A Capa é um quadrinho violento onde o personagem principal é, na melhor definição do termo, um Zé Ruela. Mas quando ele ganha superpoderes, ele se torna um homem mau, vil e vingativo e, obviamente, continua um Zé Ruela. Parece que ninguém vai conseguir pará-lo em sua sanha assasina. Muita violência e sangue permeiam as páginas de A Capa.
O quadrinho
A obra reune dois quadrinhos. No primeiro, conhecemos Eric, que teve problemas de auto-estima a vida inteira. Enquanto todo mundo acha seu rumo na vida, Eric se sente o pó da pulga do rato. Seu irmão é um médico bem-sucedido, sua namorada é uma enfermeira bem-sucedida e Eric é um zero à esquerda. Ele culpa a todos por sua babaquice, mas não percebe que ele próprio é o babaca e que poderia mudar se quisesse. Ele não quer.A rivalidade de Eric com seu irmão não é de hoje. Os dois brincavam um dia do lado de fora de casa quando Eric caiu da árvore e se machucou feio. Eles brincavam com uma capa que era lembrança do seu pai, morto enquanto servia no Vietnã. Eric dizia que a capa lhe conferia superpoderes. Mas depois do acidente, sua mãe sumiu com a tal da capa. Eric nunca mais foi o mesmo.
O livro Joe Hill Dark Collection v. 1: A Capa é a primeira parte da coletânea de histórias em quadrinhos inspiradas no universo de terror de Joe Hill. Este volume coleta duas minisséries completas deste mesmo universo, surgido em um conto do autor. São quadrinhos bem violentos, maldosos mesmo, pois Eric é perigoso e capaz de tudo quando bota a mão na capa que ele tanto gostava. A capa lhe confere super-poderes, mas isso não quer dizer que ele usará os tais poderes para o bem.
Na segunda história nós temos a origem da capa que vai parar nas mãos de Eric. Se passa no ano do título, 1969, com um soldado norte-americano em meio ao conflito no Vietnã e demonstra como os horrores da guerra geram necessidades jamais pensadas. Neste enredo nós temos a origem do poder da capa e de como ele corrompe. Mas enquanto aqui nós temos um soldado tentando voltar para casa e que acaba passando dos limites, na primeira história temos um homem de baixa auto-estima em busca de vingança daqueles que ele acredita serem os vilões, quando na verdade é ele mesmo.
Os quadros saltam das páginas e nenhum sangue foi poupado. Ele esguicha pelas páginas conforme as cenas violentas - até demais para o meu gosto - se repetem. As cenas de luta são gráficas, com muitos ferimentos em close. Para quem curte histórias com essa pegada, A Capa é um prato cheio, pois violência é o que não falta nas mais de 200 páginas que ele tem.
O clima sombrio da primeira história contrastada com as cores quentes da segunda e gostei bastante dessa mudança na paleta, pois você realmente se sente mudando de cenário e de lugar. Achei interessante centrar o enredo no vilão. Neste caso é um vilão que simplesmente poderia ter resolvido seus problemas pessoais na terapia, como o Batman, mas optou por perseguir aqueles que o amavam porque ele era um trouxa mesmo.
A edição da DarkSide está lindíssima, em capa dura e com uma capa protetora da edição. Papel encorpado brilhante com tendência a ficar com marcas de dedos no miolo. A tradução foi de Érico Assis e está ótima.
Ficção e realidade
A despeito de toda a violência, Eric é só um cara sozinho e complexado que nunca buscou terapia para seus problemas. Ao receber um poder praticamente absoluto, ele se corrompe facilmente e começa a cometer atrocidades, inclusive contra aqueles que o amavam. O que fica dúbio é se ele já era capaz de fazer tais coisas ou se foi o poder da capa que o corrompeu. As respostas acabam vindo no segundo quadrinho do volume, que conta a história da origem de tal poder. Essa discussão ficou bem feita pelos autores e você se pega pensando o que aconteceria com você caso estivesse nessa situação.Joe Hill é um escritor norte-americano, autor de terror. Filho do mestre do terror Stephen King, Hill tem uma carreira sólida baseada em sua própria escrita, reconhecida com os prêmios Bram Stoker e British Fantasy Awards.
Jason Ciaramella é um roteirista norte-americano de quadrinhos indicado ao prêmio Eisner, o mais importante da categoria nos Estados Unidos. A DarkSide® Books publicou o seu Fantástico Alfabeto Lovecraft pelo selo Caveirinha.
Zach Howard é desenhista de histórias em quadrinhos que já trabalhou em X-Men, Homem-Aranha e Batman, entre outros. Foi indicado ao prêmio Eisner. E Nelson Dániel é desenhista de histórias em quadrinhos do Chile. Já trabalho em Juiz Dredd e Tartarugas Ninja.
Pontos positivos
ColoridoTraços e quadros
Bem escrito
Pontos negativos
ViolênciaAvaliação do MS?
Um enredo macabro, assustador, mas lindamente desenhado, com quadros que saltam em nossos olhos e personagens bem escritos, por mais mala que possa ser Eric. Sou muito fã do trabalho de Joe Hill, mais até do que seu pai, e por isso estou ansiosa para o próximo volume. Quatro aliens para o quadrinho e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
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