Não é segredo pra ninguém que eu sou uma grande fã de Becky Chambers. Antes da DarkSide traduzir seus livros, eu tinha descoberto o primeiro e lido em inglês e implorado por uma versão em português, pois é apenas uma das melhores coisas que eu já li. E Becky conseguiu se superar a cada livro. O último da saga da Andarilha nos transporta para a Frota do Êxodo, aquela que levou a raça humana às estrelas.
O livro
A Frota do Êxodo é uma relíquia de uma era de esperança. Quando a situação na Terra se tornou insuportável, os humanos construíram uma frota de cidades espaciais capazes de levar a raça humana em uma jornada pelas estrelas em busca de um novo mundo, de melhores condições de vida, de algo que ainda não tinha nome. O espaço da Comunidade Galáctica possui várias cidades onde humanos vivem e trabalham, mas todos eles se originaram da Frota do Êxodo, tendo escolhido morar no chão, em planetas. Mas e a Frota? O que aconteceu com ela?Nos dois primeiros livros nós acompanhamos humanos, IAs e alienígenas em naves e planetas onde existem assentamentos humanos. Sempre ouvimos falar da Frota do Êxodo, mas não tínhamos uma visão de dentro. Em Registros Estelares, Becky nos leva para dentro de uma das naves residenciais, Astéria, que orbita um sol cedido por uma das raças alienígenas. A vida na Frota é bem diferente de nossa realidade, bem diferente da realidade de muitos humanos assentados em planetas e um mundo que, apesar de tudo, é otimista e unido.
Para situar no tempo, esse livro se passa a partir do final do primeiro livro, então vai ter um nome familiar para aqueles que leram, ainda que sejam todos livros bem independentes. Tal como nos anteriores, vamos acompanhar a vida de alguns personagens, com capítulos que se alternam entre eles: Tessa, uma atarefada mãe de duas crianças e que sempre viveu na Frota; Kip, um adolescente que não sabe o que quer da vida e vive arrumando encrenca; Sawyer, um jovem assentado que se muda para a Frota em busca de novas oportunidades; Isabel, uma senhora que trabalhou a vida inteira guardando os registros de Astéria e de toda a Frota e; Eyas, uma cuidadora, responsável pela compostagem dos cadáveres humanos na nave.
Desde o início
nós vagamos
e vagamos até hoje
Mas apesar da longa jornada
Não estamos perdidos
Voamos com bravura
e determinação sem fim
Becky conseguiu criar três livros brilhantes repetindo a mesma fórmula - acompanhando personagens cativantes e bem construídos - e ainda assim conseguindo um trabalho genial e original em cada um. Quando você pensa que a fórmula se esgotou, Becky te surpreende novamente. Com este aqui não foi diferente. Você começa a ler não pelo enredo, mas pelos personagens que são tão bem construídos que você se afeiçoa a eles, até quando fazem cagadas, como o Kip. São humanos, brutalmente humanos, com todos os defeitos e virtudes que nossa espécie carrega.
A vida na Frota é muito diferente da vida nos planetas, diferente do nosso mundo, pois a raça humana se uniu para sobreviver a uma grande crise e prosperou no espaço mesmo com todas as dificuldades. Para muitas gerações de seres humanos, a frota e as naves residenciais foram o único lar que jamais conheceram. Tanto que alguns deles, ao visitar um planeta, ficavam desorientados e confusos com um céu sobre suas cabeças e um horizonte a perder de vista. Como poderia ser diferente, viveno uma vida toda numa nave?
Tudo na Frota se aproveita, então vários conceitos atuais como museus ou cemitérios são estranhos para os moradores das naves. Os corpos humanso são compostados, uma alternativa ecológica e que serve para sustentar as plantações e os jardins de oxigênio da nave. E há um imenso respeito e admiração por todas as pessoas envolvidas no processo, já que os seres humanos que morreram viverão para sempre no ar e na comida. É um conceito filosófico e ecológico brilhante se você parar pra pensar.
Cada personagem está envolvido em uma luta pessoal, em um dilema, uma situação e conforme os acompanhamos, vamos conhecendo melhor Astéria e seus modos de vida coletivos, onde não existe dinheiro, tudo é trocado. O conceito de propriedade privada também não existe, tudo pertence a todos e não deve haver desperdícios ou roubos. Tanto que quando um evento terrível ocorre com uma das naves residenciais - tragédia que abre o enredo - começa uma corrida para se reaproveitar tudo o que pudesse existir de útil por lá.
O livro voa na mão e até segurei um pouco a leitura para não acabar tão cedo, porque é um universo tão gostoso de estar, que você quer virar um membro da Frota do Êxodo. A tradução de Flora Pinheiro, que traduziu os livros anteriores, está ótima e não encontrei problemas de revisão ou diagramação. A capa é dura e com os brilhinhos cintilantes que gostamos tanto, além do fitilho para marcar as páginas.
Talvez nenhum de nós possa realmente explicar a morte. Talvez nenhum de nós deva.
Página 112
Obra e realidade
Não que os outros livros não sejam, mas senti que este aqui é o mais humano dos três. Acho que por ser focado na Frota e em seus moradores e em como eles prosperam mesmo com todas as adversidades, o foco de Becky aqui foi de mostrar como isso tudo aconteceu e como a raça humana pode mudar quando quer e precisa. As discussões aqui são muito humanas e cotidianas: a criação dos filhos, a preocupação em arranjar emprego e um lugar para morar, a construção de uma identidade, a busca pelo melhor. Não tem grandes guerras intergalácticas, tem os problemas cotidianos de uma família que, por acaso, mora em uma nave e tudo soa diferente por causa disso. Foi bastante gostoso estar em uma ficção científica sem a matança e as guerras interestelares.Becky Chambers é uma premiada escritora norte-americana de ficção científica.
PONTOS POSITIVOS
Frota do Êxodo
Diversidade e representatividade
Bem escrito e descrito
PONTOS NEGATIVOS
Erros de revisão
Acaba rápido!
Frota do Êxodo
Diversidade e representatividade
Bem escrito e descrito
PONTOS NEGATIVOS
Erros de revisão
Acaba rápido!
Avaliação do MS?
Nem preciso dizer que você DEVE, você TEM que ler este e os livros anteriores. Deliciosamente bem escrito, bem-humorado, emocionante, é aquele livro para a vida, para se emocionar ao chegar no final, para ficar com o coração quentinho. Já estou me programando para poder reler e voltar a caminhar pelos corredores de Astéria. Assim que ler, volte aqui e me conte o que achou. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!Até mais!
Já estava ansiosa para ler o terceiro volume. Depois dessa resenha, então, nem se fala. Se a Becky escrever 50 livros para essa série, vou ler todos os 50.
ResponderExcluirAbraço!
Ainda não li este e já estou ansioso pelo próximo livro. Agradeço imensamente a lady sybylla pois foi aqui que descobri e me apaixonei pelos livros da Becky Chambers.
ResponderExcluirLi esse terceiro em ingles. Não aguentei esperar. Muito feliz que já chegou por aqui em português. Uma escritora que deve ser lida e admirada.
ResponderExcluirMantenho aqui minha habitual dica para a Darkside, já que esse blog tem parceria com eles: coloque seus livros no kindle ou outros formatos de e-book oficiais!
ResponderExcluir=\
Thom, a DarkSide coloca seus livros em formato ebook algum tempo depois do lançamento. É só ficar de olho nas lojas online. 👍🏼
ExcluirObrigado!!!
ExcluirEu chorei tanto lendo esse livro e chorei de novo lendo sua resenha. Eu conheci esses livros por um tweet seu anos atrás mas só fui ler esse ano e eu sou completamente apaixonada pelas jornadas que ela cria. Ainda bem que o momentum saga existe para bater palmas para livros incríveis como esse.
ResponderExcluirAinda acho o primeiro livro o melhor deles, pelo fato de ter uma jornada em si e etc, mas nesse chorei muito mais que nos 2 primeiros, é muito tocante e os dilemas dos personagens me bateram fundo.. enfim, baita livro mesmo! (Eu achei a revisão bem meia boca, encontrei diversos erros de digitação).
ResponderExcluirEstou no meio desse livro e gostando tanto que já comprei o 4o na pré venda :)
ResponderExcluir