Resenha: A Segunda Guerra Mundial - história e estratégias, de Philippe Masson

Se você procura um livro completo para estudar a Segunda Guerra Mundial, então encontrou. A obra de Philippe Masson, historiador militar francês, está bem completa, com datas, documentos e uma síntese cronológica para você acompanhar os grandes eventos que levaram ao conflito mundial que mudou os rumos das nações.

Parceria Momentum Saga e editora Contexto

O livro
Meu professor de geopolítica dizia que a Primeira e a Segunda guerras eram na verdade um mesmo conflito que teve um momento de armistício entre 1918 e 1939. Os motivos que levaram à Segunda já estavam presentes antes e não forma resolvidos nos 20 anos seguintes. A ascensão de Hitler ao poder mostra os objetivos da Alemanha que começou a se rearmar mesmo proibida pelo Tratado de Versalhes. Além dos desejos expansionistas da Alemanha, o Japão mostrava interesse em se expandir pelo Pacífico. Um caldeirão fervia enquanto nações como a Grã-Bretanha e a França assistiam tudo pacificamente. Ninguém desejava um novo conflito. Mas ele veio.

Resenha: A Segunda Guerra Mundial - história e estratégias, de Philippe Masson

A Segunda Guerra tem início quando a Alemanha invade a Polônia, com uma declaração de guerra contra os ingleses e os franceses. Ainda que não tivesse superioridade bélica no começo, Alemanha se valeu de astúcia e inteligência para ocupar nações como a Noruega, Dinamarca, Holanda, Bélgica e França no ano seguinte através de sua guerra-relâmpago ou Blitzkrieg. França e Grã-Bretanha ainda lutavam nos moldes da Primeira Guerra, enquanto a Alemanha impunha um rápido avanço com base em tanques, bombardeios aéreos e colunas motorizadas.

Mas os ingleses ainda eram soberanos no mar e no ar, adaptando-se rapidamente aos movimentos alemães e aguentou ataques praticamente sozinhos, com o auxílio logístico enviado pelos Estados Unidos. Devo dizer que a leitura foi cansativa em alguns momentos, mas houve revelações muito interessantes sobre os andares da guerra que nunca estudei antes. O autor diz que Hitler não queria uma guerra e por duas vezes tentou evitá-la através do jogo político em 1939 e depois em 1940.

A forma plácida com que as nações ocidentais assistiram a todos os passos da radicalização da Alemanha foi enervante de acompanhar e o próprio Masson reitera seu assombro diante da inação dos países. O Tratado de Versalhes desmorona, a Alemanha começa a se rearmar, remilitariza a Renânia, anexa a Áustria e os Sudetos, fazendo a Tchecoslováquia desmoronar com o Golpe de Praga de 1939 e as potências mundias ficam lá, de braços cruzados. O cinema, principalmente, mostra primeiros-ministros e presidentes enfurecidos com as ações do Führer, mas na prática não foi bem assim.

É forçoso reconhecer que Hitler foi muito hábil em explorar determinados fatores e tirar partido do estado de espírito e das opiniões dos dirigentes dos países europeus da época. Soube jogar com as ambiguidades e contradições da conferência sobre o desarmamento, para reivindicar e finalmente impor a igualdade de direitos, isto é, o restabelecimento da potência militar de um Reich decidido a não mais se submeter a um estatuto discriminatório e permanente.

Página 14

Hitler pegou a Europa de surpresa, mas também deu passos maiores que a perna, como o ataque à União Soviética, em 1941. Os soviéticos tinham equipamentos obsoletos, mas era um país muito mais numeroso, que empreendeu um grande movimento de resistência (fosse por nacionalismo ou por um desejo de derrubar Stalin) e tinham o inverno rigoroso ao seu lado. Enquanto isso, no Pacífico, o Japão expande seu território, estando bem preparados e conseguindo algumas vitórias importantes, até decidirem atacar a base de Pearl Harbor, dos Estados Unidos, o que faz o país entrar para a guerra de vez, ainda que despreparados.

Ainda que norte-americanos, britânicos e soviéticos tivessem se unido para derrotar a Alemanha, o fim da guerra não estava próximo, onde a resistência nazista segura o conflito até 1945. E aqui entra uma das ironias amargas da guerra: os Aliados não teriam vencido sem o Exército Vermelho da União Soviética, que por sua vez não teria vencido a guerra sem os Aliados. Enquanto soviéticos e alemães lutavam em terra, os Aliados se digladiavam no mar e no ar.

Esta também foi uma guerra da informação, com o uso de espiões, agentes duplos, escutas telefônicas, máquinas decodificadoras, códigos e interrogatórios. O Nazismo investiu forte em propaganda, onde se colocava como invencível, enquanto lentamente a guerra escapava por seus dedos.

O livro é BEM denso, com muitos jargões militares, além de uma pesquisa extensa, que tornam a leitura um pouco cansativa às vezes. O autor detalha e analisa as principais estratégias, táticas, operações, população e alto-comando que envolveu a Segunda Guerra Mundial. É um livro útil para estudantes da Segunda Guerra, historiadores militares, político e curiosos, ainda que seja necessário ter um certo vocabulário para entender algumas coisas. Analisando a geopolítica e a economia por exemplo, Masson consegue mostrar como o palco da guerra se formou e quem foram seus atores mais importantes adotando um tom jornalístico que faz a leitura correr muito bem. O autor também coloca relatos de soldados, temendo por suas vidas, sem saber se retornarão para suas casas.

Este é também um calhamaço de 640 páginas, com muitos detalhes que podem ficar de fora de outras obras do gênero. Muito além de colocar datas e acontecimentos, o autor narra e analisa tais acontecimentos, tornando a experiência de leitura muito rica. A tradução foi de Ângela M.S. Corrêa e está perfeita. Não encontrei problemas de revisão ou tradução. A letra é um pouco pequena, mas entendo que foi preciso adaptar a fonte para um livro tão grande.

Obra e realidade
A Segunda Guerra Mundial foi o conflito militar mais mortal da história. Um total estimado de 70 milhões a 85 milhões de pessoas pereceram nos conflitos, o que representou cerca de 3% da população mundial de 1940 (estimada em 2,3 bilhões na época). As mortes causadas diretamente pela guerra (incluindo militares e civis mortos) são estimadas em 50 a 56 milhões de pessoas, enquanto houve uma estimativa adicional de 19 a 28 milhões de mortes por doenças relacionadas à guerra e fome. As mortes de civis totalizaram 50 a 55 milhões. As mortes militares de todas as causas totalizaram 21 a 25 milhões, incluindo mortes em cativeiro de cerca de 5 milhões de prisioneiros de guerra.

Ainda é um evento que me choca, um que ainda tenho dificuldades para compreender. Minha avó paterna perdeu a família na Segunda Guerra e emigrou para o Brasil. Mas era uma mulher angustia e perturbada. Não deixava ninguém ver a tatuagem em seu braço, estocava comida em casa e mandou os filhos para colégios internos com medo que tropas chegassem em sua casa e os levassem embora.

Philippe Masson

Philippe Masson (1928-2005) foi um historiador francês, especialista em história militar, autor de vários livros na área.

Pontos positivos
Bem pesquisado
Bem escrito
Relatos de soldados
Pontos negativos

Violência e nazismo
Pode ser meio lento

Título: A Segunda Guerra Mundial - história e estratégias
Título original em francês: La Seconde Guerre Mundiale
Autor: Philippe Masson
Tradutora: Ângela M.S. Corrêa
Editora: Contexto
Páginas: 540
Ano de lançamento: 2017
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Não vou dizer que será uma leitura fácil, pois não é. Ler sobre a maior guerra que nosso mundo já viu, saber das atrocidades, dos extermínios calculados, da selvageria dos combates, as mortes desnecessárias... Não é fácil mesmo. Mas este é um livro de consulta completo, que traz todo um contexto para a guerra ao invés de apenas narrar combates e datas. Leitura essencial e um livro importante para se ter na estante.

Até mais.

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Comentários

  1. Oi Sybylla, esse é o tipo de livro que eu adoraria ler. É sempre penoso ler sobre a Segunda Guerra (sobre qualquer guerra, na verdade), mas acho super importante entender o que aconteceu, especialmente para não repetir os erros do passado. Adorei a indicação. Um beijo :*

    Não Me Mande Flores

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