Resenha: O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell

Tive o prazer de poder ler este livro antes do lançamento oficial e devo dizer que ele mudou minha visão sobre romances vitorianos. Admito que por muito tempo eu não entendi o que esse período tinha de tão interessante, com tantas mulheres submissas e sem voz. Mas este livro me mostrou que o período tem sim seu apelo e que é um grande cenário, em especial para histórias de suspense e horror.

Parceria Momentum Saga e editora DarkSide

O livro
Nossa jornada sombria começa por um quarto dentro de um manicômio, em 1860. Dr. Shepherd precisa convencer uma de suas pacientes a contar sua história e, quem sabe assim, conseguir tratá-la de seus distúrbios. Cansada, desnorteada e drogada, a mulher parece não conseguir reagir ao mundo ao seu redor. Sentindo que estava segura, de alguma maneira, naquele manicômio e nas mãos do médico, Elsie decide contar sua história.

Resenha: O Silêncio da Casa Fria, de Laura Purcell

Elsie casou-se bem, um dos objetivos de muitas mulheres da época. O jovem herdeiro Rupert Bainbridge era um bom partido, porém ele morre poucas semanas depois do casamento, sem ter sofrido qualquer acidente ou ter alguma doença e, obviamente, as suspeitas acabam recaindo sobre jovem viúva. Temendo as represálias e querendo que as pessoas esquecessem do ocorrido, Elsie vai para a Ponte, uma mansão que pertencia à família Bainbridge, lugar para onde Rupert tinha partido na frente para preparar a casa e estava vazia desde então.

Mesmo dispondo de dinheiro para manter a casa, Elsie não consegue contratar empregados para a mansão. O lugar é rodeado de temor e superstições, histórias sombrias que passam de boca em boca pela vila próxima. Quando chegam à mansão, Elsie, entediada, decide explorar o lugar com a prima de seu marido, Sarah e ambas descobrem um sótão que estava trancado e para o qual nenhuma chave serve. Admito que chegar nessa parte já te deixa pensando na veracidade das declarações de Elsie no manicômio.

E a própria forma como a porta do sótão se abre já é para deixar algumas pessoas assustadas. Temendo o que pudessem encontrar, Elsie e Sarah encontram relíquias dos antigos moradores da casa, entre eles um diário de 1633, escrito por Anne Bainbridge, que foi queimada como bruxa. Anne relatava nas páginas a vida em família, o cotidiano das crianças e uma menção aos companheiros silenciosos, que também estão no sótão.

Quando busquei mais informações sobre esses companheiros silenciosos, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: que ideia de jerico! Os companheiros são réplicas feitas em madeira de pessoas em várias poses e funções. Podem ser crianças, uma dama, um lorde, eram de vários tamanhos e formas. E vamos concordar que são pavorosos? Eu não conseguiria dormir tranquila sabendo que tem um painel de madeira horroroso me olhando do outro lado do quarto.

Mas por incrível que pareça, os vitorianos adoravam essas coisas! Menos Elsie, que logo começa a perceber que estranhos eventos ocorrem na casa, todos eles na presença de uma dessas coisas pavorosas que são capazes de surgir nos cômodos sem que ninguém as carregue. Barulho de madeira se arrastando, farpas, e conforme lemos o diário de Anne e acompanhamos os acontecimentos da mansão, as coisas começam a se encaixar. Parece que não vão, mas a escrita de Laura encaixa tudo com bastante perfeição.

O clima vitoriano sombrio se intensifica e se torna quase que sufocante conforme avançamos na leitura. Você não quer parar, mas ao mesmo tempo não quer continuar porque pode dar de cara com uma daquelas coisas de madeira espreitando de algum canto da sala. É esse o clima que você encontra nas páginas e a narrativa ágil de Laura torna tudo ainda mais saboroso, porque você não consegue simplesmente parar de ler.

A morte, uma vez concebida, era voraz. Tomava tudo para si.

Página 261

Quem teme os romances vitorianos por conta da linguagem mais rebuscada não vai ter dificuldades com este aqui. Ele está bem escrito, traduzido por Camila Fernandes e bem revisado. Livro em capa dura, com fitilho marca-páginas e um lindo trabalho gráfico no miolo.

Obra e realidade
Foi muito fácil me afeiçoar às personagens, até Sarah aquela chata, pois a descrição dada pela autora é tão bem feita, que você simpatiza rápido com elas. São mulheres presas aos papéis tradicionais de gênero da época, mas que se tornaram protagonistas de suas próprias histórias. Este também é um enredo em que alguém vem com uma ideia genial de assistir a uma fita VHS misteriosa ou abrir uma porta que não deve quando não devia fazer isso, sabe? O Silêncio da Casa Fria é esse tipo de história, onde as coisas teriam ficado mais ou menos na mesma se ninguém tivesse aberto a maldita porta do porão. Mas abriram e deu no que deu, né?

Laura Purcell

Laura Purcell é uma escritora britânica. Ela mora em Colchester com o marido e com seus porquinhos da índia.

PONTOS POSITIVOS
Elsie
Dá medinho!
Bem escrito
PONTOS NEGATIVOS

Violência


Título: O Silêncio da Casa Fria
Título original em inglês: The Silent Companions
Autora: Laura Purcell
Tradutora: Camila Fernandes
Editora: DarkSide (selo DarkLove)
Ano: 2020
Páginas: 480
Onde comprar: na Amazon ou na loja da DarkSide com brinde exclusivo!

Avaliação do MS?
Fãs de romances vitorianos, de clima gótico e bizarrices vai curtir muito O Silêncio da Casa Fria, mas já aviso: não leia de noite! Capaz que você sonhe com esses companheiros silenciosos macabros te seguindo pela casa. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!


Até mais! ☠

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Comentários

  1. Quando você diz que um ponto negativo é a violência, se refere a falta ou ao excesso?

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    Respostas
    1. Significa que ela está presente no livro e pode incomodar os mais sensíveis.

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    2. Legal. Comecei a ler hoje. De noite😊

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