cheio de fantasmas.

Admito que gosto muito de enredos onde uma equipe é criada e parte em missão. É esse o atrativo em O Senhor dos Anéis, por exemplo. Passamos a nos importar com Frodo, Sam, Aragorn e companhia e mesmo sabendo sobre o desfecho, nós acompanhamos e sofremos a cada página, porque a equipe vale à pena. Era o que deveria ter acontecido aqui, mas essa equipe em busca de seu lugar no mundo e de aceitação é absolutamente igual. Sabe quando você não sente qualquer mudança de voz, de atitude, de presença nos personagens? É esse o problema aqui. Até mesmo nos diálogos as vozes são iguais, tanto que eu tinha que ficar voltando para tentar identificar quem estava falando o que, porque os autores não se preocuparam em diferenciar um do outro.

Aliás, os autores pesaram a mão na paquera, no sarcasmo, na ironia. Me pareceu aqueles alunos bagunceiros que eu tinha que chamar a atenção o tempo todo na sala de aula porque não calavam a boca. Eles só agem como os valorosos legionários para o qual tanto treinaram lá perto do final quando já não dá para salvar muita coisa. Essa forma descuidada de lidar com os personagens acaba custando a parte mais legal do livro que seria a própria ficção científica, o mistério da colônia desaparecida e tudo mais. Isso tudo passa muito rápido, sem dar tempo de se desenvolver, enquanto os personagens estão brigando, flertando ou fazendo ironias o tempo FUCKING todo.

O livro inteiro me pareceu mediano. De seu enredo ao elenco de personagens ao mistério da colônia, etc. etc.. Nada que eu já não tenha lido antes. Gostei da questão da dobra trazer consequências físicas, ainda que não vejamos isso em profundidade, como tudo mais neste livro. E Auri, que é a personagem título e por quem o esquadrão se mete nas "mais loucas confusões" é talvez a garota que menos pensa na família em toda a literatura. Ela não desprende um pensamento que seja para a mãe e para a irmã. Apenas lamenta ter brigado com o pai antes da viagem e é isso aí. Sei lá, mas será que 200 anos de hibernação profunda torna as pessoas insensíveis? Acho que não, já que mais pra frente o instalove acontece e ela logo se vê admirando um jovem rapaz alienígena...

Percebe como fica difícil confiar que esses são os personagens que vão salvar a galáxia de uma grande ameaça à vida? Vamos desconsiderar o fato de que essa equipe, tirando Tyler, era o refugo da academia e são extremamente bons no que fazem... Também não entendo porque alguns termos em inglês não foram traduzidos, já que existem palavras para eles em português. No mais, o ebook estava bem diagramado e a tradução de Laura Pohl está boa.

Obra e realidade
Um dos pontos altos do livro é justamente a questão da aceitação. Cada um ali, talvez tirando Tyler, teve problemas para se encaixar em outros grupos. Um dos personagens que melhor personifica essa questão da aceitação é Kal, renegado por seu próprio povo, um dos poucos alienígenas na academia, mas que acaba encontrando naquele esquadrão de desajustados um lugar e um propósito. Talvez este seja um dos maiores desafios de qualquer adolescente, o de achar seu lugar no mundo, de encontrar um grupo que vai compreender seus gostos e sua história. Enredos como esse ajudam a trabalhar e discutir questões como preconceito e bullying.

Amie Kaufman e Jay Kristoff

Amie Kaufman e Jay Kristoff são escritores australianos de fantasia e ficção científica premiados e best-sellers.

Pontos positivos
Dobra
Space opera

Pontos negativos
Personagens
O resto


Título: Aurora ascende
Título original em inglês: Aurora rising
Ciclo Aurora
1. Aurora ascende
2. Aurora arde
3. Aurora Ends
Autores: Amie Kaufman e Jay Kristoff
Tradutora: Laura Pohl
Editora: Rocco
Páginas: 368
Ano de lançamento: 2021
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não é um livro ruim, mas seus personagens não funcionaram comigo. É um elenco chato e desinteressante, por mais que o mistério sobre a colônia e as manifestações que acontecem com Auri sejam intrigantes. Foi só um livro OK que vou esquecer rápido e nem sei se vai me atrair para ler os próximos dois. Três aliens para o livro.


Até mais!

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Fui ficando nervosa só de ler o seu post ~ com certeza não iria rolar para mim também. Eu tenho muita implicância com livros de temática/personagens teen justamente por isso: normalmente são criados com zero de profundidade e focados em paquera/namoro. CLARO que existem ótimas exceções, mas os livros ruins são RUINS em caixa alta. Beijos Sybylla :*

    Não Me Mande Flores

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    Respostas
    1. Acho uma falta de respeito com os adolescentes esse tipo de representação. Parece que os xóvens não têm qualquer outro interesse na vida a não ser paquerar.

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  2. Oi
    eu já tinha visto a capa e acho bonita, o enredo chama a atenção, pena que os personagens acabam não sendo tão carismáticos e que os autores colocam romance paquera em momentos não adequados.

    http://momentocrivelli.blogspot.com/

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