Resenha: A última guerreira, de Steven Pressfield

Este livro está na minha estante há mais de dez anos. Nem lembro direito como ele chegou na minha mão. Comprei em um sebo, muito provavelmente e acabei não lendo. Decidi que esse ano era a vez dele de ser lido e de aparecer no Projeto Releituras e não me arrependi! Se você curtiu Circe, de Madeline Miller, então vai curtir A última guerreira!

👓 Este livro faz parte do Projeto Releituras!

O livro
Esta história se passa uma geração antes da Guerra de Troia. É um choque de culturas, Atenas versus Amazonas, patriarcado versus matriarcado, a pólis versus as estepes. É também uma história baseada em flashbacks, onde vemos o mundo através dos olhos de uma jovem ateniense, Mãe Ossos, que foi educada por uma preceptora amazona, chamada Selene. Selene é uma amazona cativa, que educou as duas meninas de uma família ateniense nobre. Até que, um dia, ela chama as meninas para contar sua história, seu testamento, antes de partir para uma batalha. Entre as amazonas era costume reunir suas filhas para fazer seu testamento, para eternizar sua existência.

Resenha: A última guerreira, de Steven Pressfield

O que fez Selene fugir e contar suas história a duas garotinhas assustadas? Sua amante estava ferida em batalha. Selene era uma mulher brutal, mas não uma selvagem. Ela ensina para as garotinhas coisas que aprendera antes de se tornar uma amazona, incutindo nelas o sentimento de liberdade do qual era feita. Selene era uma amazona experiente, mas astuta e silenciosa, que odiava viver dentro de casa, preferindo o exterior da residência. Os empregados da fazenda a odiavam e a brutalizaram depois da visita de Teseu, que lhe trouxera notícias sobre Eleutera. Na noite que Selene parte, ela mata todos eles.

A história começa a ser contada por Ossos, apelido que ganhara por sempre ter sido muito magrinha, desde a infância. Ela e a irmã, Europa, ouviram atentamente ao testamento de Selene e, assim, tinham condições de contar para as futuras gerações sobre o que a amazona viveu. Essa é também a história de Teseu, aquele que matou o minotauro, e de como ele invadiu tal Kyrte, as terras livres das Amazonas e de como a rainha das mulheres guerreiras, Antíope, se apaixonou por ele, desencadeando um conflito letal.

Quem já conhece a escrita de Pressfield sabe que ela pode ser meio devagar. Eu diria que é uma escrita bastante densa. Portões de fogo foi assim, demorou para engatar, mas quando pegou no tranco, foi que foi uma beleza. Aqui é a mesma coisa. Vencer as primeiras cem páginas não foi fácil e aí entendi porque eu sempre largava o livro. O autor é detalhista, tornando personagens e cenários muito vívidos, mas isso faz com que a leitura meio que se arraste em alguns momentos. Admito que gostei mais deste aqui por causa da presença das amazonas, que são figuras apaixonantes.

Mas quando o livro chega nas cenas de batalhas, é como se você estivesse lá junto com elas. Você é capaz de sentir o suor, o ar salgado de sangue e lágrimas, os gritos e gemidos de inimigos derrotados, o clangor de armas e escudos batendo uns contra os outros. É como uma recompensa por toda aquela lerdeza do começo, sabe? Você recebe cenas de batalhas muito bem escritas e que acabam valendo pelo livro inteiro.

- E o que é esse mar, Teseu, senão o mar da ignorância? O oceano do barbarismo e das trevas.

Página 145

O autor também foi muito cuidadoso na forma como descreveu as sociedades. Ele não representa os gregos como os "mais civilizados" contra a "barbárie das amazonas". Ele descreve as qualidades e virtudes, bem como os defeitos e a violência de ambas as sociedades e não deixa de fora personagens históricos desse conflito. Com as amazonas, ele sempre exalta sua força, a forma como lutam, a vida livre e como são indomáveis, em especial Selene, de longe uma das melhores personagens do livro.

É um romance muito denso, com vários pontos de vista, com cenas bem detalhadas e com um autor cujo estilo não agrada a todos. Acho que é por isso que vencer as primeiras cem páginas foi tão difícil. Mas uma vez que você pega o jeito, o livro engata e você tem um grande romance histórico em mãos. É só uma pena que ele não seja exatamente novo. Minha edição é de 2003 e não houve outras depois dela, ao contrário de Portões de Fogo, que foi relançado pela Contexto.

Meu livro ainda tem arcaísmos que caíram com a reforma ortográfica, como tremas. A tradução de Adriana Lisboa está ótima e não encontrei grandes problemas nem de revisão ou de diagramação. A única coisa que senti falta foi um mapa, que acho que essencial em romances históricos como esse.

Obra e realidade
Comentei mais acima que o livro é, basicamente, um choque entre patriarcado e matriarcado, ambos igualmente selvagens e brutais. De um lado, os homens de Atenas, inconformados com a liberdade das amazonas, do outro as mulheres das estepes, incompreendidas e totalmente indomáveis e, portanto, odiadas tanto por homens quanto por outras mulheres. O autor também ilustra o pensamento dos líderes atenienses a respeito das amazonas, cheios de impropérios e machismos típicos e são palavras bem fortes as usadas. E nem teria como ser diferente, afinal as amazonas eram totalmente diferentes do modelo de mulher que a sociedade ateniense esperava e os poderosos ficavam escandalizados - como ainda ficam - com uma mulher livre.

Steven Pressfield

Steven Pressfield é um escritor e roteirista norte-americano.

Pontos positivos
Cenas de batalhas
Amazonas
Personagens bem trabalhados
Pontos negativos
Começa devagar
Não tem ebook


Título: A última guerreira
Título original em inglês: Last of the Amazons
Autor: Steven Pressfield
Tradutor: Adriana Lisboa
Editora: Ediouro
Páginas: 408
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Uma pena eu ter demorado tanto para ler esse livro. Sim, ele começa devagar, apresentando personagens, mas é um trabalho primoroso sobre as míticas amazonas, mulheres guerreiras que ainda encantam e nos intrigam nos dias de hoje. Para quem curtiu Portões de Fogo e Circe, esse livro vai te fisgar! Quatro aliens para ele e uma forte indicação para você ler também!


Até mais!

- O ódio é um elo, Teseu. E eu tenho odiado você por muito tempo. (...) A época do povo livre terminou.

Página 385

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