E a última temporada de Perdidos no Espaço está entre nós! É com muita tristeza que me despeço da família Robinson, pois amei cada minuto dessas três temporadas, sofri junto com eles, ri junto deles, me diverti e fiquei tensa, tudo junto e misturado. Fico muito feliz que a Netflix tenha dado continuidade à série ao invés de simplesmente cancelar e não dar continuidade aos arcos já abertos, como aconteceu a outras boas séries da plataforma.
E já deixo o alerta aqui: este balanço pode conter spoilers das temporadas, então se você não assistiu tudo e se preocupa com spoilers, é melhor parar a leitura e só continuar depois de assistir tudo!
E já deixo o alerta aqui: este balanço pode conter spoilers das temporadas, então se você não assistiu tudo e se preocupa com spoilers, é melhor parar a leitura e só continuar depois de assistir tudo!
Não assisti à versão original de Perdidos no Espaço na íntegra. Vi um ou outro episódio, mas não curtia. A série parecia mais um piquenique em planetas alienígenas, com uma mãe que fazia sanduíches de manteiga de amendoim com geleia ao invés de ser uma participante ativa da série. Para a época em que foi feita, ela reflete seus valores. A versão atual é muito mais antenada com nosso momento e investiu pesado na discussão da unidade familiar enquanto inovava nos desafios impostos à família Robinson no espaço.
Então o enredo básico é: a família Robinson constitui o 24º grupo de colonos rumo à colônia humana em Alfa Centauri. Munidos de uma tecnologia, inicialmente, inexplicada, as viagens são ligeiras até a próxima estrela. Sabemos que a Terra sofreu com algum tipo de cataclismo e que vem se tornando inabitável. Sair da Terra era a única maneira de Maureen Robinson (Molly Parker) garantir a sobrevivência dos filhos. Ela e John (Toby Stephens) estão separados no momento em que embarcam na Júpiter 2 com seus filhos, Judy (Taylor Russell), Penny (Mina Sundwall) e Will (Maxwell Jenkins).
Problemas na nave que leva os grupos de colonos, a Resolute, faz com que as naves pousem forçosamente em um planeta e eles perdem contato com a nave-mãe. Nesse meio tempo somos apresentadas a outros três personagens extremamente relevantes: Dra. Smith (Perker Posey), Don West (Ignacio Serricchio) e ao Robô (Brian Steele). Todos os personagens foram bastante alterados de sua versão na série original para essa, mas estes três últimos foram bem modificados. O fato de o Dr. Smith ser agora uma mulher dúbia e até perigosa foi uma das melhores mudanças; o fato de Don West ser mais caído para um lado cômico do que o de militar linha dura e; o Robô ter ganhado contornos humanoides facilmente reconhecíveis. Até Debbie, que na série original era um chimpanzé, foi repaginada e se tornou uma simpática galinha.
A primeira coisa a se dizer sobre a série é sobre a escolha dos atores Molly Parker e Toby Stephens. Algumas críticas que li duvidaram que o ator britânico que interpretou um pirata durão em Black Sails pudesse dar conta do arco do pai amoroso que faz tudo pela família. Não apenas deu conta como ele fez um belo par ao lado de Molly. É um casal com problemas, mas que nunca deixou de se amar. Eles apenas perderam a capacidade de conversar um com o outro, coisa que a situação deles no espaço os forçou a fazer.
Perdidos no Espaço é um enredo BEM família mesmo. É uma série voltada para discutir o que é família, quais são os elementos que os unem, por que eles ficam juntos e se amam mesmo com todas as adversidades. Por isso também sinto que eles foram conservadores na escolha de algumas pautas, ao mesmo tempo em que inovaram em algumas. Por exemplo, o fato de Judy não ser filha biológica de John e isso não impedir que se amem e se tratem como pai e filha. Outro ponto positivo foi o fato de não terem criado um par romântico para Judy como aconteceu antes. Judy é focada no trabalho e na disciplina, às vezes focada até demais, tensa, o contraponto de Penny, que é irônica e sempre tem uma frase de efeito para qualquer situação. A série respeitou as idades das crianças Robinson, então eles são inseguros e às vezes apenas não sabem o que fazer.
Outra inovação foi no casal Robinson. Maureen é a chefe da missão, engenheira, astrofísica, mulher e mãe. Sua autoridade é inegável. John é um ex-SEAL da Marinha, a unidade ultra especializada de fuzileiros, uma das mais difíceis de entrar da Marinha. Ou seja, John é um cara durão e preparado para ambientes hostis. E em nenhum momento ele dá essa cartada para cima de Maureen. Ele sabe que é ela quem manda e tal fato não acabou com sua masculinidade. John acabou se tornando um bom exemplo de uma masculinidade que não precisa ser tóxica para existir, além de ser um pai que ama seus filhos incondicionalmente. Quando Don West diz que queria ter tido um pai como John, pensei "eu também".
Will Robinson é um garoto muito inteligente, mas também bastante emotivo, sensível e consciente de suas responsabilidades. Não são poucas as lágrimas que rolaram na série da parte de todos os personagens. Foi muito salutar ver homens que falam de seus sentimentos, ver garotos chorando e ver meninas duronas, mas que também se importam. Mesmo a Dra. Smith, tida por alguns como uma agente do caos na série, tem seus altos e baixos, passando por momentos de redenção. Não considero Dra. Smith uma agente do caos, ela é apenas uma mulher capaz de tudo para sobreviver e isso a leva a tomar algumas atitudes que podem ser mortais. Dada a oportunidade, ela será uma boa pessoa. A questão é: essa oportunidade vai surgir?
A última temporada fecha os vários arcos abertos nas temporadas anteriores. Gostei da forma como o pai biológico de Judy entra na trama e como não há disputas de afeto entre John e o comandante Grant Kelly. Grant sabe que perdeu 20 anos e que não tem porque disputar nada com John. Também não há intrigas ou ciúmes da parte de John porque Grant voltou. Maureen sabe onde está seu coração. Dra. Smith passa por um incrível arco de redenção, ainda que ela titubeie de vez em quando.
O Robô, sem dúvida, atrai a atenção da audiência. Todo o arco acaba girando em torno dele, que ganhou muito mais importância do que nas produções anteriores. Ele representa a raça alienígena que persegue os humanos e que acabou por causar toda a situação em primeiro lugar. Com um misto de CGI e atuação do veterano ator Brian Steele, o Robô tem forma humanoide, ainda que robusta e mesmo que não tenha face, é fácil compreender suas emoções pela tela em seu rosto e por suas falas. Foi bem interessante mostrar a interação entre Will e o Robô e na última temporada a forma como a tecnologia de um salvou o outro.
Sinto que a terceira temporada resolveu rápido demais algumas questões, como a revolução dos robôs. Mas talvez eles quisessem mostrar que era uma simples questão de olhar para o outro como alguém semelhante, não como um inimigo. Que bastava um gesto simples para mudar o andar de um conflito. Se foi isso, talvez tivesse sido melhor deixar mais explícito.
Na primeira temporada, eles representam os japoneses como sábios e nerds, outro estereótipo que ainda é repetido em pleno século XXI. Pelo menos isso não foi repetido nas temporadas 2 e 3, mas infelizmente a família Watanabe praticamente desaparece e nenhum arco com elas é desenvolvido posteriormente. Todos os personagens são magros e atléticos - seria esse um requerimento da missão? - e há um casal lésbico na última temporada, um breve relance da câmera em um único episódio. Comparado com a série original, o reboot é um grande passo e um avanço muito importante, mas também ficou no mais do mesmo em muitas coisas.
Porém, depois de três temporadas muito bem feitas, muito suor e lágrimas, acredito que o saldo foi positivo. Perdidos no Espaço me faz lembrar de uma citação de Tolkien, que diz "nem todos que vagueiam estão perdidos". A família Robinson apenas ficou fora do curso, fosse no espaço, fosse em suas próprias emoções, e depois eles se encontraram. Acredito que o saldo, no fim das contas, fique positivo diante de todas as discussões e exemplos familiares, o CGI perfeito e as diversas situações de perigo resolvidas com ciência e paciência.
DANGER WILL ROBINSON
gostei muito dos rumos de série. vai ficar só a saudades deu uma série leve e inteligente de ficção científica.
ResponderExcluirtenho gostado muito de Invasão também da Apple.
Fundação foi uma decepção tão grande, que estava com medo dessa temporada de Perdidos no Espaço.