Quem segue o blog a mais tempo sabe que sou uma grande fã de thrillers de investigação. Não sei bem como topei com o livro do Indridason; não sei se ganhei ou se comprei num sebo, só sei que ele estava há muito tempo parado na estante, me olhando com carinha de carente. Precisando ler algo diferente, finalmente peguei o livro para ler!
👓 Este livro faz parte do Projeto Releituras!
👓 Este livro faz parte do Projeto Releituras!
O livro
Uma obra de construção encontra algo inusitado no canteiro de obras: um esqueleto. Crianças de uma festinha de aniversário na mesma rua começaram a brincar no lugar e encontraram umas coisas brancas saindo do chão. Ao cavarem mais acabaram desenterrando uma ossada. Graças à especulação imobiliária, o bairro vinha crescendo e havia canteiros como aquele em vários quarteirões. Na cena do crime chega então o inspetor Erlendur, com a difícil tarefa de descobrir a identidade do esqueleto que os arqueólogos estimam ter sido enterrado ali na Segunda Guerra Mundial.Mas a guerra acabou faz mais de 70 anos. Como encontrar pessoas ainda vivas que se lembrem da região? E testemunhas? Ainda haveria alguma viva? O inspetor coloca toda a sua equipe para trabalhar no caso, os inspetores Sigurdur Óli, às voltas com a namorada, e Elínborg, uma ávida leitora de romances e uma das poucas policiais da ilha. Esse trio improvável vai se debruçar sobre um caso que parece difícil de solucionar.
Junto da investigação de Erlendur temos uma segunda narradora, uma da época da Segunda Guerra, que narra como era sua vida antes e depois de conhecer um marido que parecia encantador no começo. Esses dois pontos de vista se alternaram ao longo da leitura e admito que ela me prendeu logo no começo. Não há apenas a investigação e as memórias desta mulher, mas há também as memórias do próprio Erlendur, que se vê envolvido emocionalmente com o caso devido a um problema pessoal: sua filha usuária de drogas está em coma no hospital.
É comum que em thrillers de investigação como esse os problemas pessoais dos agentes acabem se entrelaçando ao caso que estão investigando. Se o autor não souber o que está fazendo, ele acabará jogando um monte de informações que não são úteis para solucionar o caso e deixando a leitura arrastada. Felizmente, Indridason foi bastante hábil e soube dosar o nível das informações sem parecer cansativo. Sabemos o que é necessário para o enredo, sem tirar nem pôr. Eu até mesmo gostaria de ter mais participação da Elínborg, que é uma simpatia de personagem. Leria um livro inteiro só com ela facilmente.
Esse também é um daqueles livros em que os policiais começam a puxar uma meada e de repente estão com todo um novelo em mãos. Há, por exemplo, a história de uma mulher jovem e de família rica que desapareceu na mesma época. Dizem que ela se atirou no mar. Será que é verdade? Poderia ser o esqueleto dela ali na construção? O autor mexe com aquilo que a gente acha que sabe da história conforme vai deslocando nosso olhar para as mais variadas possibilidades. Cheguei até bem perto do final sem saber exatamente o que pensar, de tanto que ele trança a trama ao nosso redor sem nunca revelar demais.
Essa Islândia do autor tem um clima inclemente, capaz de mudar de uma hora para outra e histórias surpreendentes. Eu não sabia da atuação da Islândia na Segunda Guerra, por exemplo. Ainda parte da coroa da Dinamarca, ela foi invadida pelos britânicos em maio de 1940, mas em julho de 1941 a defesa da Islândia foi entregue pelos britânicos aos norte-americanos, que aparecem no livro.
Temos um prazer especial em contar histórias desagradáveis das outras pessoas.
O livro é em capa comum e papel amarelo. Não encontrei problemas de diagramação ou revisão nele. A tradução foi de Álvaro Hattnher e está muito boa. No começo do livro tem um mapa que mostra a Islândia e outro que mostra a parte da cidade em que a ossada foi encontrada. Ponto positivo para o livro, pois um mapa faz bastante diferença em enredos assim. Mas um ponto negativo é o fato de não haver travessão nos diálogos e sim aspas. Sacanagem, Companhia. Além disso, só descobri depois, este é o quarto livro em uma série de 11 do inspetor Erlendur. No Brasil foram lançados apenas quatro deles.
Obra e realidade
Curioso apontar que a Islândia é um dos países com as menores taxas de homicídio por pessoa. É um país tão seguro que os pais deixam crianças brincarem sozinhas na rua ou em parques e até deixam bebês tomando sol sozinhos. Por isso achei bem interessante a forma como a investigação e o próprio crime ocorreram. Era inevitável que o crime acontecesse como aconteceu. Não posso contar, é claro, pois acabaria entregando spoilers, mas curti a maneira como todo o caso foi sendo construído. Foi bem escrito, bem criado mesmo. Sem contar que toda a investigação depende das memórias inexatas daqueles que moram em uma ilha com um clima que pode mudar de um segundo para o outro. Tudo parece jogar contra a investigação.Deixo aqui um alerta de que há violência contra a mulher, mas sempre do ponto de vista dela. É a voz da vítima falando e não do abusador.
Arnaldur Indridason é um escritor islandês, ganhador de vários prêmios.
PONTOS POSITIVOS
Investigadores
Universo bem construído
Islândia
PONTOS NEGATIVOS
Aspas no lugar de travessão
Pode ser meio lento, principalmente no começo
Investigadores
Universo bem construído
Islândia
PONTOS NEGATIVOS
Aspas no lugar de travessão
Pode ser meio lento, principalmente no começo
Avaliação do MS?
Não sei porque demorei tanto tempo para pegar este livro para ler. Não dava muito pela história, achando que pegaria um enredo manjado como o de tantos outros livros policiais que já li na vida, mas acabei surpresa e incapaz de largar até chegar ao final. E acredite, ele te prende mesmo, pois o autor não entrega os fatos facilmente. Quatro aliens e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
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