Resenha: Depois, de Stephen King

Tenho gostado cada vez mais de ler os trabalhos recentes de Stephen King. Com este aqui não foi diferente. O livro é curtinho, mas você não quer largar a jornada de James Conklin, uma criança incomum: ele vê gente morta. É um livro sarcástico, sombrio e com personagens que você ama odiar.

Parceria Momentum Saga e Editora Suma

O livro
A narração é feita por James que, logo no início, nos avisa que esta é uma história de terror. Ele mora em Nova York com sua mãe em algum momento do começo dos anos 2000. Sua história começa quando James ainda acreditava em Papai Noel, mas ele narra já adulto, revisitando seu passado para tentar entender o que lhe aconteceu. Seu olhar para sua vida é bem típica daquela que temos ao olhar para nossa versão criança e de como éramos inocentes, ao mesmo tempo em que temos saudades daqueles tempos onde tudo parecia menos complicado.

Resenha: Depois, de Stephen King

James voltava da escola um dia na companhia da mãe, uma agente literária famosa e atarefada que não sai do celular, tentando mostrar seu orgulhoso desenho. Quando entram no prédio, veem seu vizinho, o sr. Burkett, um adorável professor aposentado, parado no corredor. Ao lado dele está sua esposa, ainda de camisola. Mas, na verdade, ela acabara de morrer. Só James a vê dessa forma e até conversa com ela, que diz que seu desenho é uma bosta. Tadinho do James!

A mãe de James sabe dessa sua peculiaridade, ainda que não acredite muito. É aquele "acreditar não acreditando" que as crianças conhecem bem. Ela inclusive pede ao filho que não fique falando que vê gente morta por aí. Na verdade, ela espera que isso suma conforme ele crescer. A primeira vez que James viu uma pessoa morta - e não um fantasma, são coisas diferentes - ele passou mal e vomitou, mas meio que se resignou a respeito. Afinal, o que ele poderia fazer? Essa não era uma habilidade que ele poderia desligar. Ela apenas estava lá.

Quando o dedo errático do destino aponta para você, todas as estradas levam ao mesmo lugar.

Página 12

Stephen King é conhecido por seus pesados calhamaços onde trabalha com o desenvolvimento de seus personagens de maneira a esmiuçar todas as suas potencialidades. Mas Depois se vale de uma narrativa mais curta que também tem um desenvolvimento impressionante de personagens. King conseguiu em poucas páginas fazer crescer uma criança, depois adolescente e adulto de forma impressionante. James é a grande estrela, sem dúvida. Ele tem um bom relacionamento com a mãe, já que são só os dois contra o mundo, mas apesar de entender o comportamento dela mais para frente, quando uma crise se estabelece na pequena família dos dois, senti muita raiva dela. Como assim essa mãe fez isso com uma criança? Até onde os fins justificam os meios?

A coisa de fato complica quando a namorada de sua mãe, a policial Liz Dutton, descobre sobre essa capacidade incomum de James. Ver gente morta nunca foi algo útil para James. Podia ser chato às vezes. Mas na maioria das vezes, apenas era. Até que Liz pede sua ajuda para caçar um terrorista que prometeu um grande atentado. Ela o espera na saída da escola e o convida para dar um rolê, enquanto conta qual é o seu problema. A personagem de Liz, aliás, tem uma escalada alucinante para um livro tão curto. É impressionante a habilidade de King em manejar uma personagem dúbia como essa em tão poucas páginas, sendo que ele sempre escreveu tratados psicológicos.

Quer saber de uma coisa, a pior parte de crescer é como isso faz com que a gente cale a boca.

Página 99

É triste ver como as consequências da habilidade de James acabam atingindo-o ao longo da narrativa. Fiquei com tanta pena dele em vários momentos, afinal ele é uma criança com uma habilidade aterrorizante e praticamente não pode confiar nas pessoas que gostava. Até sua mãe, que busquei compreender ao longo da leitura, tem comportamentos que me emputeceram em vários momentos.

O livro é pequeno, não tem nem 200 páginas e li muito rápido, até porque você não consegue parar. A tradução ficou na mão de Regiane Winarski, que sempre faz um trabalho estupendo, principalmente com os livros do Rei. A revisão tem um problema ou outro, nada que atrapalhe de fato a leitura. Mas questiono porque a série de TV Person of Interest ficou Pessoa de Interesse, sendo que ninguém conhece a série pelo nome em português. Até o box do DVD aqui no Brasil vem em inglês. E outras coisas no livro permaneceram no original.

Obra e realidade
Uma coisa que me impressionou no livro é a coragem de James. Ele vê gente morta, o que por si só já é maluco demais. E ainda assim conseguiu manter a sanidade. Eu não sei o que faria se passasse por isso como ele. King não transforma uma criança em um mini adulto. James tem todas as reações que esperaríamos de um garotinho que se vê em uma situação extraordinária: ele primeiro vomita, chora e se sente mal pra caramba, mas depois se acostuma com aquilo, ainda que não entenda porque isso acontece com ele. E na esperança de agradar as pessoas ao seu redor, se mete em encrenca.

King trabalha temas importantes como relacionamentos abusivos, infância e adolescência, as mentiras que os adultos contam às crianças achando que elas não vão lembrar no futuro. Você pode até não ver gente morta (ao menos espero que não!), mas com certeza vai se identificar com James também.

Stephen King
Stephen King

Stephen King é um mestre do terror e do suspense. Eu era muito nova quando assisti Cemitério Maldito e dormi mal por dias!

PONTOS POSITIVOS
Bem escrito e traduzido
James
Gente morta
PONTOS NEGATIVOS
Acaba logo!
Violência

Título: Depois
Título original em inglês: Later
Autor: Stephen King
Tradutora: Regiane Winarski
Editora: Suma
Páginas: 192
Ano de lançamento: 2021
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Este é um livro para fãs do King e também para aqueles que querem começar a ler as obras do mestre, mas têm medo de pegar um calhamaço. É um livro curto, que voa na sua mão, mas que tem ótimos personagens, daqueles que a gente ama odiar, além de um enredo que te fisga desde o começo. Quatro aliens para Depois e uma forte indicação para você ler também!

MUITO BOM!

Até mais! ☠

Uma das piores coisas de ser criança, acho que a pior de todas, é como os adultos te ignoram quando começam com as merdas deles.

Página 45

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Comentários

  1. Ótima resenha, Sybylla! Tô com muita vontade de ler esse livro. Adoro livros narrados por crianças e acho que tem tudo pra eu gostar desse.

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