Pense em um livro que vale para qualquer pessoa? Não apenas criativos em geral, mas para toda e qualquer pessoa? Como o cérebro cria é este livro! Os autores resgatam a história da criatividade, como ela nos tornou uma espécie imaginativa e como as artes são uma fonte inesgotável de inovação essencial para o futuro.
O livro
O que a missão da Apollo 13 tem a ver com Picasso? São com perguntas provocativas como essa que os autores começam uma conversa informativa e divertida com quem está lendo. Pense sobre a missão da Apollo 13 e como os engenheiros da missão precisaram tirar soluções criativas para manterem vivos os astronautas à deriva no espaço? Quem lembra do filme lembra da cena em que os engenheiros precisam encaixar equipamentos de formas diferentes para que reciclem o ar à bordo tendo como materiais apenas o que havia nas naves. Isso é um exercício supremo de criatividade.
(...) a inventividade normalmente roda em segundo plano, fora da consciência imediata.
Página 15
Nunca existiu uma cultura no mundo, extinta ou não, que não tivesse música, artes visuais e narrativas (em geral orais). E quanto mais complexa as sociedades ficam, mais carentes de inovação elas se tornam. A velocidade com que as coisas estão surgindo e se tornando obsoletas hoje em dia indica a pressão pela inovação e pela criatividade ao que as pessoas e empresas estão submetidas. E ambas não surgem do nada, soprada pelos deuses em nossos ouvidos. Elas precisam de antecedentes, de uma bagagem e precisam de um cérebro inquieto e repleto de conexões cerebrais como o nosso.
A criatividade mexe com o cérebro inteiro porque trabalha com áreas como a memória. Se olharmos os grandes mestres da pintura, vemos como eles se valeram de lições de antigos mestres para compor suas próprias artes. Picasso, por exemplo, disse que Cezanné era seu primeiro e único mestre. Henry Ford revolucionou a indústria automobilística, mas ele mesmo disse que não inventou nada, apenas montou um carro usando as descobertas de outras pessoas.
A arte é um esforço comunitário, tal como a ciência. Muitos artistas, incluindo os escritores, se batem com a noção de que precisam criar algo inédito, mas isso não existe. Você não tem como criar algo do nada, pois as coisas não surgem do nada. Você precisa aprender a ser autêntico, a utilizar a bagagem cultural que recebeu e dali criar algo. E como se faz isso? Nosso cérebro se vale de três técnicas:
- entortar
- quebrar
- mesclar
Nosso cérebro está sempre executando variações sobre um tema. É por isso que se você pegar representações de um cavalo em diferentes culturas sempre terá uma representação diferente, uma estátua diferente, uma pintura diferente. E isso parece ser algo restrito à arte, mas o ato de entortar, quebrar e mesclar são processos básicos em qualquer área humana, inclusive na tecnologia e na inovação. Se você pegar um smartphone ele é fruto de pesquisas de diferentes áreas, com inovações que em suas épocas não pegaram, como o tocador de mp3, mas que acabaram encontrando seu espaço décadas depois.
Muitas pessoas entendem a arte como algo que está restrito aos museus, distante do público, algo que não tem valor no dia a dia das pessoas. Mas a arte está à toda nossa volta. Por exemplo, não existe uma única maneira de se fazer um guarda-chuva, existem múltiplos modelos. O departamento de patentes dos Estados Unidos possui quatro analistas apenas para avaliar novos guarda-chuvas lá depositados todos os anos. Imagine o que seria da nossa vida sem a melhoria constante das inovações? Usaríamos computadores a válvula até hoje. Talvez ainda vivêssemos nas cavernas.
O livro é curto, com 304 páginas, mas tem imagens coloridas no miolo e muitos exemplos usados pelos autores para pontuar suas explanações. A leitura foi muito tranquila e meu livro está todo rabiscado e grifado, com post its e exclamações de tanto que eu concordei com ele. Indico o livro para todas as pessoas criativas, independente da área em que trabalhe. E principalmente para professores de educação artística, pois será útil! A tradução foi de Donaldson M. Garschagen e Renata Guerra e está perfeita. Não encontrei problemas de tradução ou de revisão nele.
Ficção e realidade
Os autores reforçam a necessidade de os jovens nas escolas tenham liberdade de criar. A escola é alvo constante de ataques de desinformados, que acreditam que uma disciplina é melhor do que a outra e que aulas de artes, filosofia, sociologia, são "inúteis". Pois os autores comentam no livro como que algumas escolas norte-americanas salvaram o ano escolar e seus alunos pelo poder de projetos artísticos e como mentes inventivas precisam das artes.Marginalizar as pessoas por gênero, por cor, por sexualidade, por etnia, por renda, é desperdiçar um imenso potencial criativo de onde poderá vir o carro do amanhã, um novo motor estelar, a cura do câncer, uma vacina para o Covid-19. Ao segregar as pessoas e dar-lhes apenas o básico ou menos que isso, seu potencial nunca será desenvolvido e suas ideias nunca serão conhecidas. E é por isso que governos autoritários reprimem tanto as artes, pois a arte molda constantemente as possibilidades e ilumina caminhos antes não vistos.

David Eagleman é neurocientista e professor adjunto da Universidade Stanford, além de escritor e palestrante. Anthony Brandt é músico, compositor e professor de composição e teoria musical da Faculdade Shepherd de Música, Texas.
Cada aspecto da mentalidade criativa pode ser ensinado por meio das artes - elas são um campo de treinamento em entortar, quebrar e mesclar.
Página 245
Pontos positivos
Imagens coloridas no mioloExcelente pesquisa
Bem escrito
Pontos negativos
Acaba rápido!
Preço
Avaliação do MS?
Que livro! Queria abraçar esses autores e agradecer por ele. Todo mundo devia ler e ter acesso às artes, a ter condições de desenvolver seu potencial criativo. Estamos perdendo inovações pelos simples ato de segregar e excluir as pessoas, podando sua criatividade e imaginação. Espero que você curta tanto quanto eu. Cinco aliens para o livro e uma forte recomendação para você ler também!
Até mais!
Não há inovação que surja do nada. O que existe é prospecção, mineração, refino e ourivesaria para criar algo que valha mais do que ouro.
Página 46
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