Como você lê?

Fiz essa pergunta para você por um motivo bem simples: no Twitter, outro dia, eu comentei que adoro quando um livro vem com apresentação e extras. Quando um livro novo chega, eu o abro e verifico os créditos, quem traduziu, quem revisou, quem preparou, quem fez a capa, quem diagramou, a arte de quem foi usada, de quando o livro é, leio a apresentação, introdução ou prefácio com bastante calma e atenção. No final, eu verifico se tem informações da tipografia utilizada, o tipo de papel, até a gráfica onde foi impresso. E para finalizar, se o livro for físico, ainda dou aquela cheiradinha na brochura.

Como você lê?

E aí você pergunta: por que fazer isso tudo? Algumas pessoas nas respostas ao tuíte disseram que começaram a fazer isso de uns tempos pra cá, outras disseram que não curtem muito e pulam logo para o texto. Vou dizer que já fiz muito isso. Eu pegava um livro e pulava o prefácio, a introdução ou a apresentação e começava logo a leitura. Não queria perder tempo com blá blá blá. O que é um contrassenso, o livro em si é um monte de blá blá blá.

Mas um livro não é apenas o enredo que ele apresenta. Acho os livros uma das coisas mais incríveis já criadas pela humanidade. Pense a respeito: através das palavras você entra na mente de outra pessoa. E às vezes essa pessoa está morta há centenas de anos. Mas através da escrita você é capaz de entrar nessa realidade alternativa em que entra em contato com a imaginação de outro ser humano, de uma pessoa que viveu uma vida e uma época completamente diferente da sua.

Especialmente em livros clássicos eu adoro quando há uma apresentação dos editores ou quando chamam algum especialista no autor ou na área onde o livro se encaixa, pois é como se o editor sentasse com você para tomar um café e de apresentasse uma nova obra. Editoras como a DarkSide, a Wish e a Antofágica sempre fazem isso em livros clássicos e a apresentação e as discussões trazidas nesse texto sempre são muito pertinentes para entendermos o contexto daquele livro e de como ele foi redigido.

Edições clássicas como as de Franknstein, O Médico e o Monstro, A Metamorfose, podem causar um certo medo nas pessoas. O status de clássico de um livro assusta, principalmente a galera que ficou traumatizada de ter que encarar obras clássicas da literatura na escola ou no vestibular. Criou-se um imaginário de que o livro clássico é coisa de gente erudita. Mas acho que a apresentação e a introdução dos editores ou de convidados pode desfazer esse mito muito comum. Ao apresentar a importância do livro, sua confecção, o contexto em que ele surgiu, o leitor pode se sentir mais confortável em encarar a leitura.

Dois exemplos que funcionaram perfeitamente bem para mim foram Drácula, lançado pela DarkSide, e A Metamorfose, que saiu pela Antofágica. As introduções de tais livros e os extras com análises de especialistas, dos tradutores, foram essenciais para que eu compreendesse a obra e depois caísse na leitura. Texto dos tradutores acho sempre uma delícia de acompanhar, pois eles sempre informam sobre as peculiaridades da tradução, o que esperar, o que foi adaptado para o nosso idioma.

Admito, eram dois livros que me intimidavam! Quando eles chegaram, me peguei imaginando se conseguiria embarcar na leitura. Mas assim que abri os livros e mergulhei nos textos de apresentação, percebi que minha aversão era infundada. É óbvio que são obras de um outro tempo e que terão seus problemas de assimilação quando comparadas ao momento presente, mas enquanto leitores temos que saber abstrair a informação da maneira correta e aproveitar a mensagem do livro. Ele virou um clássico por alguma razão.

Acredito também que mergulhar nos extras e nos textos introdutórios da obra seja uma forma de respeitar o trabalho de todas aquelas pessoas envolvidas na produção de um livro. Nunca é apenas o autor. Temos o autor, muitas vezes um tradutor, revisor, editor, ilustrador, capista, diagramador e o trabalho da gráfica. Essa longa cadeia representa centenas de horas de trabalho até o livro estar impresso na nossa mão ou em um arquivo digital em nossos dispositivos.

Então, se você for começar um livro novo, não deixe os textos introdutórios e os extras de fora da leitura. Eles sempre terão informações preciosas para que você aproveite melhor a experiência com aquele livro.

Boas leituras! 📖

Já que você chegou aqui...

Comentários

  1. Acho que trilhei um caminha um pouco parecido: sempre saltava prefácio e tudo que estivesse antes do texto principal. Com o tempo entendi e concordei que as informações presentes fora do texto principal estão ali para ajudar nós leitores. Hoje saboreio um livro aos poucos: gosto de ler as orelhas e tudo mais; aproveito o prefácio e tento fazer uma leitura tranquila do mesmo pra me ambientar com o universo/contexto do texto principal. Outra coisa que acho super interessante são as notas de tradução: como nem sempre os livros foram escritos em nosso idioma, acho lindo o trabalho do tradutor tentar explicar uma ou outra expressão para que fique bem contextualizada.

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  2. Eu comecei a enxergar isso recentemente, ao consumir vídeos e posts em que os produtores de conteúdo mencionam esses detalhes e também ao seguir uma editora (a profissional, não a empresa) no Instagram. Só aí começou a cair a minha ficha de quantos profissionais acabam sendo invisibilizados pelo grande público.

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