Resenha: Stonehenge, de Bernard Cornwell

Sou uma grande fã de romances históricos e como fazia muito tempo que eu não lia um, decidi revisitar um dos meus livros favoritos de Bernard Cornwell para a releitura de março. Stonehenge tem a vantagem de ser um livro único para quem não curte sagas muito longas do autor, que reconstrói a empreitada de um dos grandes monumentos da humanidade, um que intriga e maravilha as pessoas até hoje.

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O livro
Mais de 4 mil anos atrás, havia a tribo de Ratharryn. Seu líder teve três filhos: Lengar, Saban e Camaban. Saban é o mais novo e aquele que tem planos simples para sua vida, querendo apenas ter uma esposa, filhos e viver em paz. Camaban é o do meio, aleijado e gago, nasceu com a marca da Deusa, o que o poupou da morte certa. E Lengar, o mais velho, aquele que está destinado a ser o líder da tribo, é um guerreiro que só pensava em glórias e riquezas.

Resenha: Stonehenge, de Bernard Cornwell

Um dia, um estranho moribundo chega à tribo com uma grande riqueza. Tal evento vai desencadear uma série de acontecimentos que levará ao início da construção de um grande templo, uma construção que vai impactar na vida desses três irmãos de maneira definitiva. Enquanto Lengar é capaz de matar de qualquer coisa para assumir a liderança da tribo, Camaban se torna um pária, porém um grande feiticeiro e um temido visionário, que convencerá seu irmão Saban a embarcar em um projeto que construirá um imponente templo sobre uma colina.

É óbvio que não temos como saber o que de fato aconteceu para levar à construção do Stonehenge, mas achei a história de Cornwell muito convincente, muito realista e pé no chão. Enquanto ideias mirabolantes sobre o Stonehenge sugerem influência divina e até alienígena, o autor construiu um enredo sólido e bastante crível para a construção do monumento. As tribos envolvidas têm seus deuses e rituais e acreditavam em um propósito maior na obra que estavam erguendo, mas tudo faz sentido para o momento histórico que viviam.

Revele a alguém seus pensamentos, dissera uma vez, e estará lhe entregando sua alma.

As intrigas e disputadas entre as pessoas e entre tribos estão realistas, mortais, e o relacionamento dos irmãos está bem construído. Você ama odiar Lengar, pois ele é mesmo intragável. Cornwell descreveu de maneira excelente a forma como as pedras foram escolhidas e transportadas até o local da construção e você quase pode sentir a aspereza das rochas sob a palma da mão.

Não vou dizer que o começo é fácil. O livro é sim mais devagar que as outras obras do autor. Acredito que por ser um volume único o autor precisou trabalhar melhor os cenários, apresentar seus personagens e seus propósitos antes de entrar no enredo do Stonehenge propriamente dito. Mas os irmãos acabam superando essa lentidão, então dá para aguentar até a empreitada verdadeira começar. E que empreitada! Principalmente a engenharia empregada na construção, que condiz com o momento histórico em que viviam.

Me intriga muito o motivo para os fãs de Cornwell não curtirem esse livro, pois é uma baita história, uma grande construção de mundo, com excelentes personagens. Não sei o que exatamente as pessoas esperavam aqui. Talvez quisessem grandes batalhas sangrentas como as que vemos em As Crônicas Saxônicas e receberam um livro que fala, basicamente, de uma obra, de uma construção e da fé de um povo que levou a ela. Aqui o foco é no desenvolvimento dos personagens e seu envolvimento na grande obra da antiguidade que está de pé ainda hoje.

O autor não poupou certas cenas e discussões que são desconfortáveis. Existe violência e estupro no livro, mas que infelizmente cabem no contexto e no enredo. Deixo aqui o aviso de gatilho para quem não quiser passar por isso, mas também saliento que não são agressões gratuitas, elas fazem parte da discussão do autor a respeito dos papéis de homens e mulheres naquele mundo. Talvez até esteja um tanto desatualizado, já que há muitas discussões recentes sobre o machismo na reconstrução de papéis de gênero na pré-história.

O livro é bem robusto, em papel amarelinho confortáel de ler. A tradução é de Ivanir Calado e está ótima. Não encontrei problemas de revisão ou diagramação no livro.

Stonehenge

Obra e realidade
Muito ainda se especula sobre a construção do Stonehenge. Quem o construiu não deixou registros escritos. Sua função, como foi construído, tudo isso ainda é debate acalorado entre os especialistas. Mas é mais provável que ele fosse um templo a céu aberto, um local de peregrinação, um local de observação astronômica, quem sabe tudo junto. Mas mais importante do que a obra em si, são as pessoas que a ergueram.

O que Cornwell descreve no livro são pessoas de fé, crédulas, por vezes ignorantes (não tão diferentes de hoje em dia), mas doces e obstinadas. Elas existiam alinhadas com a natureza, os elementos, os ciclos climáticas e astronômicos, bem como as vontades dos deuses. Havia sentido no voo do cisne, no vento na árvore, nas tempestades. Era um povo inteligente, profundamente conectado com seu mundo. E acho que o grande mérito do livro é nos conectar com esse mundo pré-histórico de maneira que nenhum outro livro já fez.

Bernard Cornwell

Bernard Cornwell é um dos mais importantes escritores britânicos da atualidade. Já publicou mais de 40 livros e teve obras traduzidas para mais de 16 idiomas.

PONTOS POSITIVOS
Personagens bem construídos
Bem escrito
Os irmãos
PONTOS NEGATIVOS
Pode ser meio lento
Violência

Título: Stonehenge
Título original em inglês: Stonehenge
Autor: Bernard Cornwell
Tradutor: Ivanir Calado
Editora: Record
Páginas: 504
Ano de lançamento: 2008 (8ª edição)
Onde comprar: na Amazon!

Avaliação do MS?
Foi uma jornada incrível! Adorei retornar àquelas terras misteriosas e reencontrar personagens tão intrigantes, tão bem construídos. Não conseguia parar de virar as páginas, mesmo já tendo lido o livro antes. Sabn é um grande personagem e sua evolução ao longo da narrativa foi muito bem descrita. Se você curte romances históricos, não pode deixar essa leitura passar. Quatro aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!



Até mais!

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Comentários

  1. Pergunta: o que você acha dos livros da série Sharpe, do mesmo autor? Tendem a ser meus favoritos, mais do que as Crônicas Saxônicas.

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  2. Adorei a resenha que você fez sobre "Stonehenge". Parabéns! Não faltou nada. Estou lendo o livro, na metade mais ou menos. Realmente é fantástico.

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